Brasil erra ao deixar futebol fora do espírito olímpico em Londres
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Daniel Marenco/Folhapress
Mano Menezes passa instrução aos jogadores da seleção olímpica
Eu entendo perfeitamente o que o Mano Menezes, técnico da seleção brasileira de futebol, quis dizer quando falou que o futebol é um mundo a parte nos Jogos Olímpicos – inclusive porque os jogos de futebol acontecem fora de Londres. Ele quer dizer que vai procurar não deixar o time entrar no clima de badalação que existe na Vila Olímpica.
Mas tem outro lado fundamental que também deve ser pensado, dentro dessa ideia de deixar o nosso time fora do contexto olímpico: o Brasil nunca conquistou uma medalha de ouro olímpica no futebol.
Acho que uma boa parte disso tem sido justamente por nossa equipe não fazer e não se sentir parte do mundo olímpico. Nossos atletas, ainda jovens, são tratados como reis e perdem a dimensão do que seja ter de derramar muito suor para conseguir renovar uma bolsa-atleta, para ter algum dinheiro para pagar o aluguel da casa onde moram.
Nossos atletas do futebol viajam de classe executiva, ficam em hotéis cinco estrelas e têm todas as mordomias possíveis e imagináveis.
Eu tenho um amigo muito especial, que cuida de um projeto social de jovens jogadores de futebol chamado Pequeninos do Jóquei. Ele costuma dizer que o jovem atleta que tem tudo em casa raramente faz os sacrifícios necessários para se tornar um jogador de futebol profissional. E ele tem razão!
O que dizer sobre jovens de 20 anos que têm lindas mulheres à disposição, dinheiro para comprar o que quer e principalmente a ilusão de que o futuro sempre vai reservar o sucesso que eles têm no dia de hoje?
Nosso problema não é a falta de qualidade dos nossos jogadores. Veja os jogadores da nossa seleção nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008: Alexandre Pato, Hernandes, Anderson, Breno, Daniel Alves, Diego, Jô, Lucas, Marcelo, Rafael Sobis, Ramires, Ronaldinho Gaúcho, Thiago Silva, Thiago Neves e Alex Silva. Um time sensacional que perdeu para os argentinos, que se mostraram muito mais focados em vencer o jogo.
Agora mais uma vez temos um time de craques, como Neymar, Oscar, Thiago Silva, Marcelo, Sandro, Alexandre Pato, Lucas e Paulo Henrique Ganso, entre outros. Mas tem muita conversa distante do futebol olímpico rolando: “Neymarzetes”, festas, contratos... Isso tudo só serve para tirar a concentração da equipe do objetivo principal, que é a conquista da medalha de ouro.
Imagino que tanto o Mano Menezes como o Andrés Sanchez estejam trabalhando este tema com muita intensidade, mas é fundamental que agora um grupo de atletas assuma a liderança do time e traga ao grupo a visão de que uma Olimpíada é algo histórico e por isso cada um vai ter de assumir a responsabilidade pelos seus resultados.
Como esse time que vai disputar os Jogos Olímpicos em Londres será a base da equipe que vai disputar a Copa do Mundo no Brasil em 2014, penso que depois do último jogo, qualquer que seja o resultado, os atletas deveriam ficar na Vila Olímpica por mais uns três dias. Assim eles terão a noção exata das consequências do seu trabalho.
Roberto Shinyashiki
Psiquiatra com pós-graduação em Administração de Empresas e doutorado em Administração e Economia, viaja o Brasil e o mundo fazendo palestras, conduzindo seminários e atuando como consultor para empresários, políticos e esportistas. É autor de vários best sellers, entre eles “Sucesso É Ser Feliz” e “Problemas? Oba!” e já vendeu mais 6 milhões de livros.