A Argentina é exemplar para mostrar como o sucesso esportivo de uma nação está intimamente ligado à política e à economia. Isso fica ainda mais evidente quando comparamos em progresso o desempenho argentino em comparação com o Brasil. Os platinos dispararam em medalhas entre as décadas de 20 e 50, quando eram prósperos, deixando os brasileiros ultrapassarem quando a economia local engrenou.
Na primeira metade do século passado, Buenos Aires estava em crescimento graças às exportações de carne, que patrocinava a industrialização interna. Reflexo disso, entre as Olimpíadas da Paris-1924 e Helsinque-1952, o país conquistou 36 medalhas. Como parâmetro, seu principal oponente no continente, o Brasil, ganhou apenas sete nesse período. Um período especialmente frutífero foi o governo de Juan Domingo Perón (1946-55), quando foi bem em Londres-1948 (13ª posição e três ouros), sediou a primeira edição dos Jogos Pan-Americanos, em 1951, e concorreu para abrigar as Olimpíadas de 1956 (Buenos Aires perdeu para a australiana Melbourne por um voto).
Esportista na época de quartel (praticou boxe, esgrima e hipismo), Perón usou o expediente de tentar distrair a população com eventos e feitos esportivos de seus conterrâneos em época de turbulência política. Isso, porém, teve efeito efêmero, e ele acabou deposto em 1955. Pela ligação peronista com o esporte, seus opositores no poder esvaziaram o movimento olímpico dentro do país. Resultado: um jejum de ouros olímpicos de 52 anos.
A contínua decadência econômica e a sucessão de ditaduras repressoras e frágeis períodos democráticos pioraram ainda mais o cenário esportivo. Entre 1956 e 1976, em seis Jogos Olímpicos disputados, apenas oito medalhas foram conquistadas, nenhuma de ouro. A partir de 1976, a ditadura foi tão severa que promoveu o massacre de opositores que ficou conhecida como Guerra Suja. Esses mesmos dirigentes militares apoiaram o boicote norte-americano a Moscou-1980 e se aventuraram em um guerra contra os britânicos pelas ilhas Malvinas (Falklands) em 1982.
A partir de 1983, o país entra em um momento democrático, mas os problemas econômicos continuam como a incrível taxa de 5.000% de inflação e os planos ortodoxos. Esportivamente, a conseqüência de tantos anos em crise foi assistir ao Brasil passar-lhe no número de medalhas: 54 a 50, depois das Olimpíadas de Atlanta-1996, porém, ainda na frente no quadro histórico, com um ouro a mais.
Em Atenas-2004, finalmente, o Brasil ultrapassou o vizinho no quadro. Mas esses Jogos marcam também a volta do país depois de mais de cinco décadas ao lugar mais alto do pódio: no mesmo dia o basquete de Ginóbili e o futebol de Tevez acabaram com o jejum. Mas, com cinco ouros na Grécia, os brasileiros passaram à frente.
Nas Olimpíadas de Pequim, os mesmos esportes que salvaram o desempenho do país em Atenas, voltaram a brilhar. O basquete de Ginóbili, atleta que foi vetado na última partida por uma contusão no tornozelo esquerdo, ficou com a medalha de bronze. Lesionado logo no início da partida, o astro do basquete foi obrigado assitir do banco de reservas seu time se despedir do bicampeonato olímpico ao perder da forte equipe dos Estados Unidos na semifinal.
Já o futebol, além de ter feito uma campanha excepcional, assim como em Atenas, pode ser considerado como a maior conquista dos argentinos, que conquistaram seis medalhas em Pequim. A Argentina foi a algoz, quando fez o inédito ouro olímpico do Brasil no futebol ser adiado mais uma vez. A seleção de Riquelme, Mascherano, Messi e companhia venceu com certa facilidade o Brasil por 3 a 0 na semifinal. O baixinho e veloz atacante Sergio Aguero anotou dois gols, enquanto Juan Roman Riquelme completou o triunfo em cobrança de pênalti.
Depois de passar pelo Brasil, os vizinhos brasileiros selaram o bicampeonato com uma vitória por 1 a 0 sobre a Nigéria, dando o troco sobre os africanos que levaram o ouro com gol de Di Maria no segundo tempo, nos Jogos de Atlanta-96. Apesar de perder para o nosso maior rival, o Brasil ainda pode se vangloriar, pois se encontra uma posição acima dos argentinos no quadro geral de medalhas. O Brasil está em 38º lugar, enquanto os argentinos estão em 39º, com 17 ouros, dois a menos na história.
Ele deixou a Argentina ainda criança, criou-se no Barcelona, mas nunca se furtou de defender o país. Foi fundamental na conquista do ouro olímpico
Ícone da política, Perón foi convocado para a esgrima em Paris-1924, mas foi impedido de viajar pelo ministro da guerra da época.
* Dados: The World Factbook - CIA
** Dados extraídos da avaliação do Pnud-2007