Site oficial põe sírio como parente de ditador e gera mal estar e protesto no hipismo
Gustavo Franceschini
Do UOL, em Londres (Inglaterra)
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Flávio Florido/UOL
Vestidos com roupas com as cores da bandeira síria, imigrantes pedem liberdade para o país
A pequena delegação da Síria nos Jogos Olímpicos esteve na mira da imprensa, mas o cavaleiro Ahmad Hamcho ganhou atenção especial. Depois de manifestar seu apoio ao presidente Bashar Al-Assad, ele tornou-se alvo de protestos internacionais, especialmente depois que foi apresentado pelo site oficial de Londres 2012 como parente do ditador.
A informação foi divulgada inicialmente pelo jornal The Independent, da Inglaterra, que publicou que ele seria casado com uma das filhas do irmão de Al-Assad. O site dos Jogos, citando a fonte, usou o dado para apresentar o cavaleiro, que compete nos saltos e estreou neste sábado zerando o primeiro percurso.
“Eu não tenho nenhuma relação familiar com o presidente Al-Assad”, limitou-se a dizer Hamcho na saída da arena montada no Greenwich Park. A negativa do atleta, porém, não bastou para um grupo de cerca de dez pessoas ligadas ao BSS (Solidariedade Britânica para a Síria, na sigla em inglês), que fizeram um protesto pacífico na entrada da instalação esportiva.
Vestidos com roupas com as cores da bandeira síria, imigrantes sírios que vivem na Inglaterra pediam que os torcedores entrassem na arena do hipismo com um selo grudado à roupa que pedia liberdade para o país do Oriente Médio, que vive uma séria guerra civil. Além disso, eles exibiam cartazes cobrando Ahmad Hamcho por apoiar um “regime que já matou mais de três mil pessoas”.
Um dos responsáveis pela manifestação, que conversou com a reportagem, apresentou Ahmad Hamcho como um “primo de segundo grau” do ditador. O primo de verdade de Ahmad, que chegou a estender uma bandeira síria na arquibancada, também desmentiu. “Não é verdade. É porque o filho dele [Al-Assad] praticava hipismo, então eles confundem”, disse o sírio de 28 anos, que vive em Londres e apoia o regime em seu país.
“É uma situação muito triste, tem de haver diálogo. O governo está tentando dar estabilidade, mas as pessoas têm de deixar as armas. As pessoas reclamam que o exército está nas cidades, mas esse é o dever deles. Eu converso com os meus amigos que ainda estão lá e eles dizem que veem bandeiras da Al-Qaeda nas cidades rebeldes. É porque países como Arábia Saudita e Qatar estão apoiando os rebeldes”, disse o primo de Hamcho, que estava com a família na arena, se assustou quando foi avisado pela reportagem do protesto e preferiu não se identificar.
Hamcho, o cavaleiro mais jovem a participar da competição de saltos, também apoia Al-Asaad. Foi uma declaração pública sua, há alguns meses, que deu início à confusão. Em meio a todos os protestos contra o regime sírio, ele disse que representaria todos os atletas do país, inclusive o presidente. Neste sábado, ele preferiu não se estender no assunto.
“Se eles [que estão protestando] são sírios, eles são estúpidos. Eles deviam estar apoiando todos os atletas do país”, disse Hamcho, que confirmou que apoia Al-Asaad. “Sim, mas este não é o momento de falar de política”, disse o jovem de apenas 19 anos.