Bruno Doro
Em Pequim (China)
Em Atlanta-1996, Fernando Scherer entrou na final dos 50 m livre com o oitavo tempo. “Não dá”, pensaram. Deu. A medalha de bronze do catarinense nas águas norte-americanas foi a última individual da natação brasileira. Nesta quarta-feira (horário de Brasília), agora nas Olimpíadas de Pequim, a história se repetiu.
Depois de 12 anos do feito de Scherer, coube a César Cielo mais uma vez desafiar os favoritos, cair na água com tempo pior do que o de todos os seus rivais, e sair da água festejando o pódio. O tempo de 47s67 foi o melhor da vida do nadador de Santa Barbara d´Oeste. O melhor da história de um sul-americano.
“Ontem (terça-feira), o professor Ricardo (Moura, supervisor da CBDA, Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) me lembrou que o Fernando tinha saído da raia oito para o bronze nos 50 m. Disse que já tinha visto essa história. Eu pensei que ele estava louco, mas quando cheguei na piscina, senti que pelo menos o bronze estava aberto. Que dava para pegar”, afirmou o novo medalhista.
O que parecia impossível, também, era prestar atenção à raia oito. Todos que estavam no complexo aquático do Cubo d’Água, em Pequim, tinham seus olhos voltados para as raias centrais, onde a dupla batalhava pelo ouro e prata. Logo ao lado estava Pieter van den Hoogenband, atual bicampeão olímpico da distância.
“Até agora eu não sei ainda como eu fiz isso. Pensei, estou na raia oito, longe da marola. E pior do que oitavo eu não podia ficar. Tentei ir para cima e fiz a minha prova perfeita. Em nenhum momento olhei para o lado", explicou Cielo.
O nadador paulista entrou na água como zebra total. O melhor tempo de sua vida, 47s91, não estava entre os primeiros colocados. Em Pequim, até o início dessa final, tinham sido nadadas oito das dez melhores provas dos 100 m da história, com o recorde mundial da distância tendo sido quebrado três vezes.
Cielo passou pelos primeiros 50 m em terceiro e manteve a colocação no final, com 47s67. Chegou empatado com o norte-americano Jason Lezak, que nadou na raia ao seu lado. Ao final da prova, Cielo olhou para o placar e não acreditou. Seu nome era o quarto na lista. Ele não acreditou. “Olhei, meu nome estava em quarto, mas eu tinha certeza que tinha visto um três ali. Tinha certeza”. Foi então que ele percebeu o empate e, enfim, comemorou.
O brasileiro não conteve a emoção e foi às lágrimas ao falar de seu feito. "É muito bom, parece que era para ser, eu tinha sonhado que tinha ficado em terceiro, mas acordei e falei estou na raia oito. Mas consegui. É muito bom trazer essa medalha para o Brasil".
Cielo relembrou a tradição do país em ter bons nadadores nas provas de velocidade da natação. "A melhor coisa é trazer o Brasil de volta para o mapa das provas de velocidade. Trazer medalha que não tinha desde 2000 e individual que não tinha desde 96. É uma honra muito grande subir no pódio representando o Brasil".
O ouro parecia impossível, com os dois maiores nomes da distância nas raias centrais. O francês Alain Bernard e o australiano Eamon Sullivan trocaram recordes mundiais em Pequim durante o revezamento 4x100 m e as eliminatórias dos 100 m livre – curiosamente, a marca de 47s05 de Sullivan nas semifinais não foi quebrada. Bernard foi ouro com 47s21.
Publicado no dia 13 de agosto de 2008