Português com deficiência mental passa mal, mas termina marcha de 50 km e vai a Fátima cumprir promessa

José Ricardo Leite

Do UOL, em Londres (Inglaterra)

  • José Ricardo Leite/UOL

    Pedro Izidro termina a prova da marcha atlética e agora tem que cumprir promessa

    Pedro Izidro termina a prova da marcha atlética e agora tem que cumprir promessa

O atleta português Pedro Isidro superou problemas estomacais e finalizou a marcha atlética de 50 km neste sábado apenas na 40ª posição, com o tempo de 3h58min59. Bem atrás do vencedor e consequente medalhista de ouro na prova, o russo Sergey Kirdyapkin, com 3h35min59.

A longa distância do pelotão, no entanto, já era esperada. Participar dessa prova já foi uma batalha para o fundista, que tem deficiência mental de um grau que lhe permitiria disputar os Jogos Paraolímpicos. Só não o fez porque não existe no programa dos jogos a sua prova.


A doença cognitiva de Pedro lhe rendem problemas como falhas de memória e de concentração. O português precisa quase sempre da ajuda de seu técnico ou familiares para montar a sua “agenda” e ser lembrado de todos os compromissos agendados. Por várias vezes já faltou a treinos e reuniões com a federação por isso.

Ele é o primeiro atleta com problemas intelectuais a participar de uma edição de Jogos Olímpicos. Logo após a prova, estava emocionado.

“Custou muito para mim participar de Londres, fiquei bem colocado e estou feliz. São os primeiros Jogos da minha vida. Estou muito emocionado”, falou, segurando as lágrimas.

Onze atletas chegaram depois do português. E outros 12 sequer conseguiram terminar o percurso. Mas não foi nada fácil conseguir chegar ao fim.

Restando apenas 5 km para o final, Pedro vomitou durante a prova. Por pouco não teve que abandoná-la. Mas foi forte e seguiu. “Tive uma rápida indisposição e tive que parar para vomitar. Se não fizesse isso, teria muitas dificuldades. Tive que vomitar para voltar rapidamente”, explicou.

Pedro havia feito uma promessa caso conseguisse terminar a prova. Ir até o santuário de Fátima, a 120 km de Lisboa. Havia prometido ir a pé. Mas, com o cansaço após a prova deste domingo, até cogitou ir de bicicleta.

“Tenho promessas a cumprir pelo esforço que fiz e agora tenho que realizá-las. Prometi para o meu treinador que iria até Fátima [se terminasse a prova]. E vou, e vou. Devo ir a pé, vamos ver. Mas posso ir a pé e de bicicleta. Vamos ver. Vou sair de Lisboa pra lá.”

Ele ainda lamentou não poder disputar a Paraolimpíada e disse que pessoas com o mesmo problema têm que acreditar em seu potencial.

“Só não sou paraolímpico porque nas Paraolimpíadas não tem marcha. É uma pena não ter a marcha na Paraolimpíada, não existem marchistas.  Só existem dois atletas, e dois portugueses”, falou. “Se eu consigo, outros conseguem. As portas estão abertas. Basta ter esforço e empenho”, finalizou.

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