Exposição desmonta clichês e mostra orgulho e drama das mulheres árabes no esporte

Gustavo Franceschini

Do UOL, em Londres (Inglaterra)

Com a ajuda política do COI (Comitê Olímpico Internacional), a participação das mulheres muçulmanas no esporte tem se tornado um tema constante, especialmente na atual edição dos Jogos Olímpicos. De carona no tema, a fotógrafa francesa Brigitte Lacombe decidiu, patrocinada pelo governo do Qatar, conhecer e fotografar as histórias de 50 atletas árabes de diferentes países. O resultado é a exposição Hey’Ya (“Vamos lá”, em tradução livre do árabe para o português) que, em Londres, desmonta clichês e mostra o orgulho e o drama dessas esportistas.

São diversas fotos das atletas, que foram escolhidas durante os Jogos Árabes do ano passado, disputados em Doha, capital do Qatar. Depois, ela ainda visitou as entrevistadas em seus respectivos países para fazer as fotos e os vídeos que estão expostos na Sotheby’s, famosa casa de leilões, que oferece a exposição gratuitamente até o dia 11 de agosto.

Lacombe é famosa pelos seus retratos de estrelas de Hollywood. Com a companhia da irmã Marion Lacombe, ela mostrou que nem todas as mulheres árabes têm do quê reclamar em seus países. “As pessoas dizem que os homens têm mais oportunidades, mas eu acho que isso não é verdade. A chance é igual para todos, sejam homens ou mulheres”, diz Sabine Hazborn, palestina que compete na natação.

É claro que as histórias variam entre si. Nem todas dizem o mesmo que Sabine mas, em geral, se orgulham do papel que cumprem como esportistas. “Eu acho que eu posso ajudar a emancipar as mulheres. Eu tive muito apoio dos meus pais, porque não é fácil para uma mulher sair do país quando ela não é casada e ainda está estudando”, diz Feta Ahamada, que compete pela ilha de Comoros, mas vive na França.

O grande exemplo, no entanto, vem do Marrocos. Nawal El Mouwatakel foi aos Jogos Olímpicos de 1984, venceu os 400 m com barreiras e tornou-se a primeira africana e a primeira muçulmana a ser campeã olímpica. “Aqueles 54 segundos mudaram a vida de muitas mulheres no mundo. Quantas não olharam para mim e disseram: ‘Por que eu não posso conseguir?’”, diz a ex-atleta, que hoje é executiva do COI.

Nem as limitações de vestimenta também não incomodam as garotas. O time de handebol do Qatar, por exemplo, joga em temperaturas altas de calças e com véus islâmicos cobrindo os cabelos. “Eu posso mostrar minhas mãos, sem problemas. Essa é a minha religião, eu aceito. Há alguns anos eles nos deixariam praticar, mas só localmente. Hoje já estão aceitando melhor a ideia”, conta Hannah Al Badar, capitã da equipe.

Só que nem todos os times estão autorizados a ir muito longe. As irmãs Lacombe contam a história do Green Team, uma equipe de basquete da Arábia Saudita que não pode sair da quadra em que praticam, dentro de um condomínio. “A minha família é dona do terreno onde está a nossa quadra, e eles queriam desmontar o espaço para construir um prédio. Eu tive de convencê-los a não fazer isso. O esporte para mulheres não é permitido em espaços públicos, só em locais privados. Não há nenhuma regra escrita sobre isso, mas ninguém pratica”, conta a técnica do time, não identificado pelas autoras em seu depoimento.

O caso da Arábia Saudita é emblemático. Somente nesta edição dos Jogos o país autorizou o envio de representantes mulheres, que foram convidadas pelo COI. A judoca Wodjan Shahrkani, uma das duas escolhidas que vieram a Londres, ainda foi o centro de uma polêmica ao recusar-se a retirar seu véu para lutar, como pediam os oficiais do esporte, que diziam que ela podia se machucar durante a luta com a peça tradicional. No fim, um acordo foi feito e ela entrou no tatame com uma espécie de touca de natação, que não satisfez completamente os mais radicais. 

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