Imagine o entusiasmo na preparação de um atleta da natação classificado para uma prova olímpica que conta, entre outros nomes, com a lenda do esporte Michael Phelps. Nos últimos tempos o paraguaio Benjamin Hockin tem acordado com a presença nos 200 m livre nos Jogos de Londres viva na cabeça, mas, quando parte para treinar em sua terra, com touca e óculos devidamente instalados, não encontra um espelho d'água dos mais convencionais para mergulhar. Neste instante, toda a empolgação da façanha internacional vira frustração com a falta de uma piscina de dimensões oficiais (50 metros) em seu país.

Medalhista de bronze no Pan 2011 e vencedor do último Sul-Americano, em Belém, Hockin engole o orgulho cotidianamente para treinar para a Olimpíada em uma piscina de apenas 25 metros, dividindo espaço com crianças em um clube da capital Assunção. É aí que o status de atleta olímpico precisa de alguma forma se adaptar a um cenário de improviso, que aparece acompanhado do sentimento de indignação.

Dias depois de assegurar a vaga nos Jogos em março passado, o nadador de 25 anos conseguiu uma audiência oficial com o presidente do país, Fernando Lugo, levando na pauta de discussão algo que parece quase banal para outras nações que estarão em Londres: o pedido de construção de uma piscina olímpica.

"É bastante complicado treinar em uma piscina de 25 metros para competir em piscina olímpica, é uma coisa muito difícil de fazer. Fazemos tudo que podemos nessas circunstâncias. Não contamos com uma piscina olímpica no Paraguai. Estamos falando deste projeto com o governo, com a secretaria nacional esportes, para termos uma piscina olímpica. Lamentavelmente não contamos com essa estrutura", afirmou Hockin em entrevista ao UOL Esporte, por telefone.

"Ele [Lugo] prometeu uma piscina olímpica para os treinamentos. É algo que já está se levando a cabo, quem sabe para o final deste ano ou o começo do ano que vem", afirmou o nadador, descrevendo o encontro na residência oficial do presidente.

Recentemente Hockin esteve no Rio de Janeiro para a disputa de um evento de preparação para Londres. No entanto, descartando estes eventuais intercâmbios internacionais, sua rotina de trabalho no Paraguai inclui uma piscina geralmente movimentada, cheia de pequenos compatriotas distantes do nível olímpico. São crianças à procura apenas de noções técnicas nos estilos que compõem a natação. Apesar do improviso, o nadador assegura que, no fim das contas, não se sente diminuído pela circunstância, mas motivado para inspirar a garotada.

"Treino em um clube social, que recebe todos os tipos de pessoas. Treino ao lado de muitas crianças, muitos no mesmo horário. Não se pode usar [a piscina] normalmente. Mas se você treina com outras crianças, elas te veem como uma referência. Elas veem onde podem chegar treinando nas mesmas circunstâncias", declara Hockin, que trabalha há dois anos sob direção do treinador brasileiro Angelo Camarossano.

Sem piscina para treinar na terra natal, Hockin espera que a promessa de Lugo saia do papel para o próximo ciclo olímpico. No entanto, admite que o planejamento do esporte paraguaio para os Jogos de 2016 no Rio não depende exclusivamente de um buraco de 50 metros de comprimento.

"Para esta vez a ajuda chegou muito tarde, deveria ter vindo quatro anos atrás. Temos que apostar cedo nos jovens que têm boas possibilidades para o Rio, país que está ao nosso lado", diz, sobre incentivos recebidos do Comitê Olímpico Paraguaio.

ATLETA RENUNCIOU À GRÃ-BRETANHA PARA NADAR PELO PARAGUAI

Londres marca a segunda Olimpíada na carreira de Benjamin Hockin, que já honrou outra bandeira nos Jogos de Pequim há quatro anos. Na China, o atleta integrou a equipe de revezamento 4x100 m livre da Grã-Bretanha, que terminou com a oitava colocação.

Depois de sua primeira Olimpíada, no entanto, o nadador decidiu adotar a cidadania da terra de sua mãe. Hockin é nascido em Barranquilla, na Colômbia, filho de um britânico com uma paraguaia. Em 2010, o atleta diz que optou por defender "a nação onde estão os seus amigos".

Mas uma confusão na parte burocrática na troca de nação fez com que Hockin fosse punido com um ano de afastamento pela Fina (Federação Internacional de Natação), em gancho que terminou em maio de 2011. No caso em questão, o atleta entrou na piscina em um evento internacional defendendo o Paraguai, mas oficialmente ainda registrado como britânico. O nadador atribui a sanção a uma falha de comunicação entre as federações dos dois países, no processo de papelada exigida em situações do gênero.