Futuro no UFC seduz pugilistas que defenderão o Brasil na Olimpíada de Londres
Bruno Freitas
Do UOL, em São Paulo
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Danilo Verpa/Folhapress
Yamaguchi Falcão lutará pelo país em Londres e carrega sonho do pai de ir ao UFC no futuro
Da equipe que representará o Brasil na Olimpíada deste ano, formada por nove pugilistas, dois deles carregam intimamente, um pouco além do sonho de medalha nos Jogos de Londres, a projeção de vida no MMA. Classificados para a disputa olímpica, os irmãos Yamaguchi e Esquiva Falcão admitem que buscarão o caminho até o UFC a médio prazo em suas carreiras, em guinada atrás do pacote de dinheiro e notoriedade que o mundo dos octógonos oferece hoje em dia.
A migração dos irmãos pugilistas capixabas para o universo do MMA faz parte de um plano antigo do pai deles, Touro Moreno, um veterano e célebre praticante de vale-tudo e boxe no Espírito Santo.
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Touro Moreno (à esquerda na foto acima): pugilista de 75 anos celebra filhos na Olimpíada de Londres e rejeita apelo familiar para parar de lutar
O pai da dupla de pugilistas da seleção brasileira ficou conhecido em seu Estado nos anos 60 graças a um empate em combate com Waldemar Santana, famoso por derrotar anos antes Helio Gracie, lenda do vale-tudo nacional, considerado um dos inventores do jiu-jitsu brasileiro. Touro Moreno treina seus filhos desde a infância com a meta do MMA na cabeça.
"Vou por meus filhos no MMA. Preciso passar chão para eles, porque em cima eles já têm. O Yamaguchi já tem chão. Vou fazer eles entrarem no UFC", declara Touro Moreno, pugilista que segue na ativa apesar de seus 75 anos.
Mais jovem entre os irmãos Falcão classificados para a Olímpiada, Esquiva (categoria até 75kg) admite que começará a pensar com mais seriedade na primeira experiência no MMA depois que cumprir o projeto de Londres com o boxe neste ano.
"É o sonho do meu pai. Ele não sabia que a gente iria tão longe no boxe. Mas a gente pensa, sim, no MMA. Quando tenho tempo, até treino jiu-jitsu. Meu foco está agora na Olimpíada, mas depois dos Jogos quero fazer a estreia", afirma o pugilista de 22 anos, perto de sua primeira experiência olímpica.
Yamaguchi conquistou a vaga nos Jogos de Londres há poucas semanas, na disputa do pré-olímpico internacional do Rio de Janeiro (categoria até 81kg). O filho de Touro Moreno também fala em privilégio imediato ao boxe, mas admite que o dinheiro do MMA pode falar mais alto em algum momento futuro.
"Gosto muito do MMA, é um esporte que está crescendo cada dia mais. Mas, para mim, tudo tem hora certa. Hoje estou na minha melhor fase no boxe. Tem que aproveitar essa fase, quem sabe trazer a medalha nos Jogos Olímpicos", diz Yamaguchi. "Depende muito de bolsa. Não nego dinheiro. Dou porrada mesmo", acrescenta o atleta de 24 anos.
QUEM LUTA PELO BRASIL EM LONDRES
Além dos irmãos Yamaguchi e Esquiva, o Brasil tem classificado para a Olimpíada mais cinco atletas homens, entre eles o atual campeão mundial Everton Lopes (foto acima), na categoria até 64kg. Robenilson Jesus (até 56kg), Róbson Conceição (até 60kg), Myke Carvalho (até 69kg) e Julião Neto (até 52kg) também estarão em Londres. Entre as mulheres, Roseli Feitosa (75kg) e Adriana Araújo (60kg) asseguraram recentemente a classificação para a disputa feminina inédita, através de uma seletiva mundial na China. |
Mas há uma voz dentro da seleção brasileira que vê com reticência o encantamento de jovens amadores com a vida no UFC. Na opinião do atual técnico da equipe, a migração de atletas em "nível olímpico" para o MMA é complicada. João Carlos Barros diz acreditar que um pugilista não tem tempo para alcançar excelência no boxe e, paralelamente, ir atrás de conhecimento em outras lutas.
"O pugilista que trabalha para alcançar o nível olímpico não vai ter tempo de treinar chão, muay thai, wrestling, tudo isso. Você precisa de dez anos de boxe para ficar bom. Depois fica muito tarde para buscar [fundamentos de] chão, assim, depois de 'macaco velho'. A verdade é que o boxe é um complemento para o atleta de MMA", comenta.
Para 2016, nos Jogos do Rio de Janeiro, o boxe deve abrir sua disputa pela primeira vez para pugilistas profissionais. Pelo menos oficialmente, não se admite que a iniciativa tenha como objetivo equilibrar atenção na guerra com o MMA por popularidade, que hoje em dia testemunha vantagem da turma do UFC.
Segundo o presidente da Associação Internacional de Boxe (AIBA), o taiwanês Wu Ching-Kuo, a abertura aos profissionais visa em primeiro momento elevar o nível de competitividade em esfera olímpica.