TV exagera no favoritismo de brasileiros e cria falsos fracassos dos atletas

Roberto Shinyashiki

Roberto Shinyashiki

  • AFP PHOTO/JOEL SAGET

    Transmissão de TV das Olimpíadas

    Transmissão de TV das Olimpíadas

Eu não sei a abordagem que as emissoras de TV vão dar às possibilidades de medalhas de nossos atletas e equipes em Londres, mas espero que neste ano elas sejam mais realistas do que têm sido para não prejudicar a imagem dos atletas.

O que observamos nos anos anteriores é que para ter audiência os locutores criam falsos favoritismo de brasileiros para que as pessoas fiquem acordadas assistindo aos jogos. No final eles acabam deixando no ar uma imagem de falha do atleta que não existiu.

Quer um exemplo bem claro? Cesar Cielo não tem grande chance de ganhar medalha no 100 metros nado livre pois ele tem o sétimo tempo do ano -ou seja, seis atletas têm performance melhor que a dele portanto. Se ele não ganhar nenhuma medalha nesta prova não vai ser surpresa no mundo do esporte. Se ele ganhar uma medalha de bronze vai ser uma zebra e se ele ganhar ouro vai ser um milagre.

Eu adoro o mundo dos esportes porque milagres acontecem e todos os envolvidos em um trabalho batalham para que esses milagres aconteçam, mas precisamos lembrar que existe lógica, principalmente nos esportes individuais em que um atleta não pode atrapalhar a atuação do outro.

No tênis, por exemplo, existe a disputa de um contra o outro, então a estratégia e o momento emocional podem fazer um atleta crescer contra o adversário. Mas nos esportes em que cada um realiza a sua performance a lógica tende a prevalecer

Outro exemplo: a nossa Fabiana Murer. Ela tem a segunda melhor marca do ano no salto com vara, com 4,77 metros. Isso faz dela campeã por antecipação desta prova? Não, porque tem a Yelena Isinbayeva, que após resultados fracos em 2009 e 2010 tirou um ano para descansar e deve estar treinando fortíssimo. Ela pode saltar mais de 5 metros de novo e se conseguir esta façanha e ganhar a medalha de ouro ninguém pode dizer que a Fabiana falhou porque saltou menos de 5 metros. Ela fez o seu máximo, mas a Isinbayeva terá ido melhor.

Um dos fatores que ajudam esta empolgação nas transmissões de TV é que no ano anterior às Olimpíadas acontecem Jogos Pan-Americanos, que em termos de competição mundial é uma prova de segunda categoria se comparada com os próprios campeonatos mundiais da modalidade e os Jogos Olímpicos .

Nos Jogos Pan-Americanos do ano passado o Brasil ganhou 141 medalhas, sendo 48 de ouro. Isso cria a ilusão para os não entendidos de esportes que deveríamos ganhar algo parecido na Olimpíada. Isso não vai acontecer nunca, mas temos de estar conscientes que em muitas modalidades os melhores atletas e equipes não estão em nosso continente ou muitas vezes os melhores não vão ao Pan.

O certo é que muitos dos nossos medalhistas do Pan sequer vão para a final das suas provas na Olimpíada! A meta da nossa delegação em Londres é de 15 medalhas de várias cores. Se ganharmos 20 já será uma bela surpresa.

Um dos grandes exemplos da diferença de competitividade entre o Pan e os Jogos Olimpicos é o nosso grande atleta Thiago Pereira, que conquistou 12 medalhas em Pan-Americanos e por  isso é apelidado de Mister Pan. Um feito sensacional, mas eu imagino que ele trocaria todas essas medalhas por uma olímpica.

Este ano ele vai competir em Londres com os norte-americanos Michael Phelps e Ryan Lochte e o húngaro Laszlo Cseh, medalhistas da prova nas Olimpíadas de Pequim, em 2008, e no Mundial de Xangai, no ano passado.

Eu acredito que o Thiago Pereira tem chances concretas de ganhar uma medalha, pois além de parecer mais autoconfiante está trabalhando com o Albertinho Silva, um dos melhores técnicos de natação do mundo. No tempo em que trabalhamos juntos no EC Pinheiros aprendi a admirar o seu trabalho . Um treinador detalhista, persistente e muito técnico. E uma pessoa muito generosa, mas firme ao exigir o máximo dos seus atletas

Eu tenho a oportunidade de conhecer muitos atletas brasileiros e preciso deixar claro que a maioria absoluta são pessoas comprometidas e que precisam das suas vitórias porque as suas vidas dependem dos seus resultados.

Assista às competições na televisão e tenha claro que os nossos atletas estão dando o seu máximo, mas isto ainda significa estar longe do pódio.

Roberto Shinyashiki

Psiquiatra com pós-graduação em Administração de Empresas e doutorado em Administração e Economia, viaja o Brasil e o mundo fazendo palestras, conduzindo seminários e atuando como consultor para empresários, políticos e esportistas. É autor de vários best sellers, entre eles “Sucesso É Ser Feliz” e “Problemas? Oba!” e já vendeu mais 6 milhões de livros.

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