Primeiro dia do Brasil cria ilusão de que medalhas são fáceis e amplia pressão sobre atletas

Roberto Shinyashiki

Roberto Shinyashiki

  • Flavio Florido/UOL, Satiro Sodré/AGIF e AFP/Franck Fife

    Sarah Menezes, Thiago Pereira e Felipe Kitadai: ouro, prata e bronze para o Brasil logo no 1º dia em Londres

    Sarah Menezes, Thiago Pereira e Felipe Kitadai: ouro, prata e bronze para o Brasil logo no 1º dia em Londres

A colheita de medalhas que o Brasil fez no primeiro dia dos Jogos Olímpicos de Londres pode criar um problema para os atletas: a obrigação de ter de subir ao pódio porque parece ser fácil essa façanha.

As três medalhas do primeiro dia já deram fim a um problema anterior, que seria a pressão se as conquistas não viessem.

Um exemplo marcante da pressão por ouro aconteceu nos Jogos de Sydney-2000, quando nenhum dos nossos atletas favoritos conseguia alcançar a tão sonhada medalha. Além de o próprio atleta se pressionar, havia a cobrança geral pelo ouro que o Brasil não conquistava .

Nos corredores, os atletas sentiam essa pressão no ar. Eu me lembro de uma conversa com um treinador norte-americano que tocou no assunto, comentando que naquela altura os atletas americanos entravam só com a pressão pessoal, mas os nossos traziam a cobrança de todo um país

Nesse sentido, quando Sarah Menezes foi campeã no judô no primeiro dia, a pressão pelo ouro diminuiu muito, mas ao mesmo tempo, a conquista de três medalhas logo no dia inicial está criando a impressão de que subir ao pódio é fácil. Ilusão pura!

Sarah, Felipe Kitadai e Thiago Pereira foram sensacionais, e o que eles conquistaram é uma façanha para muito poucos. Há muitos países que não têm nenhuma medalha de bronze sequer em sua história!

O nosso primeiro dia foi sensacional, mas a maioria dos nossos dias olímpicos será da realidade de um país que tem a previsão de ganhar ao redor de 20 medalhas e que, se chegar às 25, será uma glória.

Estou vendo uma grande esperança, principalmente por parte da torcida aqui em Londres, de que este vai ser o ano do Brasil, mas todos nós sabemos que quando a expectativa é maior do que a consistência, o resultado é frustração do tamanho da expectativa.

O Thomaz Belluci perder do Jo-Wilfried Tsonga no tênis é um resultado absolutamente normal, assim como a equipe feminina de ginástica não ir para a final e todos os outros que aconteceram ontem.

Vamos comemorar as vitórias com muita paixão, mas sempre ter em mente que a realidade vai prevalecer.

Roberto Shinyashiki

Psiquiatra com pós-graduação em Administração de Empresas e doutorado em Administração e Economia, viaja o Brasil e o mundo fazendo palestras, conduzindo seminários e atuando como consultor para empresários, políticos e esportistas. É autor de vários best sellers, entre eles “Sucesso É Ser Feliz” e “Problemas? Oba!” e já vendeu mais 6 milhões de livros.

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