Quando César Cielo conquistou a medalha de bronze nos 100 m livre, na quarta-feira, e disse que iria trazer também a medalha de ouro, poucos acreditaram no que o nadador falava. Nesta sexta-feira, ele cumpriu a promessa. Com 21s30, a apenas dois centésimos do recorde mundial, o brasileiro quebrou novamente a marca olímpica da prova e conquistou o primeiro ouro do Brasil em Pequim.
"É difícil, os 50 m são sempre difíceis. Com nadadores como esse ao lado nunca se sabe. No fim, tudo deu certo", celebrou o brasileiro.
Com a medalha de ouro dos 50 m livre, conquistada nesta noite (manhã de sábado em Pequim), ele se torna o primeiro brasileiro campeão olímpico da natação. Antes dele, as principais glórias nas piscinas eram de prata, duas com Gustavo Borges (100 m livre em Barcelona-1992 e 200 m livre em Atlanta-1996) e uma com Ricardo Prado (400 m medley em Los Angeles-1984).
Dois franceses completaram o pódio, Amaury Leveaux com 21s45 para levar a prata, e Alain Bernard, atual campeão olímpico dos 100 m livre, bronze com 21s49.
"Eu estava nervoso antes. Todos que entraram na final, qualquer um podia vencer. Fiquei focado na minha raia, fui buscar meu melhor. Não olhei em volta. E foi meu dia de sorte, meu melhor foi suficiente", comentou o brasileiro.
Nas eliminatórias para a prova, Cielo já dava sinais de que poderia surpreender. No primeiro dia em que caiu na água para nadar a distância, ele quebrou o recorde olímpico, com 21s47 - a marca foi quebrada logo na seqüência por Leveaux, com 21s46.
Nas semifinais, ele voltou a abaixar o melhor tempo já nadado em edições olímpicas. Com 21s34, o paulista foi para a final com o melhor tempo entre os oito classificados.
O medalhista de ouro em Pequim disse que, aos poucos, foi ganhando a certeza de que tinha chances reais de brigar por medalha. "[A crença no ouro] Começou ontem depois da semifinal, quando nadei abaixo do recorde olímpico e senti que podia nadar um pouquinho mais abaixo ainda. Fiquei o dia inteiro pensando nessa prova, mas alguma coisa me ajudou a dormir. Consegui dormir, mesmo nervoso".
Nada mal para o garoto de Santa Bárbara d'Oeste que tentou, antes da natação, ser judoca ou jogador de vôlei. "O problema do judô é que eu era muito mais alto que os meninos da minha idade, então me colocavam pra lutar com os mais velhos e eu levava muita porrada". O vôlei foi uma escolha do pai, também César. Quem definiu a carreira do nadador, porém, foi a mãe, Flávia, que o levou para o Pinheiros em 2003.
Em São Paulo, ele passou a treinar com o nadador que, anos mais tarde, superaria: Gustavo Borges. "Fiquei quase dois anos treinando com ele e aprendi muita coisa. O Gustavo é muito atencioso e perfeccionista, e me ajudou a melhorar minha técnica", conta. Foi o veterano que levou o jovem nadador para Auburn, a universidade em que se consagrou como um dos maiores velocistas do circuito universitário norte-americano.
E foi de Auburn que veio outra peça chave na conquista: o australiano Brett Hawke. Técnico na universidade, ele se integrou à comissão técnica da equipe brasileira à pedido de Cielo, para manter o programa de treinos tão vitorioso que o brasileiro fazia nos EUA. Ex-nadador olímpico, Hawke foi sexto em Atenas-2004.
"O que eu sempre digo a ele é que a melhor fase da minha carreira veio quando eu menos pensava nos meus adversários", lembra o técnico. Nos 100 m livre, em que nadou na raia oito, o conselho funcionou para o bronze. Nos 50 m livre, foi ainda mais longe: valeu ouro.