Entre o tatame e o pódio, o "amarelo" nunca luta no judô brasileiro

Wiliam Freitas - Gulô

Wiliam Freitas - Gulô

  • Flávio Florido/UOL

    Tiago Camilo foi derrotado na disputa do bronze da categoria até 90 kg e sai de Londres sem medalha

    Tiago Camilo foi derrotado na disputa do bronze da categoria até 90 kg e sai de Londres sem medalha

Depois de seis dias comentando e analisando o judô nas olimpíadas de forma intensa, vejo que competir em jogos olímpicos é muito mais difícil do que pensamos nesta modalidade.

Este é o cenário até o fechamento deste texto: o Japão tem uma medalha de ouro, igual ao Brasil, e hoje também foi eliminado. O Reino Unido, país-sede, não tinha conquistado nenhuma medalha até hoje (foi prata). No primeiro ciclo olímpico que o judô utilizou um ranking mundial para sua classificação, apenas duas atletas que chegaram em primeiro do ranking confirmaram o ouro na sua categoria. No masculino nenhum atleta conseguiu manter o favoritismo.

Tivemos atletas que foram convidados pelo Comitê Olímpico Internacional, ou seja, ficaram de fora dos 22 atletas no masculino e das 14 atletas no feminino no ranking mundial, e entram na cota para difundir a modalidade pelo mundo. E alguns desses se tornaram campeões olímpicos e ou eliminaram atletas “top Five” do ranking.

Atletas que chegaram como “zebras” conquistaram medalhas. Isso demonstra que mesmo o Japão, país que criou a modalidade, e países como o Reino Unido, que luta em casa e tem uma excelente política esportiva, encontram dificuldades.

Considerações feitas vejo comentários maldosos sobre os atletas brasileiros serem “amarelões” por não terem conseguido desempenhar seu máximo. Tiago Camilo, campeão mundial, juvenil, júnior e sênior, que tem participação em três olimpíadas, com duas medalhas e um 5º lugar, prata em Sydney-00, bronze em Pequim-08 e quinto em Londres-12, e Leandro Guilheiro, campeão mundial júnior, vice-campeão mundial sênior, participação em três olimpíadas, com duas medalhas, bronze em Atenas-04 e Pequim-08, foram dois dos principais alvos dos nossos “comentaristas” de plantão.

Participar em uma edição de Jogos Olímpicos é o sonho de todo atleta amador no Brasil. Eles enfrentam diversas dificuldades, inclusive financeiras, no início da carreira, além de outros aspectos como treinos, alimentação, lesões, cirurgias, muitas vezes precisam abdicar de uma vida social, entre outros.

Ser vencedor ou vencido faz parte do contexto competitivo. Nossos atletas realmente chegaram bem preparados, com boa estrutura. Em alguns casos, foram a Londres como favoritos na categoria, em outros não, mas lutaram com adversários que também chegaram com objetivo de ganhar e vêm preparados.

Assistir ao esporte somente em ano de Olimpíadas e chamar os atletas de "amarelões" se torna fácil. Criticar a atuação por uma falha ou pela estratégia de luta faz parte. Mas esses judocas, que vêm do “país do futebol”, são os nossos verdadeiros “samurais” e, com muito esforço, honra e orgulho, representaram nosso Brasil.

O único “amarelão” que entrou para lutar foi o da bandeira do Brasil no peito dos atletas. Sendo assim parabenizo todos os que participaram e os que ainda vão participar, sabendo que somos brasileiros e não desistimos nunca.

"MAYRA AGUIAR CONFIRMOU SEU FAVORITISMO", DIZ WILLIAM FREITAS

Wiliam Freitas - Gulô

É professor universitário da Fefisa/Uninove/Gama Filho e diretor técnico Associação de Judô Gulô e WDV Sports Ltda. Faixa preta de judô 5º Dan pela CBJ (Confederação Brasileira de Judô), Gulô é também comentarista do canal Bandsports, do Placar UOL de judô nas Olimpíadas 2012 e correspondente do site JudoPaulista, parceiro do UOL.

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