Técnico revela Esquiva "chorão" e diz que lutador precisou ser moldado com carinho
Bruno Freitas e Maurício Dehò
Do UOL, em Londres (Inglaterra) e São Paulo
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AFP PHOTO / Jack GUEZ
Esquiva Falcão faz seu tradicional gesto de comemoração nos Jogos Olímpicos de Londres
Medalhista de prata neste sábado, após a final da categoria médio diante do japonês Ryota Murata, Esquiva Falcão é considerado o integrante mais introspectivo da seleção brasileira de boxe que foi aos Jogos de Londres. Segundo o técnico da equipe, o dono do melhor desempenho do país em Olimpíadas é um boxeador “chorão”, que precisou ser moldado com tratamento de carinho, apesar de sempre ter sido destemido sobre o ringue.
Nascido em Guiné-Bissau, João Carlos Barros trabalhou por quase duas décadas com o boxe em Cuba. Por lá, imerso em uma das mais celebradas escolas internacionais da modalidade, formou sua personalidade de treinador. Mas a característica de comando precisou ser adaptada a casos como o de Esquiva.
ESQUIVA É PRATA
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Pela segunda vez em menos de um ano, os punhos do japonês Ryota Murata colocam fim ao sonho de Esquiva Falcão. Diante do mesmo algoz do Mundial de 2011 e por apenas um ponto (14 a 13), o brasileiro foi derrotado neste sábado na decisão do ouro da categoria médio (até 75 kg) e volta para casa com a medalha de prata no pescoço. Como prêmio de consolação, traz do ringue dos Jogos de Londres a façanha de ter sido o primeiro atleta do país em uma final olímpica do boxe.
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“O Esquiva é um pugilista que chora quando a gente fala mais duro. Uma vez fiquei uma fera porque perdeu, falei: ‘por que você fez isso? Não devia ter feito tal coisa’. Ele começou a chorar. Aí tive que lidar com mais calma, falando: ‘não é bem assim, eu estou falando tudo isso para o bem da sua carreira’. Precisamos usar o carinho com ele”, relata o técnico da seleção brasileira de boxe.
Enquanto o irmão que também está na seleção de boxe [bronze entre os meio-pesados em Londres] é fã de música sertaneja e vive cantando, Esquiva é mais chegado em um funk. Mesmo assim tem a reputação de ser um atleta mais circunspecto.
“Ele é completamente diferente do irmão dele. O Yamaguchi é mais de festa, fica cantando na concentração. O Esquiva é mais fechado, quieto, na dele”, emenda Barros.
Esquiva é um dos 15 filhos vivos de Touro Moreno [três já morreram], um veterano pugilista que se mantém em atividade a despeito de seus 75 anos [faz lutas ocasionais no Espírito Santo, com adversários na casa dos 40]. O medalhista olímpico teve infância e adolescência de privações e flertou com a delinquência.
Enviado pela família a São Paulo, Esquiva se encontrou no boxe sob a tutela de Servílio de Oliveira, empresário no clube São Caetano. Treinado em parte da adolescência por Ivan de Oliveira, filho do medalhista de bronze, o capixaba mostrava gostar dos desafios, apesar do lado chorão.
"Um pouco diferente do Yamaguchi, o Esquiva era aquele cara destemido. Ele tinha 17 para 18 anos e já queria enfrentar os lutadores da seleção, o [campeão pan-americano] Pedro Lima, o Myke Carvalho. Nós tínhamos que segurar o seu ímpeto, para ele ficar pronto e poder vencê-los na hora certa", explica Ivan.
Esquiva chegou a treinar também no Rio de Janeiro, na academia de Raff Giglio na comunidade do Vidigal. Foi depois deste período que ele passou a ficar na seleção, até chegar a estes Jogos.
Aos 22 anos, Esquiva Falcão disputou em Londres a primeira Olimpíada de sua carreira. No entanto, já habitava o ambiente de seleção no ciclo anterior e treinou com atletas que foram para os Jogos de Pequim em 2008. Sua vaga para competir veio com o bronze no Mundial do Azerbaijão, em 2011.
O dono do melhor desempenho do boxe brasileiro na história é pai de um menino, Erik Falcão Florentino, que vive com a mãe. Durante a preparação olímpica, o bebê arrancou cartazes da parede do pai com mensagens motivacionais de “campeão olímpico”.
Durante as finais do boxe em Londres, Esquiva afirmou que não sabe se continuará dentro da seleção brasileira por muito tempo, em razão do sonho do pai de que os filhos [Yamaguchi incluído] migrem para o MMA. O medalhista disse que segue na modalidade por pelo menos mais dois anos, mas não confirmou se pretende trabalhar para os Jogos de 2016 no Rio de Janeiro.