Seleção encara choque cultural para "gostar de marcar" e satisfaz exigências de Magnano

Bruno Freitas

Do UOL, em São Carlos (SP)

  • Gaspar Nóbrega/Inovafoto

    Brasileiros se esforçam na defesa em lance da partida contra a Nigéria no torneio em São Carlos

    Brasileiros se esforçam na defesa em lance da partida contra a Nigéria no torneio em São Carlos

A cabeça clássica do jogador de basquete brasileiro sempre costumou priorizar  as ações de ataque, e assim a história da modalidade no país apresenta basicamente uma infinidade de bons chutadores. Mas, ao assumir a seleção nacional em 2010, o técnico Rubén Magnano entendeu que precisava provocar uma espécie de choque de cultura para extrair resultados melhores que os dos últimos anos. Hoje, às portas da volta do time à Olimpíada, o argentino celebra o êxito de ter feito seus comandados "gostarem de marcar".

Nas três partidas da seleção masculina nesta semana no Torneio Eletrobras em São Carlos, no início dos amistosos de preparação para Londres, a equipe de Magnano exibiu uma devoção quase obsessiva ao trabalho de defesa. Contra Nova Zelândia, Nigéria e Grécia, os brasileiros mostraram empenho na marcação da saída de bola adversária, logo nos primeiros metros da quadra de ataque, e um aproveitamento alto de rebote defensivo no garrafão.

TORNEIO EM SÃO CARLOS

Contra a Nova Zelândia
Rebotes defensivos: 22
Aproveitamento de dois pontos do rival: 41%
Erros do rival: 18
Contra a Nigéria
Rebotes defensivos: 26
Aproveitamento de dois pontos do rival: 39%
Erros do rival: 14
Contra a Grécia
Rebotes defensivos: 20
Aproveitamento de dois pontos do rival: 53%
Erros do rival: 15

O desempenho defensivo nos primeiros jogos de preparação olímpica arrancou palavras elogiosas do treinador argentino.

"Estamos de volta às Olimpíadas por conta da nossa defesa, foi o que nos colocou nos Jogos de Londres", comentou Manganano.

"O nosso jogador sabe da importância da defesa. Os que jogam na NBA sabem, e os que jogam aqui na nossa liga também. Quero atletas que sejam intensos nas situações de jogo, seja na defesa ou no ataque", acrescentou o treinador.

O desempenho defensivo no primeiro jogo diante da Nova Zelândia impressionou, a despeito do repertório técnico frágil dos adversários (placar de 73 a 49). A seleção de Magnano levou apenas 16 pontos na primeira metade da partida, em 20 minutos. O Brasil forçou 18 erros e fez os neozelandeses chutarem apenas 41% de dois pontos.

"A gente sabia que eles tinham uns gigantes que chutam de fora, mas o Magnano falou para deixar os caras chutarem, para a gente prestar atenção no garrafão e ganhar as bolas ali", declarou o pivô Nenê sobre o trabalho de defesa no primeiro jogo do torneio, diante da Nova Zelândia.

Na segunda partida, a Nigéria terminou com 39% de aproveitamento de tiros de dois pontos. O primeiro período brasileiro foi tão intenso na marcação que os adversários conseguiram anotar apenas sete pontos em dez minutos (29 a 7).

No desfecho do quadrangular de São Carlos, um pouco mais de dificuldade na contenção do jogo da Grécia, em razão do nível mais equilibrado em quadra, diante de uma equipe que costuma frequentar grandes torneios.

Os jogadores reconhecem que o trabalho de defesa tem sido o ponto principal da preparação olímpica que já dura duas semanas e conta com treinos fechados para público e imprensa, em norma de atuação característica da filosofia do argentino campeão olímpico (Atenas-2004).

"Desde que pisou no solo brasileiro o Rubén vem falando de defesa, de mais defesa. A gente está muito forte na linha do passe, atacando bastante o adversário. É a tônica do trabalho dele", afirmou o ala Marquinhos, um dos destaques individuais do time no torneio em São Carlos.

"A gente vai conseguir nossos melhores resultados, principalmente contra times grandes, na defesa. A gente sabe que um dia a bola não vai cair. Numa competição de jogos um atrás do outro é difícil que o rendimento seja sempre o esperado na ofensiva. Atrás, se a gente estiver bem e sólido, podemos ganhar de qualquer rival", opina o armador Marcelinho Huertas

Mas engana-se quem possa pensar que a transição cultural na seleção brasileira representa um sacrifício de identidade. Há quem comemore a ênfase defensiva, como o ala Alex [elogiado pelo trabalho de anular o grego Vanilis Spanoulis em jogo da última quinta-feira].

"A parte defensiva é o que marca meu jogo, é o que eu gosto de fazer, a minha função no time. A nossa classificação para Londres no Pré-Olímpico sem dúvida veio com a defesa, na partida contra a Argentina e contra a República Dominicana", diz Alex.

Depois das três vitórias no Torneio Eletrobras em São Carlos, a seleção parte para desafios amistosos em Buenos Aires e Foz do Iguaçu, onde Magnano possivelmente definirá a lista final dos 12 jogadores que vão à Olimpíada. Depois desta etapa, a equipe ainda realiza testes de preparação nos Estados Unidos e na França.

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