Trauma com amiga atropelada faz atleta olímpica defender mais ciclovias no Brasil

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

Squel Stein tem 20 anos e uma tatuagem que diz muito sobre ela. Ela carrega no ombro o rosto da amiga Yohanna, morta em 2007 atropelada por um caminhão quando andava de bicicleta. Recém-garantida nos Jogos Olímpicos de Londres para competir no BMX, a atleta participa de campanhas de cicloativismo e defende que o país abra mais espaços nas ruas para quem quer se locomover de maneira diferente.

“Fico bem triste [quando vejo acidentes fatais com ciclistas]. A palavra certa é indignada. Hoje já se passaram quase seis anos do acidente dela. Nos EUA e na Europa tem mais ciclovias, tem uma faixa no sinal para que o ciclista fique na frente dos carros quando está parado. Tem tantos métodos de não acontecer. Às vezes é por pura imprudência do motorista ou do ciclista”, disse Squel Stein, em entrevista ao UOL Esporte.

Natural de Rio do Sul, em Santa Catarina, ela garantiu sua vaga em Londres no último fim de semana, ao terminar em sexto lugar o mundial de BMX disputado em Birmingham, na Inglaterra. A conquista não deixa de ser uma homenagem à amiga, lembrada por ela a cada prova. Yohanna era parceira de treinos e viagens de Squel quando morreu em Rio do Sul.

O caminhão que causou o acidente não poderia estar no centro da cidade, mas tentou fazer uma conversão quando atingiu Yohanna. Squel se abalou com a perda e mudou-se para os Estados Unidos, onde morou e treinou em Orlando durante dois anos.

Lá, além da Disney e outras atrações turísticas da Flórida, conheceu pistas de qualidade superior às que existem no Brasil. Em Rio do Sul, o único espaço para treinos que ela tem está em situação precária desde uma forte enchente que atingiu a cidade no ano passado. Desde que voltou ao Brasil, em 2011, ela faz os períodos de treinos mais importantes em Paulínia, no interior de São Paulo.

BRASIL CLASSIFICA MAIS 3 E GARANTE DELEGAÇÃO RECORDE NO CICLISMO

  • AP Photo/Dario Lopez-Mills

    O Brasil assegurou nesta quinta-feira mais três vagas para os Jogos de Londres-2012, todas no ciclismo de estrada. A seletiva olímpica da categoria terminou com a divulgação do ranking final feminino, e por ficar na 12ª colocação com 351 pontos, a seleção verde-amarela garantiu três postos na competição.

    Além da categoria estrada, o ciclismo brasileiro também se classificou para Londres em outras duas categorias, ambas com representantes já escolhidos: BMX (Rafael Rezende e Squel Stein) e mountain bike (Rubens Donizete). Com nove atletas, está será a maior delegação do ciclismo verde-amarelo em uma edição olímpica.

Nada disso impediu que Squel garantisse a vaga. O resultado no Mundial do último fim de semana foi inesperado. A brasileira apostava em uma ida às semifinais. Ao chegar à decisão, a surpresa era tão grande que ela optou, em acordo com o técnico, por poupar-se para evitar qualquer tipo de lesão, uma vez que àquela altura já estava garantida em Londres. Terminou como a sexta do mundo, o que abre espaço para uma possível nova grande atuação em julho.

“O Mundial é um nível altíssimo. É a coisa mais difícil depois das Olimpíadas. Estava todo mundo lá. Não é loucura pensar em medalha. A gente vai estar lá, tudo pode acontecer. Pode ganhar medalha ou pode nem chegar às semifinais. Depende muito da sorte que eu tiver”, disse Squel.

A preocupação com lesões não é gratuita. No ano passado, ela mal participou do Pan de Guadalajara por ter caído de cabeça no chão em sua primeira bateria. Ela lesionou a região cervical, sentiu dores na região e chegou a pensar em parar de competir.

“Eu pensei muito em parar. Fiquei com muito medo. Às vezes não tem muito valor isso. Que eu vou ganhar? Eu treinava, mas não como antes. Aí conheci um preparador aqui no Sul que me ajudou. Hoje eu procuro pensar pelo lado positivo. Deus me abençoou. Procuro não lembrar muito do que aconteceu”, contou Squel. 

Veja quem, além de Squel, está classificado para Londres
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