Baladas, comidas e gente bonita: as tentações da Vila podem atrapalhar os atletas

Roberto Shinyashiki

Roberto Shinyashiki

  • REUTERS/Olivia Harris

    Mesa de sinuca será uma das atrações da Vila Olímpica para distrair os atletas entre as competições

    Mesa de sinuca será uma das atrações da Vila Olímpica para distrair os atletas entre as competições

Um treinador me perguntou qual era o melhor período de tempo para o atleta ficar na Vila Olímpica. Sua preocupação era com a  possibilidade de acontecer a perda de foco e o resultado ficar comprometido.

Estar na Vila Olímpica é um tema delicado, pois existem vários fatores que podem distrair o atleta do seu objetivo maior.  Eu me lembro que na Olimpíada de Sydney  uma treinadora ficava com o crachá da sua atleta para que ela não pudesse ir sozinha ao restaurante da Vila. A preocupação era que a atleta comesse além da conta e ficasse acima do peso adequado para competir.

Parece uma bobagem pensar que um atleta que treinou intensamente praticamente a vida inteira perca o controle da alimentação na hora da decisão. Sim, parece loucura pensar nisso, mas a vontade de ir ao restaurante, ver os ídolos do esporte mundial, ou simplesmente ir com os amigos tomar um café em um momento de estresse pode se tornar uma tentação incontrolável.

Além do restaurante, a Vila Olímpica tem outras tentações que podem prejudicar a concentração, como baladas, bar, spa, cinema, espaço de lazer com mesas de pebolim, sinuca e vários outros jogos. Tudo isso cercado de muita gente bonita e a badalação de estar entre os melhores do mundo. Vão ser mais de 16 mil pessoas entre organizadores, equipe técnica e atletas que se encontram em um restaurante com capacidade para 5 mil pessoas.

É muita distração para quem não está com foco total na competição! E, para piorar, tem a energia negativa dos derrotados para contaminar quem ainda não competiu. Lembre-se: destes milhares de atletas que irão competir somente algumas poucas centenas deles vão realizar o objetivo de trazer uma medalha.

Nesta semana os primeiros atletas já começam a chegar à Vila. Quase duas semanas esperando a hora de competir! Estes primeiros dias são cheios de alegria e excitação. Tudo é festa, pois o sonho de ir a uma Olimpíada foi realizado. Mas, à medida que os dias passam e as primeiras competições começam, o ambiente se torna pesado, pois os derrotados passam a procurar culpados pelo seu fracasso.

Como sempre, os vitoriosos vão sair da Vila para atender a imprensa e passear com os familiares. Então, os atletas que ficam no local são somente aqueles que têm como tema principal as preocupações com os problemas que aconteceram ou podem acontecer.

Depois dos primeiros dias, quem perdeu, ou não tem ambição de ganhar, começa a dar força às baladas ou às conversas pesadas. E fica muito difícil competir por uma medalha com energia e concentração total convivendo num ambiente assim. Por isso acredito que quem competiu deve no dia seguinte voltar para casa!

Mas não há dúvida de que, por outro lado, é muito positivo o atleta permanecer alguns dias na Vila Olímpica, para pegar a energia boa de estar em uma Olimpíada, sabendo que está entre os melhores do mundo.

Por essas razões, para evitar problemas desnecessários para o atleta, foi muito inteligente a decisão do COB de construir um centro de concentração e treinamento no Crystal Palace e dar oportunidade do treinador e seus atletas decidirem quantos dias querem estar na Vila Olímpica.

Os treinadores vão poder decidir quanto tempo seus atletas precisam para entrar no espírito olímpico e, assim, dar limites para que eles não caiam na tentação de distrair-se de seus objetivos na competição!

Lógico que tem atletas que sentem muito o peso de estar competindo em uma Olimpíada, a ponto de comprometer o seu desempenho. Para estes, ficar muito ou pouco tempo na Vila não vai fazer diferença, se eles não trabalharem profundamente o seu estado mental.

Roberto Shinyashiki

Psiquiatra com pós-graduação em Administração de Empresas e doutorado em Administração e Economia, viaja o Brasil e o mundo fazendo palestras, conduzindo seminários e atuando como consultor para empresários, políticos e esportistas. É autor de vários best sellers, entre eles “Sucesso É Ser Feliz” e “Problemas? Oba!” e já vendeu mais 6 milhões de livros.

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