Sérvia

Isolada após conflitos, Sérvia tenta a salvação no tênis revelação

Região de conflitos durante todo o século 20, a Sérvia é um dos novos países a integrar o quadro de participantes dos Jogos Olímpicos de 2008, retornando com o nome depois de 96 anos. A tarefa é manter um desempenho destacado que tinha ainda como Sérvia e Montenegro e, anteriormente, quando ainda era chamada de Iugoslávia.

A volta ao nome usado antes das grandes guerras teve motivo com o fim do bloco socialista dominado pela União Soviética durante a Guerra Fria e as Guerras dos Bálcãs na década de 1990. Com a dissolução da Iugoslávia, que viu a separação de Croácia, Eslovênia, Bósnia-Herzegovina e Macedônia, os sérvios tentaram manter a unidade, mas sem sucesso.

Como última conquista, já depois da década de 1990, os iugoslavos, com maioria sérvia em quadra, conquistaram a medalha de ouro no torneio masculino do vôlei nos Jogos de Sydney-2000. Depois, como Sérvia e Montenegro, o país manteve o grande poder internacional no esporte, apesar de não ter conseguido medalha em Atenas-2004. Em outros, teve duas pratas.

Com a total independência da Sérvia com Montenegro em 2006, os sérvios perderam força na modalidade. Mas não tardaram a achar uma nova paixão nacional, principalmente por três jogadores: Novak Djokovic, Ana Ivanovic e Jelena Jankovic. O trio do tênis levou o país ao topo do esporte novamente.

As duas mulheres chegaram a Pequim como líder e vice-líder do ranking feminino, e Djokovic, campeão do Aberto da Austrália de 2008, é uma esperança para que a Sérvia lidere o tênis masculino num futuro próximo.

Vindos de duas medalhas como Sérvia e Montenegro em Atenas, com as pratas do pólo aquático masculino e do tiro feminino, os tenistas foram a nova esperança de um pódio para o país com o nome de Sérvia. Na única participação com esta denominação, em Estocolmo-1912, os sérvios não conquistaram medalhas.

No entanto, apenas Djokovic chegou ao pódio, com o terceiro lugar. O bronze ficou pouco, apesar de Ivanovic ter se ausentado devido a uma lesão em um dos dedos da mão. Jankovic também não teve forças para superar as russas, que tomaram as três posições no posto, com ouro, prata e bronze.

Mesmo com a diversidade de nomes e governos que os povos desta região da Europa sofreram no século 20 não afetou a identidade e a vontade dos jogadores de defenderem sua bandeira, como no caso de Ana Ivanovic, que acabou abandonando. "É uma sensação maravilhosa servir o seu país. Quando cresci, lembro de assistir ao ouro do nosso vôlei (como Iugoslávia, em 2000), representando o país da melhor forma possível. Agora é a minha oportunidade. Sempre tento fazer o melhor pelo meu país e as Olimpíadas são uma grande chance de tentar isso mais uma vez".

Djokovic também aguardou ansiosamente pelos Jogos. "Eu sempre tento olhar as coisas pelo lado bom. Nós tivemos muitas dificuldades nos últimos 25 anos e o sucesso nas Olimpíadas mostram uma imagem muito melhor do que somos. Sempre sonhei com este momento", afirmou ele, que se hospedou na Vila Olímpica, assim como Rafael Nadal.

Além do tênis, outros sérvios se destacam, como Milorad Cavic. Na sua terceira Olimpíada, será o terceiro país que o nadador representará: Iugoslávia (2000), Sérvia e Montenegro (2004) e, finalmente, a Sérvia. Ele ficou famoso por deter o recorde mundial dos 100 m borboleta, em 2003, mas principalmente após ser expulso do Campeonato Europeu por usar uma camiseta com a frase "Kosovo é Sérvia". Na ocasião, a região que hoje proclamou sua independência estava em conflito com os sérvios. Nos Jogos de Pequim, ficou com a medalha de prata dos 100 m borboleta, na melhor participação de um sérvio na China.

A região dos Bálcãs, no sudeste da Europa, esteve envolvida em muitos conflitos durante o século 20, o que afetou diretamente a divisão dos países e, assim, o esporte do local. Envolvendo sérvios, croatas e eslovenos, a Iugoslávia foi formada em 1919 (o nome só passou a ser usado nove anos depois). Na Segunda Guerra Mundial, a capital Belgrado sofreu com ataques e teve até campos de concentração, após a ocupação alemã.

Depois da guerra, a Iugoslávia manteve o governo socialista por mais de quatro décadas. Já em 1989, o presidente Slobodan Milosevic pôs em prática um regime ultranacionalista e o país passou a conviver com os conflitos étnicos. Entre eles, o mais violento foi com o Kosovo, quando as forças da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) fizeram uma série de ataques ao país.