Comédia de erros, filme independente e blockbuster frustrado: sábado olímpico vira coisa de cinema
Bruno Doro
Do UOL, em São Paulo
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REUTERS/Olivia Harris
Jogadoras da seleção feminina de vôlei comemoram o bicampeonato olímpico em Londres
O último sábado da Olimpíada de Londres não está nos cinemas, mas poderia dar um belo longa metragem. Um não. Três. E nessas produções o espectador poderia ver como a história de três medalhas parecidas podem ser contadas de formas dramaticamente diferentes. Ficou curioso? Pegue a pipoca e deixe a magia do cinema te levar.
A comédia de erros: "Nem Woody Allen conseguiria fazer um filme sobre a nossa história"
O primeiro filme se desenrola nas quadras de vôlei. É o ouro da seleção feminina de vôlei. Uma espécie de comédia de erros, como algumas obras de Woody Allen. Imaginou o técnico José Roberto Guimarães como um dos personagens do diretor? Não é. Esse é o papel de toda a seleção brasileira. Quer ver?
Se a seleção fosse um homem, ela seria um cara nervoso, neurótico, inseguro, que precisa de alguém dizendo para confiar em si mesmo. Duvida sempre que vai conseguir atingir o objetivo e, quando todo mundo achava que não conseguiria, ele sai vitorioso.
O time não vinha num bom momento. Em Londres, a difícil vitória na estreia contra a Turquia mostrou um time inseguro, sem a confiança de 2008. Quando os EUA venceram na primeira fase, o pouco do orgulho que restava foi embora. Mais uma derrota, uma classificação por um fio de cabelo, e o jogo contra a Rússia.
Quando tudo parecia perdido, as meninas se superavam, empatavam e voltavam a deixar as russas abrirem. Até que a vitória veio, e a confiança voltou.
Atropelaram as japonesas na semifinal e, na final, mais um pouco de nervos. O primeiro set foi o maior passeio da história de uma final olímpica. E mesmo assim, elas se recuperaram, venceram e são bicampeãs olímpicas. Não à toa, a líbero Fabi soltou: "Nem Woody Allen conseguiria fazer um filme sobre a nossa história".
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Agora, nossa história vai para o boxe. E é um filme cabeça quase em sua totalidade. Até o desfecho é uma derrota. Um ex-lutador que nunca ganhou nada na vida forma um clã de esportistas. Muda, de cidade em cidade, atrás de emprego. E carrega com ele seu batalhão de filhos, que nem mesmo ele sabe, com certeza, quantos são. Alguns morreram, outros não moram mais com ele. É dessa família que surgem dois lutadores. Esquiva, que ganhou o nome justamente para que o pai, ao chama-lo, também possa dar uma orientação durante as lutas (nota: esquivar, para quem não sabe, é o movimento de desviar de um golpe no boxe) e Yamaguchi Falcão resolvem ganhar a vida na porrada. Trombam de frente com as dificuldades, deixam o interior do Espírito Santo e se mudam para São Paulo, para treinar boxe olímpico.
Contra todas as probabilidades, se destacam. Mas nem assim os problemas somem: os dois tem praticamente o mesmo tamanho e teriam de lutar, um com o outro, por uma vaga no estágio maior de suas vidas, as Olimpíadas. Para evitar o combate, um deles, o mais velho, Yamaguchi sobe de categoria, se classifica, vai à Londres-2012 e, contra adversários maiores e mais fortes, acaba com a medalha de bronze.
Restava, então, ao mais novo, o sortudo, Esquiva, salvar a família. Chega à final. Pode ser campeão olímpico. Ele luta, briga, acerta o rival japonês Ryota Murata. Venceria, não fosse por uma punição. Medalha de prata. Tudo termina com derrota. Como em todo filme independente, finais felizes não funcionam. Mas o reconhecimento de público e crítica vira o jogo. Os irmãos Falcão são um sucesso. Preparem-se para uma geração hipster batizada com jargões de boxe, a nova modalidade do mundo indie.
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CONCORRENTE AO OSCAR
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Nunca um homem ganhou os 100 m, os 200 m e o 4x100 m em duas edições das Olimpíadas. O dono da nova marca atende pelo nome de Usain Bolt. A lenda das pistas conquistou seu seu sexto ouro em seis provas olímpicas neste sábado, ao fechar o revezamento em uma das disputas mais esperadas em Londres. O feito foi ainda mais glorioso, já que veio com recorde mundial. Uma das sequências de maior sucesso das telonas de todos os tempos.
Para terminar a trilogia, vem o blockbuster, o filme de orçamento gigante, aquele que deveria chegar aos cinemas e quebrar todos os recordes. Mas não foi assim. A seleção de futebol do Brasil tinha Neymar, o craque que os maiores times do mundo querem contratar. Contava também com Thiago Silva, o zagueiro mais caro do mundo. E com vários talentos da nova geração, com potencial para virar protagonista. Oscar, Lucas, Pato, Ganso, Damião...
