Homens compensam ciclo feminino fraco, e ouro de Zanetti vira trunfo para CBG exaltar gestão

Gustavo Franceschini e Paula Almeida

Do UOL, em Londres (ING) e em São Paulo

  • REUTERS/Brian Snyder

    Ouro de Zanetti confirmou o crescimento da ginástica masculina brasileira no último ciclo

    Ouro de Zanetti confirmou o crescimento da ginástica masculina brasileira no último ciclo

Se há quatro anos dissessem que o Brasil conquistaria uma medalha olímpica em 2012, muitos apostariam que seria de uma mulher. E no solo ou no salto, jamais nas argolas. Não foi o que aconteceu. O ciclo entre os Jogos de Pequim e Londres fez uma nova estrela no Brasil, Arthur Zanetti, e confirmou o crescimento masculino que já se desenhava com os títulos de Diego Hypolito. Mas viu uma queda acentuada nos resultados da equipe feminina, sem novos talentos e ainda muito dependente de atletas do passado.

Pai "Professor Pardal" e pega-pega marcam caminho de Zanetti

  • Arte UOL

O nome de Zanetti ficou conhecido do grande público há menos de dois anos, com a evolução em etapas de Copa do Mundo, Sul-Americano e Pan-Americano. O ginasta de São Caetano, porém, já vinha sendo moldado há bem mais tempo, na pequena academia em que treina até hoje com aparelhos desenvolvidos por seu próprio pai. Era a mesma realidade de Sérgio Sasaki, o outro finalista brasileiro em Londres, 10º colocado no individual geral e há menos de um ano atleta do Flamengo.

“Nós nunca tivemos patrocínio até alguns meses atrás. Sempre trabalhamos com dinheiro da prefeitura [de São Caetano] e da Associação de Pais”, lembra Marcos Gotto, técnico de Arthur e da seleção brasileira masculina, torcendo para que o resultado de seu pupilo mude os rumos da ginástica no Brasil.

“Falta patrocínio, falta estrutura. O que eu quero é que o país inteiro agora apoie o esporte. Fala-se muito em 2016, mas vamos ver o que será feito até lá. Nós que estamos no esporte sabemos que o atleta de 2016 já está pronto. Não se faz um atleta de alto rendimento em quatro anos”, completou.

GINÁSTICA FEMININA NO CICLO

  • Daniel Ramalho/AGIF

    Várias ginastas foram testadas no último ciclo, mas no final, Daiane dos Santos e Daniele Hypolito continuaram sendo as principais estrelas do time. Somadas as medalhas da dupla com as de Ethiene Franco e Bruna Leal, também presentes em Londres, foram 13 pódios em Copas e 3 no Pan

A CBG (Confederação Brasileira de Ginástica), por sua vez, vê com olhos diferentes. “Se você pensa na ginástica de primeiro mundo, os investimentos na China, nos Estados Unidos, na Rússia, é evidente que falta muito investimento. Mas todo investimento aumentou consideravelmente durante esses anos”, pontua Klayler Mourthé, supervisor de seleções da entidade.

Para o dirigente, resultados positivos como o ouro de Zanetti ajudam a dar visibilidade à ginástica brasileira. “Precisamos caminhar de maneira segura. A ginástica nunca teve tanta exposição na mídia. E a gente precisa dessa exposição para atrair investidores. A gente precisa dar passos de acordo com a possibilidade de cada instante. E crescer de forma constante. É impossível transformar um pais de terceiro mundo em um de primeiro mundo em 10 anos, a mesma coisa no esporte”.

GINÁSTICA MASCULINA NO CICLO

  • Felipe Rocha/UOL

    Sérgio Sasaki (e) e Arthur Zanetti foram os destaques do Brasil no último ciclo olímpico. Ao lado de Diego Hypolito, foram 17 medalhas em Copas, 2 medalhas em Mundiais e 1 medalha olímpica. O trio também liderou o Brasil na inédita conquista do ouro por equipes no Pan-2011

Os resultados de Zanetti, a permanência de Diego Hypolito na elite de solo, o aumento dos investimentos e o surgimento de centros de treinamentos pelo país podem servir de trunfos para a CBG, cuja presidente, Luciene Resende de Freitas, pretende tentar a reeleição no pleito de dezembro. Entretanto, a queda da ginástica artística feminina e da ginástica rítmica (que não se classificou para Londres) mancham o ciclo.

Em Pequim, Daiane dos Santos, Jade Barbosa e Daniele Hypolito levaram ao Brasil à final por equipes e conseguiram disputar quatro medalhas individuais. Em Londres, após conseguir a vaga olímpica na última chance – o evento-teste de janeiro –, o time feminino terminou em último lugar na disputa coletiva e nenhuma atleta avançou às disputas por aparelhos.

É consenso, até mesmo dentro da CBG, que o fato de o Brasil continuar dependente de ginastas mais velhas – Daiane, Daniele, Jade (que não foi à Olimpíada por questões contratuais) e Laís Souza (cortada duas semanas antes dos Jogos) – foi fundamental para a queda de rendimento. Avaliar o trabalho de base como suficiente, a CBG argumenta que a geração atual não foi frutífera para formar um time novo e bom.

“Sempre tem uma transição de uma geração pra outra. Pode ter uma onde surjam atletas muito bons, e outra sem tantos atletas. Hoje, visando 2016, nós já temos a Rebeca Andrade [de 13 anos]. Para 2012, tínhamos a Letícia Costa, que é extramente talentosa, mas teve problemas de lesão. Era uma atleta com possibilidades muito boas”, avalia Klayler. “A masculina não teve transição, é uma geração nova que estava sendo preparada”.

A possibilidade de retomar a seleção permanente não está em discussão. Apesar de nenhuma grande ginasta ter surgido neste ciclo olímpico, a Confederação acredita que a dispersão das atletas entre os clubes é mais saudável. “A gente continuou classificando uma equipe. Para ficar entre as 12 melhores equipes do mundo, é preciso ter uma qualidade de ginástica considerável”, pondera o supervisor.

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