Derrota em Sydney pode servir para segurar favoritismo do Brasil contra a Argentina no vôlei

Roberto Shinyashiki

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    Argentino Milinkovic encara o bloqueio dos brasileiros Giba (e) e Douglas em jogo da Olimpíada de Sydney

    Argentino Milinkovic encara o bloqueio dos brasileiros Giba (e) e Douglas em jogo da Olimpíada de Sydney

Concordo com Bruno Voloch: os argentinos ficam especialmente preocupados quando têm de enfrentar o Brasil, e eu tenho um exemplo interessante para contar sobre esse tema.

No restaurante da vila olímpica não existem lugares marcados, mas existem regiões preferidas, ou seja a delegação da China sempre tende a ficar em um determinado lugar, assim como a dos Estados Unidos, Brasil, Argentina e todas as outras que têm um número de atletas significativos.

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Na Olimpíada de Sydney-2000, eu estava almoçando com o Guga e o Larry Passos na área dos brasileiros. A conversa estava boa, fomos ficando além do tempo normal de um almoço e, de repente, aparece para almoçar em nossa área todo o time de vôlei da Argentina. A situação ficou estranha, pois em silêncio e com muito respeito eles sentaram em nossa área no meio dos poucos atletas que estavam ainda almoçando.

A nossa conversa passou a ser sobre qual a razão de eles estarem em nossa área. Coincidência? Era onde tinha mais espaço? Eles sempre almoçavam quietos daquele jeito?

No dia seguinte aconteceria o jogo entre Brasil e Argentina. O nosso time tinha ganhado todas as partidas por 3 sets a 0, enquanto a campanha dos hermanos tinha sido horrível. A imprensa comemorava o favoritismo do Brasil, mas os atletas e comissão técnica estavam conscientes de que não existe jogo fácil no mata-mata de uma Olimpíada.

No dia do jogo, o nosso time parecia preocupado, na entrada do ônibus aquele silêncio preocupante. Logo que entramos no ônibus, o nosso treinador Radamés Lattari veio conversar comigo sobre o que poderíamos fazer para aliviar aquela tensão. Enquanto discutíamos algumas ideias, percebemos que o ônibus não andava e observamos que o trânsito estava totalmente travado. O congestionamento estava pesado, a tensão aumentava, o tempo passava, e acabamos por chegar em cima da hora, sem tempo para fazermos nada a não ser colocar o time na quadra.

O resultado: vitória de 3 a 1 para a Argentina, que fez a lição de casa muito bem, pois marcou os nossos jogadores e as nossas jogadas, explorando os nossos pontos fracos. O trabalho dos estatísticos deles foi muito bem feito.

No dia seguinte, encontro um dos argentinos da comissão técnica que estava no almoço em nossa área do restaurante na vila olímpica. Falamos sobre amenidades, passamos a conversar sobre o jogo até que eu lhe pergunto por que a seleção deles foi almoçar em nosso espaço.

Ele me responde: "Nós percebemos que o nosso time estava se sentindo muito por baixo dos brasileiros, então resolvemos mandá-los almoçar junto a vocês para eles verem que vocês são gente como a gente". Parece que o almoço funcionou!

Como o Voloch falou, são outros tempos, eles realmente ficam especialmente preocupados com a gente, mas ainda existe espaço para as delegações almoçarem na área das outras na vila olímpica.  

Roberto Shinyashiki

Psiquiatra com pós-graduação em Administração de Empresas e doutorado em Administração e Economia, viaja o Brasil e o mundo fazendo palestras, conduzindo seminários e atuando como consultor para empresários, políticos e esportistas. É autor de vários best sellers, entre eles “Sucesso É Ser Feliz” e “Problemas? Oba!” e já vendeu mais 6 milhões de livros.

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