Surpresa sim, zebra não
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REUTERS/Toby Melville
Nadador Thiago Pereira avançou à final dos 400 m medley à frente do norte-americano Michael Phelps
Ao fim das eliminatórias dos 400 m medley, no primeiro dia de competições dos Jogos Olímpicos de Londres, Thiago Pereira classifica-se para a final com o quarto melhor tempo.
Thiago tem o respeito da natação internacional, mas perante a mídia brasileira é considerado uma espécie de Rubens Barrichello. Tal conceito é injusto tanto para o piloto de automobilismo, quanto para o nadador. Mas a verdade é que de 2003 a 2012, Thiago acumulou uma quantidade enorme de finais em campeonatos mundiais e olímpicos, mas ainda não havia conseguido uma medalha.
Quando Thiago saiu da piscina, em uma breve entrevista, a simpática repórter comenta e pergunta a Thiago: ?Parabéns pela prova, conseguiu a classificação para a final! Mas sua grande expectativa é para a prova dos 200 m medley, não é??.
?Não, estou pensando nos 400?, responde Thiago. ?A prova dos 200 é daqui a dois ou três dias, mas agora só estou pensado na final de hoje à tarde?, completou o atleta.
Mesmo cansado, Thiago falava com uma voz forte e com propriedade. No mesmo momento, demonstrava que estava apto para os desafios vespertinos. Thiago ainda nem sabia que o seu arquirrival, o húngaro László Cesh não se classificaria para a final, e nem que Michael Phelps entraria com o último tempo (o que corresponde à oitava posição).
Quem entende um pouco de natação sabe que Thiago sempre teve reais condições de estar em qualquer pódio olímpico. No livro de Michael Phelps, chamado Sem Limites, o astro norte americano destaca que seu compatriota Ryan Lochte, o húngaro László Cseh e o brasileiro Thiago Pereira tinham reais chance de vencê-lo, tanto nos Jogos de Atenas 2004, quanto nos Jogos de Pequim em 2008. Palavras do maior dos heróis de todos os tempos da natação.
Voltando à conquista recente, quando foram apresentados os oito nadadores finalistas da prova dos 400 m medley de Londres 2012, a expressão na face de Thiago era diferente novamente. Não era de nervosismo, nem de feliz e nem de desconfiado, era uma expressão de confiança. O atleta sabia que iria nadar bem, independente do resultado.
Com uma estratégia de prova perfeita, o nadador disparou no nado peito, sua especialidade, e abriu dois corpos de vantagens em relação ao japonês Kosuke Hagino e ao mito Michael Phelps. O nado peito é o pior estilo de ambos e, aproveitando a sua melhor parcial da prova, Thiago abriu distância suficiente para que não fosse mais alcançado por ninguém. Já Ryan Lochte em nenhum momento deu esperanças para alguém, a não ser ele, conquistar o ouro.
O país inteiro está feliz, pois a medalha de prata de Thiago Pereira não representa a vitória sobre Michael Phelps, nem sobre Kosuke Hagino e muito menos sobre László Cseh. Esta medalha representa a vitória sobre si mesmo. Ele sim, sempre foi seu maior adversário.
Patrick Winkler
Atleta e Editor- Chefe da Revista Swim Channel, Colunista da Radio Bradesco Esportes FM. Especialista no mercado esportivo, atua junto aos atletas, organiza e participa de grandes eventos de natação e maratonas aquáticas, assessora empresas, produtos e gerencia os canais de mídia. Desenvolveu e dirigiu as vendas de diversos artigos esportivos. Sua trajetória inclui gestão empresarial nas empresas detentoras das marcas Speedo, Rip Curl e Arena. Patrick Winkler é graduado em administração de empresas na Universidade Mackenzie, e pós-graduado em Gestão do Esporte pelo Instituto Trevisan.