Em prova imprevisível, cheia de concorrentes e um mito, Fabiana Murer é candidata à medalha de ouro

Rui Barboza Neto

Rui Barboza Neto

  • Diego Azubel/EFE

    Após décimo lugar em Pequim, Fabiana Murer chega a Londres como candidata à medalha de ouro

    Após décimo lugar em Pequim, Fabiana Murer chega a Londres como candidata à medalha de ouro

Escrever um panorama antes de uma prova nos leva a armadilhas. Isso porque qualquer detalhe, ou casos inusitados (como um sumiço de uma vara, por exemplo) podem colocar toda a previsão por água abaixo. Mas evitar abordar o assunto é deixar de promover o debate, a discussão, os palpites e as previsões, tão salutares aos eventos esportivos.

A prova do salto com vara feminino nestes Jogos promete ser muito acirrada. Temos quatro candidatas ao ouro, e mais três que podem surpreender no pódio.

Bicampeã olímpica e mundial, recordista olímpica e mundial, e mito da prova, a russa Yelena Isinbayeva encabeça a lista de candidatas ao ouro, buscando o tricampeonato. É verdade que, nos últimos dois anos, ela não apresentou bons resultados. Mas Isinbayeva já avisou que virá forte em Londres. E, quando um mito fala, é melhor não duvidar. Neste ano, em pista aberta, ela não teve uma marca expressiva, mas competiu apenas uma vez. Já em pista coberta, ela fez boas provas, todas no começo do ano. Isinbayeva fez uma temporada indoor, focou nos treinamentos e fez uma prova outdoor como treino. Londres é seu objetivo. Tudo bem planejado, dentro da estrutura de seu treinamento. No ano, tem a melhor marca do indoor, com 5,01 m, e a 5ª do outdoor, com 4,75 m.

Vice-campeã em Pequim e detentora da melhor marca do ano na prova em pista aberta, a norte-americana Jennifer Suhr promete apimentar essa disputa. Ela e a russa já trocaram algumas farpas em 2008, quando a americana disse, em tom pouco educado, que derrotaria Isinbayeva nos Jogos de Pequim. Obviamente, depois da prova vencida sem dificuldades pela russa, a norte-americana tomou o troco e teve que ouvir, em tom áspero, a resposta da russa sobre sua declaração pré-Jogos. Com boas vitórias em meetings neste ano, tanto indoor quanto outdoor, ela mostra que está bem preparada para a competição e precisa apenas manter o que fez até agora para ter um bom resultado. Em 2012, tem a 2ª melhor marca indoor, com 4,88 m, e lidera o ranking outdoor, com 4,83 m.

Arrisco colocar a alemã Silke Spiegelburg como mais uma candidata ao ouro. Ela fez seu melhor salto da vida há treze dias, com 4,82 m. Assim como a norte-americana, também fez muitas provas na temporada, e obteve bons resultados. Que há treze dias ela estava no auge, o resultado fala por si só. A questão é se esse pico vai se sustentar em Londres. Não me parece que ela chegará cansada ou em queda de rendimento, mas periodização de treinamento não é uma ciência exata, e às vezes o pico de rendimento vem antes do previsto. Por outro lado, se ela melhorar... Spiegelburg é a 4ª do ranking indoor, com 4,77 m, e 2ª no outdoor, com os já citados 4,82 m.

Agora, escreverei sobre as que eu julgo ter poucas chances de pódio. Mas, se surpreenderem, podem pintar por lá. A australiana Alana Boyd também fez sua melhor marca pessoal em 2012. Além disso, ela detém a 4ª melhor marca do ranking de pista aberta. