Após Popó e Cigano, técnico baiano completa coleção de feitos com bronze de Adriana
Maurício Dehò
Do UOL, em São Paulo
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Arquivo Pessoal
Adriana Araújo e o técnico Luiz Dórea, que trabalham juntos há 14 anos e comemoraram de longe o bronze
Um campeão mundial no boxe profissional, outro no amador, uma medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos e até um título do UFC. A coleção de conquistas do técnico Luiz Dórea já era extensa, mas, nesta quarta-feira, ele completou a série de feitos que poderia almejar, quando sua pupila Adriana Araújo confirmou a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Londres. O baiano ratificou sua posição como um dos melhores treinadores do país e, definitivamente, o mais vitorioso nos números.
A parceria entre a também baiana Adriana e Dórea já dura 14 anos, mesmo que ela fique parte do ano em São Paulo, trabalhando com os outros técnicos da seleção. A pugilista mencionou diversas vezes o baiano em seus agradecimentos, como um dos motivadores da conquista. De Salvador, Dórea festejou o feito e destacou a raça da medalhista de bronze.
“Estou feliz, todo mundo fez uma festa muito grande aqui na academia. Graças a Deus ela pode me dar essa alegria”, afirmou Dórea, ao UOL Esporte. Ele festejou ainda o fato de o fim do jejum de 44 anos do boxe brasileiro em ir ao pódio olímpico ser encerrado pelos punhos de uma mulher, na estreia delas em Jogos. “Nós sempre apostamos no boxe feminino, há muitos anos colocamos elas para treinar e lutar. Sabíamos que havia uma grande chance de vir uma medalha com uma mulher.”
Dórea foi campeão mundial junior como lutador, mas preferiu se dedicar à carreira de técnico, ao mesmo tempo em que também é investigador de polícia - agora, concorre para vereador na capital baiana. Em sua academia, ele teve a sorte batendo à porta quando surgiu um garoto de nome Acelino Freitas para treinar, e com Popó chegou ao título mundial no boxe profissional, em 2000, a primeira grande conquista de uma série que só ampliaria no decorrer dos anos.
Além de Popó, pelas mãos de Dórea apareceram nomes como Pedro Lima, campeão pan-americano no Rio de Janeiro, em 2007, e Everton Lopes, o primeiro campeão mundial de boxe olímpico do Brasil na história, em 2011.
Hoje, o técnico baiano deixou de ser respeitado apenas pelo boxe. No bairro de Baixa das Quintas, em Salvador, montou ao lado do ringue um octógono e se tornou um “mestre” campeão no MMA. Tudo começou com a parceria com os irmãos Rodrigo Minotauro e Rogério Minotouro, que praticaram boxe com ele e, depois de famosos no vale-tudo, voltaram para voltar a afiar a nobre arte com Dórea. Mas a conquista definitiva veio com Júnior Cigano, de quem é o técnico principal nas artes marciais mistas. O catarinense faturou o cinturão dos pesados do UFC em 2011.
Hoje o MMA passou a ser carro chefe, pelo maior investimento na modalidade, que virou febre com a ascensão do Ultimate Fighting Championship. Os recursos no boxe são parcos, mas ele mantém os alunos de seu esporte de origem paralelamente com o trabalho com nomes como Cigano.
Em entrevista ao UOL Esporte em Salvador, em 2010, Dórea contou que o sonho que ainda faltava era a medalha olímpica. E a aposta já era nas mulheres. “Meu sonho é a medalha olímpica e não vou desistir. Sou um cara realizado, já conquistei tudo, e só falta a medalha. E tem boas chances de vir com o feminino. Está mais fácil com elas”, disse ele, profetizando o que aconteceria com Adriana nesta quarta.
É claro que Dórea se contentou com o bronze, mas o foco para 2016 será tentar mudar a cor da medalha, de preferência para o ouro. Adriana, no entanto, já disse não ter planos de competir nos Jogos Olímpicos do Rio e pode apostar no boxe profissional ou até no MMA.
“Se diminuírem a idade [limite do boxe olímpico, de 34 anos], ela ficaria fora. Agora vamos ver o que vai acontecer com ela. Para mim, seria legal que ela continuasse mesmo no boxe olímpico. Mas se não for assim, podemos pensar mesmo no profissional ou mesmo no MMA”, explicou Dórea.