Ayrton Senna

Por que as Olimpíadas exercem esse fascínio sobre nós?

Roberto Shinyashiki

Roberto Shinyashiki

  • Pascal Rondeau/Allsport

    Ayrton Senna comemora título mundial no GP do Japão de 1991

    Ayrton Senna comemora título mundial no GP do Japão de 1991

Quando se aproxima uma grande competição como os Jogos Olímpicos, uma Copa do Mundo de futebol ou a final da Libertadores, as paixões ficam à tona. E sempre me pergunto: por que as pessoas torcem com tanta emoção por um esporte que muitas vezes elas não valorizam?

Lógico que existe a paixão pelo esporte. Para um apaixonado por atletismo, os detalhes da largada e a emoção da chegada em uma prova de 100 m rasos são dignos de uma emoção única na vida. Mas, certamente, nós torcemos por mais coisas do que simplesmente pela competição que estamos presenciando.

Eu me lembro da minha torcida apaixonada pelo Ayrton Senna. Eu, que nunca gostei de automobilismo, fazia questão de acordar cedo no domingo para torcer por ele. Quando a sua música da vitória tocava, percebia que, mais do que feliz com a conquista dele, eu ficava mais confiante em mim mesmo. A sua vitória tinha o poder de alimentar o campeão dentro de mim.

Os grandes atletas ganham fortunas não apenas porque são gênios no seu esporte, mas porque contagiam seus fãs com fé e determinação. O processo de identificação com os nossos ídolos é intenso e poderoso. Se você parar para pensar nas pessoas que admira, vai ver que, para boa parte delas, os ídolos vêm do esporte. Porque esporte é dedicação, garra, inteligência e superação.

Para muitos de nós, o esporte é a fonte de inspiração para ir além. Certamente por isso, o Ronaldo Fenômeno vale muito mais do que o Ronaldinho Gaúcho. Quantas vezes médicos e analistas diziam que ele estava acabado? E quantas vezes ele renasceu das cinzas nos mostrando que o impossível é um acontecimento mais distante do que imaginamos?

Isso também acontece em nossas vidas: quantas vezes tudo parece impossível, mas uma dose de garra faz com que enfrentemos os desafios? Quanto maior o sofrimento do ídolo, maior a nossa admiração, porque nos apoiamos nesse exemplo para ter força para superar nossas adversidades.

Cada um de nós tem a própria Olimpíada. Seja a formatura de um filho ou a própria formatura na faculdade. Uma promoção. Tornar-se um profissional respeitado. Ser eleito para um cargo público. Ter a sua casa própria.

Cada um de nós, quando se sente cansado, busca inspiração em um ídolo. Em alguns momentos, chegamos a pensar que nunca vamos conseguir, mas, no momento seguinte, levantamos a cabeça e voltamos a focar no objetivo. Acordamos cedo para treinar, trabalhar um pouco mais forte e, no final, torcemos por nós mesmos como torcemos por nossos ídolos.

Nessa Olimpíada, nós somos um pouco do Neymar, um pouco do Tiago Camilo, Marta, Maurren Maggi, Cesar Cielo, Fabiana Murer, Bruninho. Uma derrota deles é um pouco das nossas derrotas. Uma vitória deles é um pouco do resultado da nossa torcida.

No fundo, sabemos que cada um de nós tem a própria Olimpíada pessoal e que lutamos intensamente para conquistar uma medalha. Por isso, o mais importante é usarmos essa energia para batalhar por nosso lugar no pódio.

Os imbecis dos hoolligans não sabem disso e, depois de uma partida, saem para brigar com a torcida adversária. Por isso, ficam sempre na mediocridade.

Mas, para nós, que acordamos cedo todos os dias e que temos uma final de campeonato todas as semanas em nossos trabalhos, o esporte é simplesmente uma metáfora da vida. Cada um de nos é o protagonista da nossa final de campeonato.

No jogo da vida, não podemos ficar na arquibancada. Temos de vestir os nossos uniformes para enfrentar os adversários, e nossa família e amigos são os nossos torcedores que vivem a paixão de um fã.

É da alegria de lutar vem o prazer de viver. Eu torço para que você conquiste a sua medalha na sua vida, assim como vou torcer para os nossos atletas ganharem as suas medalhas.

Roberto Shinyashiki

Psiquiatra com pós-graduação em Administração de Empresas e doutorado em Administração e Economia, viaja o Brasil e o mundo fazendo palestras, conduzindo seminários e atuando como consultor para empresários, políticos e esportistas. É autor de vários best sellers, entre eles “Sucesso É Ser Feliz” e “Problemas? Oba!” e já vendeu mais 6 milhões de livros.

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