Confederação "sobe o nível" e deixa quatro atletas com índice fora de Londres

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

Atletas brasileiros que fizeram os índices exigidos pela Iaaf (Federação Internacional de Atletismo, na sigla em inglês) não poderão ir a Londres. Para aumentar o nível da delegação do país e evitar que alguns cheguem nos Jogos apenas pela “experiência”, a CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo) “subiu o nível” na hora de montar sua seleção. Com isso, deixou fora da delegação quatro atletas que, teoricamente, poderiam ir às Olimpíadas.

Mahau Suguimati (400 m com barreiras), Hederson Alves (400 m), Érica Sena (marcha atlética de 2 km) e Lucimara Silvestre (heptatlo) compõem essa lista. Todos eles fizeram o índice A da Iaaf, mas não irão a Londres porque as marcas exigidas pela CBAt eram ainda mais fortes que aquelas exigidas mundialmente.

“Eu fiz o máximo que eu pude. O índice da Iaaf eu já tinha batido. É difícil você fazer um tempo de 20º do ranking e não ir. Tem prova que o índice é de 50º do mundo. Mas a CBAt colocou isso e a gente tem de respeitar”, disse Mahau Suguimati, que não atingiu a marca necessária no Troféu Brasil por seis centésimos.

A Iaaf decide seus índices para os Jogos Olímpicos levando em consideração o número de vagas disponíveis em cada prova. A partir daí, a entidade traça uma média entre as marcas dos atletas que atingiram as melhores posições em competições recentes.

Já a CBAt faz uma média entre os atletas que estiveram na 12ª colocação nos dois últimos Mundiais e na Olimpíada de Pequim-2008. Dessa forma, exige que o brasileiro classificado tenha, em tese, condições de chegar a uma semifinal. Na prática, portanto, os atletas brasileiros têm direito a serem inscritos nos Jogos, mas não o são por uma opção técnica da entidade verde-amarela.

“É uma questão delicada, uma discussão muito profunda que vemos tendo internamente há muitos anos. Nossa experiência com essa exigência foi boa. Em algumas provas, atletas que estavam acostumados a fazer um tempo mais folgado tiveram de melhorar suas marcas para chegarem ao índice”, disse Ricardo D’Angelo, treinador-chefe da CBAt.

A opção impede que o Brasil tenha pelo menos um atleta em determinadas provas. Só que o dirigente desmente a tese de que é bom ir aos Jogos para “ganhar experiência”. “Se a gente faz isso e leva 50 atletas, aqueles que vão para ganhar experiência atrapalham quem está lá querendo a medalha, porque o foco é diferente”, disse Ricardo. 

Além daqueles que não irão a Londres, a regra também atrapalhou uma parte da delegação cujo passaporte está carimbado. Evelyn dos Santos e Rosângela Santos, por exemplo, vão aos Jogos para outras provas, mas também poderiam disputar os 200 m caso só o índice da Iaaf fosse exigido. Caio Bonfim, que garantiu a vaga na marcha atlética só na última quinta, poderia estar assegurado desde maio. 

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