Beijos e danças mostram o lado delicado do boxe feminino nas Olimpíadas

Rodrigo Bertolotto

Do UOL, em Londres (Inglaterra)

  • Rodrigo Bertolotto/UOL

    Boxeadora norte-americana tira foto com fã durante a disputa do boxe feminino nos Jogos Olímpicos

    Boxeadora norte-americana tira foto com fã durante a disputa do boxe feminino nos Jogos Olímpicos

A luz é de boate. A música no talo é “Are You Gonna Go My Way”, de Lenny Kravitz. A garota vem dançando. Alguém do público grita “We Love Edith”. A descrição podia ser de uma balada. Mas a roupa de Edith Ogoke não combina muito com uma noitada.

São 16h30 no horário britânico, e a nigeriana está vestida para subir a um ringue e levar uns catiripapos de uma russa. O boxe feminino invadiu o último feudo masculino na Olimpíada, e todos os jornais cravam que é um dia histórico para o esporte (agora só falta os homens disputarem o nado sincronizado para a total igualdade de gêneros).

Histórico para o Brasil também porque o boxe brasileiro volta a garantir medalha desde 1968, quando Servílio de Oliveira no México venceu o solitário bronze da pugilismo nacional. Adriana Araújo bateu a boxeadora marroquina Mahjouba Oubtil  e chegou à semifinal e ao pódio, resta saber a cor de sua medalha.

Os gritos de “Vai Brasil” e “Come On Brazil” se confundiam na arena 2 do Excel londrino. “Eu apostei com meu marido que a brasileira ia vencer, e ela conseguiu”, contou a entusiasmada Kara Rogers, vendedora de seguros, na arquibancada olímpica.

A torcida mais numerosa, porém, é para a irlandesa Katie Taylor, considerada a melhor boxeadora amadora do mundo. Vestidos de duendes e enrolados em bandeiras tricolores do país, os irlandeses incentivaram todo o tempo durante a vitória sobre a britânica Natasha Jonas.

O esporte varonil de dirigentes machistas deu lugar à delicadeza feminina. Como classificar, então, o gesto da sueca Ana Laurell depois de levar tanta bordoada da norte-americana Clarissa Shields: ela trocou beijos com a rival e com seu técnico.

Já as boxeadoras russas ganhavam beijo na boca de seus técnicos. E elas mereceram, porque mostraram bom nível técnico e são fortes candidatas ao ouro nos três pesos em disputa em Londres (mosca, leve e médio).

“As pessoas têm ideias loucas: acham que as mulheres que praticam o boxe vão virar o Arnold Schwarzenegger, perder a feminilidade e não poderão ter filhos. Essas histórias eram para manter as garotas fora dos ringues”, opina Gloria Peek, treinadora dos EUA. “O boxe é um esporte perfeito para as mulheres porque elas gostam de briga e não desistem de uma. ”

As boxeadoras norte-americanas foram muito assediadas pelos fãs, que queriam autógrafos e fotografias junto. Mas uma delas não parecia muito feliz. “Essa história de fazer história, de sermos as pioneiras na Olímpiada não é suficiente. Eu dediquei metade da minha vida a isso”, se queixou Quanita Underwood após a derrota para a britânica Natasha Jones.

O boxe feminino só foi permitido nos EUA a partir de 1993 após uma ação judicial da adolescente Dallas Malloy. O veredicto foi: a mulherada pode trocar socos. A filha da lenda Muhammad Ali, Laila, foi uma das primeiras pugilistas profissionais dessa leva.

Em 2004, o filme “Menina de Ouro”, de Clint Eastwood, ajudou a popularizar a ideia de que as mulheres podiam ser pugilistas. Só cinco anos depois o COI (Comitê Olímpico Internacional) aprovou o boxe feminino no programa de Londres-2012.

A torcida em Londres entrou na onda e torceu fervorosamente. O público vaiou os juízes quando anunciaram a derrota da nativa Savannah Marshall para Marina Volnova, do Casaquistão. Savannah mostrou ginga nos pés, mas a coreografia de seus punhos ficou na luva da rival.

Contudo, o mais legal do boxe feminino é ver o técnico abrindo as cordas do ringue para a boxeadora entrar. No lugar da tradicional garota da placa, uma boazuda de plantão segurando o número do round a seguir, entra uma garota preparada dali sair grogue ou consagrada.

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