Técnico dos EUA no vôlei esquece assassinato do sogro em Pequim para tentar o bi

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Bernardo do Campo (SP)

Hugh McCutcheon comemorou a maior conquista da carreira em Pequim, mas também chorou o assassinato do sogro em um atentado no início daqueles Jogos. Quatro anos depois, agora com o time feminino dos Estados Unidos, ele tem a chance de se tornar o segundo da história a conquistar o ouro nos dois gêneros. Para isso, ele faz questão de esquecer o episódio trágico na China.

Na ocasião, Hugh era técnico da seleção masculina de vôlei dos EUA, que ganharia os Jogos Olímpicos justamente contra o Brasil. Só que antes do feito, mais precisamente um dia depois da cerimônia de abertura, seus sogros foram atacados enquanto visitavam a Drum Tower, um dos pontos turísticos de Pequim. Todd, seu sogro, morreu na hora, assim como o guia que os acompanhava e o agressor, que cometeu suicídio. Barbara, mãe da esposa do treinador, foi ferida, mas sobreviveu.

“Meu foco hoje é totalmente no meu time. Minha família passou por uma tragédia pessoal, mas eu prefiro deixar o lado pessoal fora disso. A história aqui é o time feminino dos EUA”, disse Hugh McCutcheon durante sua passagem pelo Brasil, em que venceu o time de José Roberto Guimarães por 3 a 1 pelo Grand Prix e comprovou a força de sua equipe, favorita ao ouro olímpico.

O episódio nunca foi completamente esclarecido. Aparentemente, o agressor tomou a atitude sem motivo e não tinha premeditado a ação. Na época, Hugh perdeu as três primeiras partidas de sua equipe no torneio olímpico, mas voltou a tempo de conquistar o ouro.

Depois disso, o assunto tornou-se página virada, ao menos publicamente. Apesar de não se negar a responder sobre o incidente, o treinador evita falar sobre o seu drama. “Faço isso por não querer que a família volte a ser o centro das atenções, para que eles não tenham de reviver aquilo. Passar por isso uma vez foi o suficiente”, disse McCutcheon ao LA Times.

A situação é ainda mais tensa porque Hugh McCutcheon é casado e tem um filho com Elisabeth Bachman, ex-jogadora de vôlei que conviveu com parte das atuais comandadas do treinador. “Foi muito trágico, mas não falamos mais sobre isso”, disse Daniele Scott, ex-companheira de Elisabeth, também ao jornal californiano.

Os resultados mostram que a postura deu certo. Os Estados Unidos hoje lideram o ranking mundial e são, nas palavras de José Roberto Guimarães, o grande adversário do Brasil em Londres. “Na minha opinião é o melhor time. Estamos em um nível parecido, mas eles estão mais ajeitadinhos”, disse o técnico da seleção verde-amarela.

Se Hugh McCutcheon obtiver êxito, vai igualar um feito do próprio José Roberto. Até hoje, o brasileiro é o único técnico a ter vencido uma Olimpíada entre os homens e as mulheres, com o Brasil em 1992 e em 2008, respectivamente. Seria um feito e tanto para um técnico de 43 anos, que jogou pouco profissionalmente por seu país, a Nova Zelândia, que não tem quase nenhuma tradição no esporte.

“Se você pensar um pouco, é surreal. Em 1998 eu estava em minha casa, sentado no sofá vendo os jogos de pessoas com quem eu trabalho hoje em dia”, disse o treinador.

A mudança para os Estados Unidos foi um projeto pessoal. No início da década de 1990, ele foi estudar em uma universidade de Utah, nos EUA. Por lá, iniciou sua carreira no vôlei e passou a ajudar o técnico do time, ao mesmo tempo em que se arriscava em quadra e até na areia pela Nova Zelândia.

Em 2001, aventurou-se na Áustria, onde teve sua primeira chance como treinador principal. No mesmo ano, entrou na seleção de vôlei dos EUA como assistente voluntário. Somente após dois anos ele foi efetivado como auxiliar do lendário Doug Beal, técnico daquele que até então era o único título do país no vôlei olímpico: em 1984, também contra o Brasil.

Quando Beal virou dirigente do esporte, o indicou para assumir a seleção que viria a ser campeã em 2008. Na sequência, Hugh mudou para o time feminino, e já sabe que depois de Londres larga o vôlei de seleções, com ou sem título olímpico. Vai treinar a equipe universitária de Minnesota, e o motivo da mudança tem a ver com a explicação que ele dá quando o perguntam se ele se importa em igualar o feito de Zé Roberto.

“Vencer com os dois gêneros é importante para os Estados Unidos, para o vôlei feminino do país crescer. Se acontecer, eu ajudei um pouco, mas o mérito é todo delas. Não sei como vou me sentir. Posso pensar melhor no assunto depois”, completou. 

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