Londres 2012: Vila Olímpica é "testada" por visitantes antes de receber atletas

Gordon Farquhar

Da BBC, em Londres

  • REUTERS/Olivia Harris

    Imagem do interior de um dos quartos da Vila Olímpica, já com cobertores com alusão aos Jogos

    Imagem do interior de um dos quartos da Vila Olímpica, já com cobertores com alusão aos Jogos

Em geral, quando os repórteres chegam à Vila Olímpica, o local está fechado a visitantes e sob um forte esquema de segurança. Só sobra um pequeno espaço restrito, longe dos quartos, onde a imprensa pode conduzir entrevistas previamente agendadas com atletas e técnicos.

Mas, por apenas algumas horas, a Vila dos atletas de Londres-2012, no leste da capital britânica, foi "invadida" por cerca de mil intrusos: administradores esportivos, patrocinadores, representantes de bairros londrinos e integrantes da imprensa - incluindo a BBC.

Éramos, na verdade, cobaias, usados para testar se os serviços da Vila estão prontos e aptos para atender seus 16 mil hóspedes. A primeira coisa ao entrar na Vila é ser submetido a burocracias: checagem de credenciais e passaportes, revista de malas... A orientação era de não levar ao local recipientes com mais de 100 ml de líquidos, como nos voos internacionais.

Depois disso, fomos autorizados a entrar. Até então, só tinha visto a Vila Olímpica durante sua construção, e a transformação desde então é grande: com 36 hectares, o local abriga 2,8 mil apartamentos em 11 blocos. Há desde apartamentos de um dormitório até pequenas casas que acomodam cinco camas.

Algumas dessas camas - todas cobertas com mantas temáticas dos Jogos Olímpicos - podem até ser ajustadas para acomodar os atletas mais altos.

Uso de longo prazo
Após os Jogos Olímpicos, o local será convertido em um espaço residencial. Os prédios da Vila têm designs individuais, diferentemente das torres uniformes de concreto que já vi em outros países. Esculturas adornam os jardins, e o chão é feito de resina, arenito e partes de pavimento convencional. Não sei se esses detalhes importarão aos atletas, mas certamente ajudarão na hora que o local entrar à venda no mercado imobiliário.

Ao entrar no meu apartamento, vejo novamente que, dada sua construção sólida e de qualidade aceitável, ele foi pensado no uso de longo prazo. As cozinhas terão de ser readaptadas, porque por enquanto terão pouco uso: os atletas devem fazer a maioria de suas refeições numa enorme cantina dentro da Vila Olímpica, preparada para servir até 5 mil pessoas simultaneamente.

E, se o instável clima britânico permitir, os atletas poderão usar também uma área externa para fazer churrascos. Mas, durante a nossa visita, a garoa com ventos fortes impossibilitou essa diversão. Outras atrações são uma área de lazer com dez mesas de sinuca, um bar (estocado apenas como bebidas sem álcool), música ambiente e letreiros em néon.

Para tratar lesões, ali perto fica um centro médico bem aparelhado, com uma equipe de fisioterapeutas, podólogos e dentistas. A expectativa é de que o centro trate cerca de 200 atletas por dia durante os Jogos para, depois da competição, ser entregue ao sistema público de saúde da Grã-Bretanha.

Logística e show
E, para cuidar da logística do local, existe o Centro de Serviços da Vila, onde ficarão, ainda, uma academia de ginástica e um centro multirreligioso, com símbolos do judaísmo, do cristianismo, do islã, do hinduísmo e do budismo. 

Passados os Jogos Olímpicos, a previsão é que o local seja transformado em uma escola, com vagas para 1,8 mil crianças e adolescentes de 4 a 19 anos, especializada em artes performáticas. Enquanto eu estava ali, assisti ao show de uma das bandas encarregadas de animar a Vila Olímpica durante a permanência dos atletas.

Atletas contarão com área de lazer, com mesas de sinuca e bar sem álcool
Quanto à minha noite passada na Vila Olímpica, ela foi mais confortável graças às cortinas "black-out" instaladas no quarto, mas menos confortável por causa de um bater de portas no corredor às 3h da manhã.

Fui acordado por um SMS dos Correios dizendo que meus ingressos para os Jogos Olímpicos seriam entregues naquele dia. Um aviso apropriado, suponho. Deixei a Vila Olímpica me perguntando quem me sucederá no quarto 23B e me sentindo mais em sintonia com a Olímpiada do que nunca.

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