Nova sensação, handebol feminino tem psicologia "anti-amarelada" para ganhar jogos apertados
José Ricardo Leite
Do UOL, em Londres (ING)
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Jorge Akimoto
Jogadores da seleção brasileira de handebol entram confiantes para o torneio
Nada como um Mundial em casa e um bom resultado para o discurso e os objetivos mudarem. A quinta colocação em 2011 faz a seleção feminina de handebol sonhar com muito mais. E a vitória sobre a Croácia, ontem, por 24 a 23, aumenta ainda mais o status de time sensação.
Antes mesmo da primeira partida, a equipe trocou o antigo discurso de a competição servir como preparação para bons resultados em torneios futuros. Falou em pódio. Virou uma das esperanças do país para medalhas.
“É totalmente diferente dessa vez. Estamos chegando pra essa Olimpíada bem mais preparadas. A realidade de subir ao pódio está bem próxima”, falou a goleira Chana, que participou das edições de 2000, 2004 e 2008, quando o time caiu na primeira fase.
“Nos primeiros jogos do Mundial só ia quem acompanhava handebol mesmo. E com o passar dos jogos foi aumentado o público. O brasileiro começou a se motivar pela garra que demonstramos na quadra. Eles viram que a gente se entregava muito”, falou.
O Mundial de São Paulo, no ano passado, no Ibirapuera, teve grande presença de público nos jogos da equipe, que caiu nas quartas de final, para a Espanha, e ficou com a quinta colocação, a melhor da história.
Ao contrário dos times femininos de basquete e vôlei, que chegaram a Londres com ambientes nebulosos em funções de cortes polêmicos no elenco, o handebol demonstra alta afinidade entre técnico e elenco. Bárbara foi cortada, mas pouco se falou, ao contrário dos de Iziane, no basquete, e Mari, no vôlei.
O técnico Morten Soubak, dinamarquês, sempre ressalta que trabalha bem o psicológico do time e palavras como “amareladas” são vetadas. O treinador já demonstrou várias vezes que quer usar o jeito brasileiro de ser, com emoção, pelo lado positivo. O grupo tem junto, inclusive, o trabalho de uma psicóloga, Alessandra Dutra.
“Sobre lado emocional, acho que virei brasileiro, posso levar meu emocional também. Mas esse é um fator brasileiro que eu considero positivo. Ao invés de falar ´”ah, é brasileiro, é o emocional´, eu não. Eu quero levar isso pelo lado positivo e definir que vamos ganhar”, falou Morten.
As jogadoras do Brasil sempre enfatizaram o lado emocional trabalhado por Morten e repetidas vezes falam em confiança para decidir. O dinamarquês revela como pretende fazer o time crescer nos momentos decisivos.
Morten, inclusive, disse antes do início dos Jogos acreditar que o time poderia se dar bem em jogos com placares apertados e decididos no final, como na vitória de ontem. Tudo isso é usado para fortalecer a base mental e o poder de decisão aparece.
“Já escutei várias vezes, muitas vezes, tanto quando eu trabalhava fora do Brasil, como agora, trabalhando no Brasil, coisas como ´ah, o brasileiro é isso, é cabeça quente´. Por exemplo, todo mundo fala que perdemos da Espanha [por diferença pequena no final]. Mas ninguém lembra que ganhamos jogos como contra a Croácia [em outra oportunidade], por um gol. Que ganhamos da França. Mas só lembrarm que perdemos da Espanha [no Mundial]”, falou.
“E isso não é só com só com a nossa seleção. É com clubes, e outros esportes. É a mesma coisa. É interessante. Só se fala quando se perde por um gol. Acho que posso levar o jeito brasileiro do sentimento e alegria para a quadra a nosso favor. Se isso vai se transformar em vitória, não sei. Mas o grupo está muito forte e acreditando que pode decidir o jogo no final”, continuou.
Além de Brasil e Croácia, Montenegro, Rússia, Grã-Bretanha e Angola completam o Grupo A. Já o Grupo B terá Suécia, Noruega, Espanha, Dinamarca, França, Suécia e Coreia do Sul.
Os quatro primeiros times de cada grupo passam para a segunda fase e se enfrentam nas quartas de final. O Brasil volta a quadra nesta segunda, contra Montenegro, às 15h30 (horário de Brasília).