Sandro Viana

"Nós chegamos teoricamente inferiores, mas com nossa criatividade, nosso jeitinho brasileiro, conseguimos reverter o resultado"

O brasileiro Sandro Viana foi o sétimo na sua bateria da segunda rodada dos 200 m rasos nos Jogos de Pequim e, com o tempo de 21s07, ficou de fora das semifinais da prova. Na soma de todas as séries, Sandro ficou em 30º.

Correndo na mesma modalidade que o campeão olímpico Usain Bolt, da Jamaica, Sandro criou polêmica e criticou a atitude irreverente do homem mais rápido do mundo. "Não é certo o que ele fez. Acho que o atleta tem de correr olhando para a linha de chegada, e não para o público", disse Sandro, sobre Bolt, ainda na pista do Ninho de Pássaro.

A participação mais destacada do brasileiro foi com o quarteto do revezamento 4 x 100 m rasos. Junto a José Carlos Moreira, Vicente Lenílson e Bruno Tenório, foi o responsável por fechar as provas. Nas eliminatórias, o desempenho não foi bom e o Brasil se classificou com o penúltimo tempo. Na final, a Jamaica sobrou e quebrou o recorde mundial. E os brasileiros provaram sua tradição: numa disputa apertada e em que a troca de bastão do quarteto funcionou, ficaram a apenas nove centésimos do Japão, medalhista de bronze. "Nós chegamos teoricamente inferiores, mas com nossa criatividade, nosso jeitinho brasileiro, conseguimos reverter isso", explicou, sem mostrar frustrações.

Os Jogos de Pequim foram os primeiros da carreira do atleta, que também integrou o time do revezamento 4 x 100 m rasos que ficou com a medalha de ouro na modalidade, no Pan-Americano do Rio de Janeiro em 2007.

A vaga para os Jogos Olímpicos veio em maio, durante o Grand Prix do Rio de Janeiro. Sandro venceu os 200 m e marcou o tempo de 20s55, superando o índice A estabelecido pela Iaaf (Associação Internacional das Federações de Atletismo) que é de 20s59. Em março de 2008, Sandro se garantiu também nos 100 m rasos, ao marcar 10s19 em São Paulo.

A história do atleta é provavelmente uma das mais curiosas da delegação brasileira no atletismo. Ex-corretor de imóveis em sua terra natal, Manaus, no Amazonas, Sandro Viana começou a correr depois de impressionar-se com uma prova de Claudinei Quirino. Ele tinha 24 anos, uma idade avançada para o atletismo de alto nível, e treinava com as crianças de 12 e 13 anos.

Em 2005, um ano antes do Pan do Rio de Janeiro, o atleta amazonense viu-se sem pista para treinar no norte do país. Sandro não teve dúvida, vendeu quase tudo o que tinha e investiu em seu treinamento. “Eu vendi tudo, geladeira, computador, televisão com o suporte... levantei uns R$ 2 mil. Esse dinheiro era para passar cinco meses e foi contado”, lembra o velocista que chegou a vender até a aliança de casamento. “Passei toda a necessidade que você pode imaginar”, conta Sandro, casado e pai de duas filhas.

O esforço rendeu frutos. Sandro viajou até São Paulo em busca de uma melhor estrutura de treinos e se apresentou ao técnico Katsuhiro Nakaya, que o aceitou como pupilo. A medalha de ouro no Pan do Rio de Janeiro com o revezamento 4 x 100 m e a classificação para Pequim são apenas dois capítulos de uma história que o amazonense ainda não terminou de escrever.