Sem contar os efeitos especiais. A seleção só jogou em grandes palcos do futebol: Old Trafford, Wembley, Millenium... E nada de Vila Olímpica. Para o futebol pentacampeão do mundo, só hotéis cinco estrelas, nada de restaurante comunitário, ônibus coletivos ou transporte público (e, veja só, as estrelas da NBA, da seleção dos EUA de basquete, também não ficaram na Vila, mas visitaram o local, almoçaram com os atletas e até pegaram o trem para acompanhar partidas).
Só que o público (ou, no caso, os Deuses do futebol) é exigente. A preparação foi fraca e o time chegou a Londres com dificuldades claras. Sobreviveu contra rivais mais fracos. Mas foi só colocar em cena o México, um time certinho, com padrão tático definido, que soube atacar e defender, que o time sucumbiu. Mais uma vez, o time fracassou em Olimpíadas, graças a uma história mal estruturada.
Como você pode ver, um filme pode ter estrelas, efeitos especiais e tudo mais. Conquistar a medalha de prata e fracassar. Ou apostar tudo em sua história, cuidar do roteiro, ser prata e, mesmo assim, ser um sucesso. Ou apostar no diferente, mostrar que as dificuldades humanas são superáveis e chegar ao máximo. Por isso, algumas medalhas são conquistadas. E outras, perdidas.
HISTÓRIAS OLÍMPICAS
BOXE
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Não teve vitória, mas foi uma das medalhas mais marcantes do Brasil em Londres. Pela 1ª vez, um pugilista do país disputou uma final olímpica. A derrota para o japonês Ryota Murata foi por pouco, um ponto, 14 a 13, graças a uma punição sofrida por Esquiva Falcão no 2º round. A advertência, discutível, acabou determinando o vencedor. Após a luta, Esquiva reclamou da decisão, e seu irmão, Yamaguchi, também medalhista em Londres (bronze), achou que o caçula ganhou o combate. "Em 2012, posso dizer que a família Falcão superou o futebol", celebrou Esquiva. Com três medalhas, o Brasil fez sua melhor campanha olímpica na história.
FUTEBOL
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O ouro olímpico continuou no sonho. O gol sofrido aos 30 segundos foi determinante para a derrota por 2 a 1 para o México neste domingo. Foi o segundo grande teste de Neymar pelo time nacional, a segunda decepção e, com isso, desconfiança para 2014. “Nosso objetivo era o ouro, mas essa medalha vale muito", disse Marcelo. Para o capitão Thiago Silva, o "gol sofrido no início mudou todo o jogo". Mano, que corre risco no cargo, falou em"saldo positivo"com a prata. Já Lucas, que entrou apenas no fim, desabafou no Twitter:"Esse sentimento dói demais, é a pior parte do futebol". A imprensa mexicana comemorou o ouro "em ritmo de samba", e até os argentinos se divertiram com mais um tropeço brasileiro:"México lindo e querido". Como consolo, Leandro Damião ficou com a artilharia e igualou feitos de Romário e Bebeto.
TAEKWONDO
No primeiro round da derrota na estreia para a sul-coreana In Jong Lee no taekwondo, Natália Falavigna sentiu dores no tornozelo. Depois de perder por 13 a 9, saiu dizendo que era uma torção e que estaria preparada para lutar caso sua algoz chegasse à final e a classificasse para a repescagem. "Primeiro eu estouro, depois eu cuido", disse a brasileira. |
VÔLEI
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Foi um dia histórico para o vôlei brasileiro. Neste sábado, as comandadas de José Roberto Guimarães faturaram o bicampeonato olímpico, e, de quebra, consagraram o técnico como o único tricampeão olímpico brasileiro. O título, conquistado após uma vitória sobre os EUA por 3 a 1, parecia improvável há 10 dias, quando a equipe foi facilmente vencida pela Coreia do Sul e quase não classificou-se para o mata-mata. O grupo viveu um momento de instabilidade e a situação deixou Zé Roberto sem dormir. A equipe cresceu, conseguiu uma histórica vitória sobre a Rússia nas quartas e calou os críticos, chegando à semi com moral contra o Japão, atropelado por 3 sets a 0. A líbero Fabi, um dos destaques da seleção em Londres, chegou a dizer que nem mesmo o roteirista e cineasta americano Woody Allen conseguiria escrever a história que o grupo passou. Para ajudar na trajetória rumo ao ouro, qualquer detalhe podia fazer diferença. Por isso, Paula Pequeno usou a mesma calcinha desde a partida contra as russas. Deu sorte.