Corinthians pensou no Boca e foi eliminado pelo Palmeiras em 2000; lição vale na Olimpíada
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Ronald Martinez/Getty Images
Franceses se irritaram com um possível arranjo de resultado e quase complicaram a Espanha no basquete
Quando eu vi o debate sobre Brasil e Espanha entregarem o jogo para evitarem enfrentar os Estados Unidos na semifinal do torneio masculino de basquete em Londres, eu me lembrei de uma história que vivi algum tempo atrás.
Era uma segunda-feira, véspera da semifinal das Liberdadores da América de 2000, e eu recebi um telefonema de um parente do então presidente do Corinthians, Alberto Dualibi.
Muito amável, ele me falou que o presidente do Corinthians não queria deixar escapar o campeonato daquele ano, que eles tinham conversado com o então treinador Osvaldo de Oliveira e se eu aceitaria conversar com elenco e comissão técnica depois do jantar.
Acertamos os honorários, ele me deu as instruções sobre quem procurar, horário e todos os detalhes para que o trabalho acontecesse.
Como sou corintiano, me senti no céu por poder ajudar o meu time do coração a conquistar um campeonato que já estava encruado.
Cheguei ao hotel em que o time estava concentrado, fui cumprimentado pelos jogadores e ficamos conversando enquanto eu esperava o diretor que iria organizar o evento.
Sorridente, ele me convidou para tomar um suco e me falou: “Roberto o jogo de amanha vai ser fácil, o time do Corinthians é muito superior ao do Palmeiras, encrenca vai ser jogar contra o Boca Juniors em La Bombonera”.
Meu coração bateu muito acelerado e eu falei: “Não existe jogo fácil na Libertadores. Se não ganhar antes do Palmeiras, não vai ter jogo na Bombonera”.
Ele respondeu: “Roberto, relaxa, não se preocupe, nós vamos para Buenos Aires com facilidade”.
Sem dúvida, essa noite foi um dos momentos em que o meu coração ficou mais apertado.
Ficamos conversando mais de uma hora e ele falando dos detalhes da preparação para a guerra contra o Boca Juniors. Ele já tinha tudo preparado. Tentei várias vezes fazê-lo mudar de ideia e colocar o foco no jogo contra o Palmeiras, mas não teve jeito, ele queria falar sobre o jogo contra o Boca Juniors.
No dia seguinte, todos sabem o que aconteceu. O Palmeiras ganhou e foi jogar em Buenos Aires.
Ele esqueceu de combinar o resultado com o adversário. Às vezes, um único diretor pode atrapalhar o trabalho de toda uma diretoria e comissão técnica. O presidente Dualibi estava preocupado, outros diretores também, assim como a comissão técnica, mas a atitude de um único diretor inconsciente pode atrapalhar todo um trabalho.
Essa história não é sobre a minha competência, não sei se o resultado seria diferente se eu tivesse conversado com o elenco, mas sobre valorizar cada jogo e cada adversário.
O Brasil não vai jogar contra os Estados Unidos porque perdeu ontem para a Argentina. Não existe jogo fácil em uma Olimpíada.
Os argentinos viram essa conversa toda e conversaram muito sobre a falta de respeito que é considerar ganhar uma partida com eles antes do apito final do juiz.
Os jogadores da França queriam tanto ganhar dos espanhóis que até deram soco nos espanhóis. Atletas odeiam ser desvalorizados pelos adversários.
Roberto Shinyashiki
Psiquiatra com pós-graduação em Administração de Empresas e doutorado em Administração e Economia, viaja o Brasil e o mundo fazendo palestras, conduzindo seminários e atuando como consultor para empresários, políticos e esportistas. É autor de vários best sellers, entre eles “Sucesso É Ser Feliz” e “Problemas? Oba!” e já vendeu mais 6 milhões de livros.