Esquiva é batido por um ponto por algoz japonês na decisão dos médios e fica com a prata

Bruno Freitas

Do UOL, em Londres (Inglaterra)

  • Flavio Florido/UOL

    Esquiva Falcão mostra a medalha de prata após derrota para o japonês Ryota Murata em Londres

    Esquiva Falcão mostra a medalha de prata após derrota para o japonês Ryota Murata em Londres

Pela segunda vez em menos de um ano, os punhos do japonês Ryota Murata colocam fim ao sonho de Esquiva Falcão. Diante do mesmo algoz do Mundial de 2011 e por apenas um ponto (14 a 13), o brasileiro foi derrotado neste sábado na decisão do ouro da categoria médio (até 75 kg) e volta para casa com a medalha de prata no pescoço. Como prêmio de consolação, traz do ringue dos Jogos de Londres a façanha de ter sido o primeiro atleta do país em uma final olímpica do boxe.

Os caminhos de Esquiva e Murata haviam se cruzado em outubro do ano passado em Baku, no Mundial de boxe no Azerbaijão. Na oportunidade o japonês passou por cima do jovem brasileiro na semifinal da categoria, com vitória por 22 a 12. Desde então o filho da família Falcão guardou e cultivou o desejo de encontrar de novo o algoz em cima do ringue.

No Brasil, Esquiva pregou sete cartazes no quarto da concentração da seleção brasileira com a mensagem "campeão olímpico". Já em Londres, o pugilista estudou incansavelmente vídeos de Murata durante as noites na Vila Olímpica.  

Apesar da preparação devotada, Esquiva começou o combate aparentemente nervoso e caiu no jogo do japonês. Murata atraiu o brasileiro para a curta distância e encaixou bons golpes para abrir 5 a 3 no primeiro assalto.

Na sequência, o primeiro japonês em uma final olímpica do boxe passou a encurralar Esquiva nos cantos do ringue. O brasileiro teve que recorrer ao recurso de agarrar o rival para escapar da pressão. Mesmo assim, o capixaba foi mais efetivo e venceu o segundo assalto por 5 a 4, diminuindo a vantagem de Murata para um ponto, 9 a 8..

Não restava outra alternativa, e Esquiva foi para o "tudo ou nada" no desfecho do combate, mas encontrou o adversário se esforçando para não se expor. O brasileiro foi punido pela arbitragem por agarrar Murata, perdeu dois pontos e praticamente viu as chances de vitória se esvaírem de vez. A advertência acabou sendo determinante para a derrota por 14 a 13: sem ela, o capixaba teria conquistado o ouro.

DESABAFO EM JAPONÊS

Falei para ele falar 'arigatô' para o juiz, porque foi juiz que deu a luta. Se ele não tirasse esse ponto, ele, com certeza, teria ganho a luta

João Carlos Barros, técnico da equipe brasileira, revelando diálogo com Murata depois da disputa da medalha de ouro

Assim, o brasileiro consegue a segunda medalha da família Falcão, que também comemorou nas últimas horas o bronze de Yamaguchi. Com a inspiração vinda do pai, um veterano pugilista ainda em atividade a despeito de seus 75 anos, Esquiva integra uma família numerosa - é um dos 15 filhos vivos de Touro Moreno. O medalhista teve infância e adolescência de privações materiais na região metropolitana de Vitória e chegou a flertar com a delinquência. Foi então mandado pelos familiares para São Paulo e se encontrou no boxe.

Toda esta história teve o desfecho na noite deste sábado. Montada em uma estrutura provisória dentro de um centro de exposições de Londres, a arena do boxe da Olimpíada viu um momento histórico do boxe brasileiro, que antes de 2012 jamais havia alcançado uma final.

A CAMPANHA DE ESQUIVA

Por ter sido medalhista no último Mundial e contar com uma boa colocação no ranking internacional, Esquiva estreou já na 2ª rodada [foi o 1º cabeça-de-chave da história do país no evento, ao lado de Everton Lopes]. A estreia em Londres aconteceu diante de Soltan Migitinov nas oitavas, com vitória tranquila por 24 a 11.

Na luta seguinte, Esquiva passou pelo húngaro Zoltan Harcsa por 14 a 10, assegurando uma medalha olímpica. Na semi, ele teve a missão de enfrentar o britânico Anthony Ogogo e toda a fervorosa torcida da casa, com triunfo por 16 a 9, com direito até a derrubar o rival no último assalto.

Antes dos Jogos de Londres, a maior e até então única façanha do boxe do país em Olimpíadas aconteceu com Servílio de Oliveira, bronze nos Jogos de 1968, na Cidade do México [categoria mosca, até 51 kg].

A medalha de Esquiva completa a trinca de pódios do boxe brasileiro em Londres, que havia começado com Adriana Araújo na categoria até 60 kg. A pugilista baiana ficou com o bronze após derrota na semifinal, nos Jogos que marcaram a estreia da disputa feminina da modalidade.

A terceira medalha brasileira (a segunda da família Falcão nos Jogos) veio com Yamaguchi. Dois anos mais velho do que o irmão Esquiva, o meio-pesado (até 81 kg) terminou com o bronze depois da derrota para o russo Egor Mekhontcev na semifinal da última sexta-feira.

ANÁLISE: "ESQUIVA NÃO TROUXE O OURO POR MÁ FÉ DO ÁRBITRO"

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