Jogos mexicanos têm 68 recordes mundiais e fazem o mundo conhecer dois tipos de doping
A Olimpíada de 1968, na Cidade do México, apresentou ao mundo dois tipos de doping.
O primeiro, natural, resultado da altitude: disputados a 2.240 metros do nível do mar, com resistência do ar menor e 30% de oxigênio a menos, os Jogos tiveram 68 recordes mundiais e 301 recordes olímpicos quebrados.
O segundo, artificial. A Cidade do México viu, pela primeira vez, o controle antidoping em Olimpíadas. Somente um atleta foi eliminado por testar positivo a substâncias proibidas: o sueco Hans-Gunnar Liljenvall, do pentatlo moderno, por excesso de álcool.
Além disso, testes de comprovação de sexo para as provas femininas foram adotados, pelas suspeitas sobre as características físicas de algumas campeãs dos países do bloco socialista. Nenhuma mulher foi desclassificada, mas várias atletas importantes não se inscreveram para os Jogos.
O evento teve alto grau de envolvimento político, já que o ano de 1968 foi um dos mais politizados da história. No país-sede, pouco antes da abertura, 300 mil estudantes e professores entraram em greve e, dez dias antes da festa de abertura, tropas do governo abriram fogo contra milhares de manifestantes na praça das Três Culturas, matando centenas de jovens.
No resto do mundo, a China vivia o início da Revolução Cultural. Na Tchecoslováquia, os sonhos de liberdade eram esmagados por tanques soviéticos na "Primavera de Praga". Na França, o governo enfrentava manifestos estudantis e, nos Estados Unidos, eram assassinados Robert Kennedy e o líder negro Martin Luther King.
Três pódios para o Brasil
O Brasil aproveitou os primeiros Jogos disputados na América Latina para conseguir seu melhor desempenho olímpico da década. No México, foram uma medalha de prata e duas de bronze.
No atletismo, o salto triplo novamente rendeu medalha ao Brasil. Depois do bicampeonato de Adhemar Ferreira da Silva, foi a vez de Nelson Prudêncio conquistar a prata. Ele saltou 17,27 m, novo recorde mundial. Na última tentativa, quando o brasileiro já saboreava a vitória, o soviético Viktor Saneyev atrapalhou a festa verde-amarela e saltou 17,39 m, conquistando o ouro.
No boxe, o paulista Servílio de Oliveira conquistou a primeira e única medalha do Brasil na modalidade, bronze nos meio-médios, após perder na semifinal para o mexicano Ricardo Delgado.
A terceira medalha veio em uma modalidade que, no futuro, se tornaria a mais vitoriosa do país em Olimpíadas, a vela. Na classe Flying Dutchmann, Reinaldo Conrad e Burkhard Cordes ganharam o bronze.
O Brasil esteve próximo de outras duas medalhas. No basquete, a seleção masculina foi derrotada na disputa pela medalha de bronze pela União Soviética, por 70 a 53. Na natação, José Silvio Fiolo terminou a prova dos 100 m peito a um décimo de segundo dos soviéticos Vladimir Kosinsky e Nikolai Pankin, medalhas de prata e bronze, respectivamente.