Olimpíada invade parques, mas londrinos preferem pegar um bronze na grama

Rodrigo Bertolotto

Do UOL, em Londres (Reino Unido)

  • Rodrigo Bertolotto/UOL

    Dezenas de cadeiras estão disponíveis no Hyde Park para quem quer aproveitar o dia ensolado

    Dezenas de cadeiras estão disponíveis no Hyde Park para quem quer aproveitar o dia ensolado

Os triatletas vão correr, nadar e pedalar no Hyde Park. Os maratonistas vão dar voltas e voltas pelo Saint James Park. Os cavalos vão saltar e fazer coreografias no Greenwich Park. A grama de parque é a areia de praia dos ingleses, onde eles se desnudam para tomar sol e onde eles mostram seu lado farofeiro (bom por cá, eles chamam isso de picknick).

E os moradores de Londres não vão mudar seus hábitos pelo borburinho olímpico na vizinhança. “Até a semana passada foi um verão péssimo, mas o sol decidiu aparecer, então, quero aproveitar ao máximo o calor. Vou ficar quatro horas me bronzeando”, afirmou a atriz islandesa Siddy Holloway. Ela não pretende acompanhar os Jogos. “Moro no centro de Londres, e isso aqui vai virar uma confusão. Já comprei minha passagem para a Croácia. Vou para a praia”, completou.

Os esportes nos parques são a principal alternativa para ver de perto a Olimpíada para quem não conseguiu ou não quis comprar ingressos. Porém, para quem é frequentador, é só mais uma opção de entretenimento.

Já no Greenwich Park, as competições de equitação e pentatlo moderno expulsaram o visitante comum da maioria de suas instalações. Para conseguir ver o Observatório Real, por exemplo, é preciso ter um ingresso olímpico.

O turista normal não consegue mais fazer a foto convencional, posando com um pé no hemisfério oeste e outro no leste. Só para esclarecer: o mundo acerta seus relógios pelo GMT  (Greenwich Main Time). Lá fica o tal meridiano de Greenwich, importante desde 1884 para os navegadores, astrônomos e quem tem curiosidade de saber a hora em outros países.

Lá começa e termina os dias. Lá o oeste encontra o leste. Mas desde 7 de julho e até o fim das Paraolimpíadas, em setembro, o parque está fechado por questões de logística e segurança.

Já nos outros parques as interferências são parciais e pontuais. Neste sábado, por exemplo, a ligação entre o palácio de Buckingham, o Saint James Park e o Hyde Park foi interrompida duas vezes para dar passagem aos ciclistas da prova de estrada.

Muitas pessoas aproveitaram o dia ensolarado para torcer para os britânicos sobre rodas. Foi o caso do casal Richard Bromley e Sarah Jones, que ficaram as seis horas entre a largada e a chegada sem largar pé de seu lugarzinho privilegiado. “Nosso cardápio é morangos, sanduíches de presunto, cupcake e muita água. Eu cortei a cerveja porque bebi demais ontem”, revela Richard, enquanto sua namorada se distraia fotografando esquilos em uma moita ao lado.

O contado Geoff Perry seguiu a mesma estratégia para seguir a prova, mas o menu foi mais consistente: salsicha apimentada, torta de porco e cerveja. “Viemos da Isle of Man, perto da Irlanda, de ferry boat e carro e só voltamos quando a Grã-Bretanha ganhar um ouro”, brinco o morador da ilha de 8.000 habitantes e dois ciclistas na equipe olímpica do Reino Unido.

Quem pagou ingresso pode ver a arrancada e o Sprint final da prova de estrada, além de acompanhar tudo por um telão. Aos outros restou guardar lugar por horas e só ouvir pelos alto-falantes do parque o que estava acontecendo naquele momento.

Menos fanático, o bancário londrino Rod Babington tomava sol no gramado durante a prova, vestido com roupa de escritório, só tirando o sapato para relaxar os pés. “Com um pouco de cor no muito rosto eu já estou satisfeito”, revelou baixo um calor de 32 graus Celsius, comprovando o ditado local “Só cachorros loucos e ingleses saem ao sol do meio-dia”.

A dinamarquesa Anja Peterson, que é designer gráfica de empresa inglesa, também estava mais preocupada com o tom de sua pele que com o quadro de medalhas. “Eu tenho que tomar umas quatro horas de sol por dia para compensar tantos dias de chuva que enfrentamos”, conta Anja, toda espraiada na grama do Hyde Park.

Nesse parque, o maior dos parques reais (Greenwich é outro), há um lugar bem pitoresco. É o Speaker`s Corner. Lá qualquer pessoa pode praticar o que o Reino Unido se gaba de ter inventado: a liberdade de expressão. Os frequentadores se reúnem, falam, discutem e discursam sobre qualquer assunto.

O lugar é tão tradicional que conta-se que Karl Marx, George Orwell e William Morris já foram frequentadores. A reportagem do UOL só encontrou por lá Thomas Warn, que se auto-intitula  “O Exterminador”. Ele estava há duas horas em pé sobre um aparelho de som tocando jazz e esperando um interlocutor quando foi requisitado para uma entrevista. Sua resposta, contudo, foi evasiva:  “Sobre a Olimpiada eu não vou falar porque acabou de começar. Não posso opinar sobre algo que não terminou.”
 

UOL Cursos Online

Todos os cursos