Foi em 2001 que a China marcou o posto de grande potência esportiva e deu mais um passo para se firmar no cenário mundial como novo expoente econômico. O Comitê Olímpico Internacional anunciou o país como sede das Olimpíadas de 2008 em um processo que consolidou a política chinesa de investimentos no esporte.
Essa conquista no século 21 tem suas origens nos acontecimentos políticos e sociais nos 100 anos anteriores na China. Mesmo com participações anteriores à revolução comunista de 1949 e algumas após nos Jogos, o país viveu um período de isolamento no esporte até a volta em Los Angeles-1984.
De lá para cá, o número de medalhas não pára de aumentar. O país conquistou 15 medalhas douradas em 1984, mas pulou para 32 só nos Jogos de Atenas-2004, o que garantiu o segundo posto no quadro geral. As apostas eram que nesta edição os chineses deveriam, fatalmente, passar à frente dos norte-americanos no número de medalhas de ouro, o que os colocaria como líderes no quadro de medalhas. Sem surpresas, foi exatamente o que aconteceu.
A China fechou os Jogos com 51 medalhas de ouro, 21 de prata e 28 de bronze, num total redondo de 100 medalhas. A imprensa norte-americana anunciava a vitória dos EUA no quadro geral de medalhas, alegando que o país obteve 110 pódios no total, mas ignorando o fato de que destes, apenas 36 foram ouro, critério usado universalmente para montar o ranking de países.
Esta foi a quarta vez que um país ganhou mais de 50 medalhas de ouro numa única edição dos Jogos. EUA, Reino Unido e a extinta União Soviética conseguiram o feito anteriormente.
Não por coincidência, foi a partir das relações com os EUA em meados da década de 1970 que os chineses colocaram foco na abertura do seu mercado e os investimentos no esporte, até como forma de propaganda estatal, começaram a surgir.
Foi com a ascensão de Deng Xiaoping e a morte de Mao Tsé-Tung que a aproximação dos EUA ocorreu, e a China começou a receber investimentos do exterior, virou um país que mais cresceu nas últimas três décadas (cerca de 10% ao ano) e galpão fabril do mundo. A economia refletia no esporte com resultados internacionais.
Bem diferente do solitário atleta chinês que disputou os Jogos de 1932, em Los Angeles, ou os poucos que estiveram em Berlim-1936 e Londres-1948. Nos Jogos seguintes, fatos marcaram os chineses nas Olimpíadas. Em 1952, em Helsinque, a delegação foi impedida de entrar no país. Oito anos depois, em Roma, a delegação de Taiwan, dissidente capitalista do país, abrigou os atletas chineses, que entraram com uma faixa em inglês: "Under Protest" ("Sob protesto").
Mais tarde, Taiwan seria uma fonte de inspiração para outro setor dos chineses: o mercado pirata. A China continental, com seu "socialismo de mercado" (economia aberta e política fechada), abriu as portas para exportação com cópias de produtos conhecidos do mundo ocidental.
A imitação veio também nos esportes. Além do já conhecido bom desempenho no tênis de mesa, esporte que os chineses detêm o domínio mundial, foi a partir da década de 1990 e do começo do século 21, que os orientais chegaram com força nas modalidades que antes tinham pouca relevância.
Quem diria que um chinês faria sucesso nas quadras da liga norte-americana profissional ou que um chinês virasse recordista de uma prova de velocidade no atletismo há 40 anos. Yao Ming, pivô do Houston Rockets e astro da seleção masculina de basquete nacional, e Liu Xiang, medalhista de ouro nos 110 m com barreiras em Atenas, tornaram-se o marco da transformação.
Em Pequim, estes dois nomes tiveram conclusões tristes para os chineses. Yao Ming, comandante da equipe de basquete, foi anulado no jogo contra a Lituânia nas quartas-de-final e a China acabou eliminada da competição. Já Liu Xiang nem chegou a participar dos Jogos. Uma lesão no calcanhar direito o fez desistir nas eliminatórias dos 110 m com barreiras, quando saiu mancando do estádio, uma das cenas mais melancólicas desta Olimpíada.
A potência esportiva chinesa se baseia em esportes com tradição por lá, como o próprio tênis de mesa, ginástica artística, badminton e saltos ornamentais. Mas o país-sede tinha algumas cartas na manga.
Com uma trupe de 40 técnicos estrangeiros contratados para realizar a façanha de ver a China no topo do quadro de medalhas, o país conseguiu pódios em esportes sem nenhuma tradição, como o vôlei de praia, a ginástica rítmica e a vela.
No tiro com arco, a chinesa Juan Juan Zhang desbancou a sul-coreana Sung-Hyun Park por um ponto, num vacilo da favorita, medalhista de ouro em Atenas-2004. Outra grande surpresa foi o ouro no skiff quádruplo, no remo. As chinesas venceram as campeãs britânicas e ficaram com o ouro.
Ele venceu Hao Wang, líder mundial do tênis de mesa, e ficou com o ouro na modalidade mais tradicional de seu país.
Em 1971, atletas dos EUA foram à China com oficiais do governo para relações por meio do esporte. O fato foi retratado no filme Forrest Gump (f)
* Dados: The World Factbook - CIA
** Dados extraídos da avaliação do Pnud-2007