Irlandês volta aos Jogos e tenta reaver ouro perdido por doping para Pessoa
Gustavo Franceschini
Do UOL, em Londres (Inglaterra)
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REUTERS/Mike Hutchings
Cian O'Connor durante a prova eliminatória de salto; irlandês voltou aos Jogos 8 anos após ser campeão
- DODA E RODRIGO PESSOA COMEÇAM BEM NA ETAPA DE CLASSIFICAÇÃO
Cian O’Connor realizou o sonho de todo atleta olímpico. Ganhou a medalha de ouro e a levou para casa. Mas, meses depois, recebeu a notícia de que teria de devolvê-la. Viu seu concorrente, o brasileiro Rodrigo Pessoa, virar campeão olímpico. Oito anos após o trauma, o irlandês que perdeu o título pelo doping de seu cavalo voltou aos Jogos e disse que pensa na glória perdida desde 2004.
“Foi difícil para todo mundo na época, mas eu tive de tentar deixar isso para trás”, disse o irlandês, que não titubeou ao falar sobre o desejo de dar a volta por cima. “Eu só penso nisso há oito anos”, completou O’Connor, que voltou aos Jogos Olímpicos no último sábado.
Em Atenas, ele foi campeão dos saltos no hipismo, mas dois meses depois o exame antidoping apontou que seu cavalo, Waterford Crystal, tinha competido com uma substância ilegal. A amostra B e alguns documentos ligados a ela sumiram na Federação Irlandesa de Hipismo e o caso foi parar em um tribunal da FEI (Federação Internacional de Equestrianismo), que entendeu que o animal tinha resíduos de um medicamento utilizado legalmente meses antes dos Jogos, e que não afetava a performance.
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“Só que é assim, regras são regras, a tolerância é zero e eu tive de aceitar”, disse o cavaleiro, que, então aos 24 anos, já tinha se superado ao subir no pódio olímpico. Dois anos antes de Atenas, ele perdeu a namorada em um acidente trágico. Hazel O’Callaghan estava tentando descarregar um cavalo de um trailer quando foi acidentalmente atingida, caiu de uma rampa e se feriu gravemente. Depois de alguns dias em coma, ela morreu e abalou o atleta.
“Foi horrível. O funeral foi inacreditavelmente duro para os pais e a família dela. Para mim, foi como se um grande buraco tivesse aparecido em minha vida”, disse O’Connor ao jornal irlandês Independent, que depois de 2004 ainda teve de lidar com a marcação implacável da mídia de seu país e dos colegas de profissão. Em destaque por todos os acontecimentos, ele foi muito criticado também por ser neto de Tony O’Reilly, ex-jogador de rúgbi e magnata da mídia no país, que é uma figura controversa.
O acúmulo de problemas o deixou fora dos Jogos de Pequim, mas no último ciclo olímpico ele se recuperou, conquistou bons resultados e voltou às Olimpíadas. “O público foi incrível. A gente sempre fala em se concentrar, mas em uma Olimpíada, com toda a torcida, eu não consegui evitar um sorriso na hora que entrei na arena”, disse o irlandês, que começou bem sua participação nos Jogos, zerando o primeiro percurso.