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30/07/2008 - 07h00

Bernardinho teme que Brasil sofra queda semelhante a Federer

Fernando Narazaki
Em Guarulhos
Dona de um monopólio raro nos esportes coletivos, a seleção brasileira masculina de vôlei sofreu duas derrotas para EUA e Rússia na fase final da Liga Mundial, amargou o pior resultado na era Bernardinho e viu o próprio treinador admitir ser este a fase mais crítica da equipe nos oito anos em que está à frente da equipe.

Mais do que as marcas negativas, Bernardinho, porém, tem outro receio. O comandante teme que a derrocada repita a trajetória de outro fenômeno esportivo do século 21: o tenista suíço Roger Federer.

Desde 2001, a seleção ganhou 21 torneios (incluindo a Olimpíada de 2004, dois Mundiais, seis Ligas Mundiais e duas Copas do Mundo), foi vice em cinco oportunidades e levou o bronze no Pan de 2003. Além disso, criou uma invencibilidade notável sobre Sérvia (não havia vencido com Bernardinho de técnico brasileiro) e Rússia (que não vencia desde 2002), mas ambas caíram nesta edição da Liga.

Na fase final, o time sofreu uma implacável derrota por 3 sets a 0 para os EUA na semifinal, e em seguida foi superado pelos russos por 3 sets a 1, uma série quase inédita de duas derrotas consecutivas na era Bernardinho (sob o comando do treinador, isso só havia ocorrido em 2002, também na Liga Mundial).

Os resultados levam o técnico a acreditar que os tropeços possam marcar uma nova era como aconteceu no tênis, modalidade que assiste ao domínio de Roger Federer desde 2004. Após três temporadas praticamente irretocáveis (foram apenas 14 derrotas em 262 jogos), ele passou a enfrentar dificuldades ao amargar uma série de duas derrotas para o argentino Guillermo Cañas nos Masters Series de Indian Wells e Miami em 2007.

Após vencer o número um, o argentino mostrou que Federer não era "imbatível" como muitos pensavam e, a partir daí, o suíço passou a conviver com a derrota. Foram 17 derrotas em apenas 16 meses, incluindo tropeços para antigos fregueses (como o norte-americano Andy Roddick, de quem havia vencido 15 de 16 jogos) e um amargo 6-0 na final de Roland Garros-2008, algo que não enfrentava desde junho de 1999.

Questionado se o momento vivido pela seleção poderia ter semelhança com a queda de Federer, Bernardinho admitiu o seu temor. "Isso é o que mais preocupa. Naquele momento, os outros viram que o Federer não era tão imbatível. A gente também percebia que alguns times tinham dúvidas se realmente poderiam bater a gente. Agora eles sabem que podem", definiu.

Fã do suíço, o técnico espera que a seleção saiba vencer esta situação e mostrar aos rivais que o caminho para bater o Brasil não é tão fácil como mostraram Rússia e EUA. "Eles percebem que o Brasil não é tão imbatível como diziam, e cabe a nós mudar isso", explicou.

O receio do comandante brasileiro, no entanto, já pôde ser visto no domingo, logo após o triunfo dos EUA na Liga Mundial. O técnico da Sérvia, Igor Kolakovic, admitiu que não vê mais o Brasil com o mesmo temor de outros tempos. "Pode ser o início de um período mais equilibrado. Espero que seja assim", apontou.

Nas Olimpíadas, a seleção terá a chance de mostrar se evitará ou não uma mudança no lugar mais alto do pódio. E justamente em uma competição que marca a despedida do meio-de-rede Gustavo e do oposto Anderson. Além deles, outros atletas com mais de 30 anos (casos de André Heller, Escadinha e Marcelinho) cogitam a possibilidade de encerrar a trajetória na seleção após Pequim.

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