Após esforço contra duelo familiar, irmãos Falcão sobem no ringue por histórica 1ª final brasileira

Bruno Freitas e Maurício Dehò

Do UOL, em Londres (Inglaterra) e em São Paulo

  • REUTERS/Murad Sezer

    O mais jovem Esquiva será o primeiro dos irmãos Falcão a entrar no ringue nesta sexta-feira

    O mais jovem Esquiva será o primeiro dos irmãos Falcão a entrar no ringue nesta sexta-feira

O Brasil nunca teve um finalista olímpico no boxe e nesta sexta-feira pode garantir ao menos uma medalha de prata para uma dupla de irmãos – o bronze já está assegurado. Yamaguchi e Esquiva Falcão são os protagonistas de uma história com enredo de cinema, iniciada no Espírito Santo pelo veterano pugilista Touro Moreno, e que chega a mais um capítulo decisivo. Para ambos irem à Olimpíada juntos e avançarem até esta dobradinha como medalhistas, eles superaram fome, saudade e apostaram até em um sacrifício do "pequeno" Yamaguchi. Tudo em busca de não apenas um ouro inédito, mas dois.

A missão começa com o mais novo Esquiva, às 11h (de Brasília). O pugilista de 22 anos desafia a torcida da casa para enfrentar o britânico Anthony Ogogo na semifinal da categoria até 75 kg. À noite em Londres, 18h em horário brasileiro, Yamaguchi, 24, encara o russo Egor Mekhontcev por vaga na final da categoria até 81 kg.

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O detalhe principal desta dobradinha está neste último peso: 81 kg. Curiosamente, os irmãos têm praticamente a mesma altura - Yamaguchi tem 1,79 m, um centímetro a menos que Esquiva – e deveriam competir no mesmo peso, 75 kg. No entanto, para evitar a concorrência e, como se vê em Londres, ampliar a chance de medalhas, o mais velho se tornou uma aposta na categoria meio-pesado, enfrentando competidores muito maiores.

Os irmãos Falcão trocaram o Espírito Santo por São Paulo no início da adolescência, primeiro com Yamaguchi, que depois levou Esquiva consigo para treinar no clube São Caetano. No entanto, vendo a semelhança em seus tamanhos, desde pequenos eles passaram a se dividir em categorias.

"Essa mudança sempre foi uma conveniência, na verdade. E não para que não se enfrentassem, mas para terem mais chances de classificação. Como o Yamaguchi é mais velho, acabou sempre sendo um pouco mais pesado. E hoje temos a chance de dois finalistas", explica Ivan de Oliveira, que foi técnico do ex-campeão mundial Sertão e acompanhou o trabalho do irmão Gabriel de Oliveira, também treinador, na adolescência da dupla.

1º MEDALHISTA TORCE

Folhapress
Torço para que eles me superem e tragam o ouro. Seria uma satisfação, algo bom para eles, como pessoas, e também para o boxe, que sempre foi um primo pobre no Brasil.

Servílio de Oliveira, medalhista de bronze nos Jogos do México, em 1968

Ainda que tenha vencido suas três lutas com grandes atuações, Yamaguchi precisou enfrentar atletas como o chinês Fanlong Meng, de 1,90 m, e mostrou que com a velocidade pode superar os obstáculos de lutar fora de seu peso ideal. Pela parte de Esquiva, também um lutador ágil, é a pegada forte e a garra que tem feito a diferença.

"Para um cara teoricamente mais fraco na parte física, a velocidade acaba sendo o diferencial do Yamaguchi. O boxe olímpico hoje mescla a velocidade com a contundência, diferentemente do que se via antes, que parecia uma esgrima. Com o estilo deles, de ir para frente, eles têm muita vantagem em relação aos rivais", analisou Ivan.

Yamaguchi e Esquiva chegaram a lutar em categorias mais leves, sendo o primeiro no 75 kg e o mais novo no até 69 kg. O corte de peso dificultava boas atuações nos torneios mais longos. A chance de subirem veio com o fim de carreira na seleção de Washington Silva, quadrifinalista em Pequim-2008 no até 81 kg, que abriu vaga para uma série de atletas trocarem de categoria, sofrerem menos com a balança e, a exemplo dos Falcão, melhorarem seus resultados.

O fato é que, com tudo isso, o Brasil duplicou as chances de faturar o seu tão sonhado ouro e superar a marca de Servílio de Oliveira nos Jogos do México, em 1968. O peso mosca (até 51 kg) foi medalhista de bronze, feito que demorou 44 anos a ser igualado. Adriana Araújo foi a responsável por repetir a conquista, já em Londres, e os Falcão garantiram pouco depois a melhor campanha brasileira na história do boxe. Resta saber se eles ficarão com o já garantido bronze - o boxe não tem disputa de terceiro lugar - ou se uma nova cor brilhará em suas medalhas.

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