Sul-africana supera dúvida de sexualidade e falta de dinheiro para tentar ouro olímpico em Londres

Do UOL, em São Paulo

  • AFP PHOTO/OLIVIER MORIN

    Caster Semenya venceu os 800 m no Mundial de Berlim e foi contestada

    Caster Semenya venceu os 800 m no Mundial de Berlim e foi contestada

A sul-africana Caster Semenya, de 21 anos, é uma das atletas que já tiveram a desagradável experiência de passar pelo que deve ser o maior constrangimento para uma competidora de alto rendimento: ter que provar que é mulher.

QUEM É CASTER SEMENYA

Nome: Mokgadi Caster Semenya
Idade: 21 anos
Nacionalidade: Sul-africana
Conquistas: Ouro no Mundia de Berlim-09

Depois de vencer os 800 m rasos no Mundial de Berlim, em 2009, Semenya foi suspensa pela IAAF (Associação Internacional de Federações de Atletismo) até que comprovasse ser uma mulher.

Os trâmites para que pudesse comprovar seu gênero demoraram 11 meses, incluindo vários testes.

Tudo começou devido aos seus tempos muito velozes na prova, o que se seguiu de uma suspeita de hermafroditismo e a abertura de investigação.

A atleta, que tem aparência feminina, passou por testes de DNA e os exames comprovaram que ela é portadora de uma deficiência cromossomática, o que faz com que tenha características masculinas e femininas.

A competidora não tem ovários nem útero, mas possui testículos ocultos internamente. Isso faz com que produza testosterona acima do normal para uma mulher. Mas acabou liberada pela IAAF para competir normalmente.

Mas o drama não parou por aí. Ela sofreu com o preconceito e mesmo depois da liberação, não tinha verba suficiente para treinamentos e viagens em função da imagem arranhada pelas investigações.

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Em 2010, Semenya passou a contar com o apoio das redes sociais. Dois jovens resolveram criar uma campanha no Facebook, vendendo camisetas e acessórios de carros para celular para arrecadar dinheiro para a campeã mundial.

Conseguiu dar a volta por cima em 2011 e participar do Mundial em Daegu, na Coreia do Sul, obtendo a medalha de prata. Este ano, atingiu o índice para participar de sua primeira Olimpíada.

“A intenção é vencer as Olimpíadas. Isso é tudo”, se limitou a dizer Semenya logo após garantir vaga em Londres. “Quero ganhar o ouro. É o que quero. A Olimpíada é uma grande oportunidade. Todo mundo quer ganhar.”

O constrangimento vivido por Semenya não é o único do tipo. Já houve vários casos semelhantes, inclusive com atletas brasileiras. Antes dos Jogos de 1996, em Atlanta, a judoca Edinanci Silva teve que passar pela mesma situação.

Realizou duas cirurgias reparatórias de sexo para ser aprovada no teste de feminilidade obrigatório. Ela ficou abalada com a ampla divulgação do caso e terminou em quinto lugar.

Outro caso clássico foi com Érika, ex-atacante da seleção feminina de vôlei. Ela não passou no teste de feminilidade realizado pela Federação Internacional de Voleibol durante o Campeonato Mundial Juvenil de 1997.

No exame foi detectado excesso de testosterona (hormônio masculino), e a federação obrigou o técnico Bernardinho a cortar a jogadora da competição, sob ameaça de desclassificar o Brasil. Clubes que disputavam a Superliga também questionaram a presença de Érika.

A atleta tinha uma má formação dos órgãos reprodutores e teve de ser submetida a uma cirurgia e a tratamento hormonal. Um ano depois, após novos testes realizados na Europa, Érika conseguiu o "cartão rosa" e pôde voltar à seleção.


A primeira dúvida e teste realizado em Olimpíadas foi em 1936, em Berlim. Naquela oportunidade, a americana Helen Stephens, dos 100 m rasos, foi acusada ser homem e foi inspecionada por médicos alemães. Os médicos concluíram que era uma mulher, mas na década de 80, em autópsia após sua morte, foi comprovado que era um homem.

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