Primeira participação em Jogos Olímpicos em 1964, em Tóquio, então com 23 anos. Agora, em Londres, presença em mais uma edição, com 71 e status de atleta mais velho. Este é  o cavaleiro japonês Hiroshi Hoketsu, que causa inspiração e reverência em mais jovens, mas também um pouco de contestação.

Hoketsu compete na prova do adestramento, uma modalidade mais clássica das que fazem parte do hipismo em Jogos. Nela, o cavaleiro desenvolve trabalho plástico e procura realçar movimentos naturais do cavalo. Mas, diferentemente de outras provas, o homem não tem um desgaste tão grande e responsabilidades na condução como na prova de saltos, por exemplo. Nesta, o condutor tem que transpor obstáculos com o animal.

“O adestramento tem menos riscos. O Neco [Nelson Pessoa] deve estar com 76 e monta em casa sem o menor o problema”, falou Bernardo Alves, que participou dos Jogos de Atenas e Pequim, nos saltos.

“O cavaleiro no adestramento é menos exigido do que no salto por não realizar movimentos e esforços bruscos como no salto. O esforço do salto é maior. Mas não quer dizer que no adestramento não exista. Tem que ter bom condicionamento físico. Mas no salto é de muito mais impacto do que no adestramento”, falou Salim Negri, diretor de adestramento da Confederação Brasileira de Hipismo.

Outro fato lembrado por atletas que facilita o recorde é ter um bom cavalo. Competidor do adestramento, a mesma prova de Hoketsu, o brasileiro Leandro Aparecido da Silva diz que as montarias do japonês o ajudaram no recorde.  A égua que ele usará  na capital inglesa, Whisper, é considerada de alto nível e uma das responsáveis por sua longevidade.

“Não sei sobre esse [animal] que ele vai levar agora, mas em Pequim ele tinha um muito bom, muito bom mesmo. Era bem bacana. O que vai mudar um pouco no desempenho é a qualidade do animal que você vai ter. Esse japonês tem bons cavalos, então sempre está no top. É possível chegar sim [a competir nessa idade]”, disse Leandro Aparecido da Silva.

Mas os questionamentos não deixam de render elogios a Hoketsu . “Só de estar vivendo [aos 71 anos] seria bom, imagina então estar montado”, falou Leandro, que tem pouco menos da metade da idade do japonês, com 32.

“Como em qualquer esporte, [o cavaleiro] depende do bom condicionamento físico. Tem que fazer exercício físico para ter preparação. Não é só montar e conduzir. Tem que estar bem fisicamente”, falou Rogério Clementino, atleta brasileiro também do adestramento.

 “Eu espero estar competindo com 71, e ele fazer isso mostra que estamos no começo da carreira. Estamos começando, observando grandes cavaleiros. Mas precisamos de animais com qualidade pra disputar em alto nível.”

Enquanto outros atletas ressaltam o bom cavalo e facilidades da prova do adestramento para uma pessoa de 71 anos chegar a disputar uma Olimpíada, Hoketsu dá a sua receita, em tom bem humorado.

“Não tem segredo especial. Eu acordo às 7 horas da manhã. E antes acordava às 5 horas, andava de bicicleta, ia pra casa e depois ia para o trabalho, durante 30 anos. Agora eu posso dormir até as 7 horas. Um luxo”, falou, em entrevista coletiva há cerca de dois meses. “Cozinho quatro vezes por semana e evito óleo”, continuou.

Hoketsu, no entanto, não garantirá em Londres o rótulo de atleta mais velho a participar de uma edição dos Jogos. Isso pertence ao sueco Oscar Swahn, nos Jogos de 1920, na Antuérpia. O europeu competiu  com 72 anos, um a mais do que o asiático.

Mas o recorde pode ser quebrado, quem sabe, nos Jogos do Rio, em 2016. E chegar com 75 anos nesta competição não é problema para Hoketsu. Mas sim outro, já citado anteriormente. Sua égua, Whisper,  vai estar muito velha.

“Eu tenho noção do recorde [se for para os Jogos do Rio]. Mas, sinceramente, acho muito difícil. Ela já estará com 19 anos. E é muito, muito difícil achar um cavalo que me leve.”

O japonês se classificou para os Jogos de Londres no início de março, quando ele e sua montaria, a égua Whisper, ganharam uma etapa na França. Ela chegou a se contundir em novembro, quando Hoketsu até jogou a toalha em relação às chances de participar da Olimpíada. Mas depois a égua se recuperou.