UOL Olimpíadas 2008 Atletas Brasileiros
 

Atletismo

Fabiana Murer

"Eles atrapalharam minha competição. É um absurdo perder um equipamento numa prova dessas. Nunca mais volto à China."

Data de nascimento
16/03/1981
Local de nascimento
Campinas (SP)
Residência
São Paulo (SP)
Peso e altura
57 kg / 1,72 m
Prova
Salto com vara
Participação em Pequim
10º lugar na final

Fabiana Murer chegou à sua primeira Olimpíada em ascensão, mas foi surpreendida pelo pesadelo de qualquer trabalhador: ficar sem seu principal instrumento de trabalho. Depois de passar tranqüilamente pela fase eliminatória, com um salto de 4,50 m, a paulista viveu um verdadeiro inferno astral. Após sua primeira tentativa na final, saltando 4,45 m, a atleta se viu sem uma de suas dez varas.

O que se viu depois disso foi uma série de imagens nada usuais. Fabiana reclamou muito com os árbitros, checou os equipamentos de todas as suas adversárias e chegou a parar na frente de uma rival, para impedir que a prova continuasse. A solução tomada por seu técnico, Élson Miranda, foi para que ela não pulasse sua tentativa de 4,55 m, indo direto para o próximo desafio, com 4,65 m, também com uma vara não adequada para a altura.

A saltadora não conseguiu deixar o nervosismo de lado e se despediu mais cedo do que o esperado dos Jogos de Pequim, após falhar em seus três saltos em 4,65 m. Sem poupar críticas, chegou a falar que não volta mais à China.

A campeã olímpica Yelena Isinbayeva se manifestou sobre o episódio da brasileira, afirmando que Fabiana poderia ter sido medalhista caso tudo tivesse corrido bem. No dia seguinte após a trágica prova, a organização dos Jogos Olímpicos reconheceu que havia extraviado o material da brasileira junto com as varas de atletas desclassificadas para a final olímpica.

Até pisar em Pequim, a temporada era de sucesso para a brasileira. No início do ano, no Campeonato Mundial indoor, na Espanha, ela estabeleceu novo recorde sul-americano, 4,70 m, que lhe valeu a medalha de bronze no torneio.

E no Troféu Brasil, disputado a menos de dois meses dos Jogos, Fabiana voltou a melhorar sua marca e superou o próprio recorde, ao atingir 4,80 m - que até as Olímpiadas permaneceu como a terceira melhor metragem do mundo em 2008.

"Acho que quem fizer 4,80 m consegue medalha, mas se saltar mais, melhor. Eu não posso me acomodar. Estou muito contente, mas ainda não satisfeita", disse, confiante, a saltadora. "Nesse ano já estou bem melhor. Melhorei a corrida, estou um pouco mais forte e mais veloz. Com certeza estou no auge da minha carreira", completou antes do infortúnio.

No ano passado, Fabiana participou de seu segundo Pan, no Rio de Janeiro, já com o status de favorita à disputa do ouro. A brasileira confirmou as expectativas e venceu a prova com recorde pan-americano. Com o sarrafo na marca dos 4,50 m, ela garantiu o ouro e superou a antiga marca da competição, os 4,40 m da norte-americana Melissa Mueller em 2003.

Fabiana Murer despontou internacionalmente em agosto de 2006, ao vencer o Super GP de Mônaco com 4,66 m, marca que a acompanharia por quase dois anos. Foi depois desse salto que a paulista de Campinas passou a ser reconhecida pelas adversárias. "Elas viram que se dessem bobeira, eu passaria à frente", lembra ela, que igualou a marca alguns dias depois, na etapa belga da Liga de Ouro. Fabiana ficou atrás apenas da russa Yelena Isinbayeva, o maior nome da prova na atualidade, e amiga da brasileira.

As duas já fizeram vários treinos juntas e são orientadas pelo mesmo treinador, o ucraniano Vitaly Petrov, que foi técnico de Sergei Bubka, maior nome do salto com vara em todos os tempos. Foi Petrov o responsável pela transformação da saltadora. "Até hoje, Petrov supervisiona meus treinos. No início, ele mudou tudo: do jeito como eu segurava na vara até a corrida", conta. O mérito, no entanto, é de seu treinador, Élson Miranda, que entrou em contato com o ucraniano, e deu início ao processo de orientação.

"No começo (do trabalho com Petrov), foi muito difícil. Minha marca caiu para 3,70m e não saía disso. A vara me jogava para baixo. Eu tinha de mudar isso, era uma questão de honra", afirma. À época, Fabiana, que havia ficado em oitavo no Pan de Winnipeg-1999, não se classificou para Santo Domingo-2003. "Todo mundo achava que minha carreira de atleta tinha acabado, que eu tinha mais é que estudar e trabalhar", lembra ela, que se formou em fisioterapia.

A virada veio no Mundial de Helsinque, em 2005. Fabiana registrou um recorde brasileiro, mas acabou fora da final. "Eu sempre tive o sonho de conseguir bons resultados em competições internacionais. Foi um sufoco para conseguir o índice para o Mundial, mas depois, eu quase passei para a final", lembra. "Foi ali que eu pensei: 'não quero mais ficar fora disso.'"

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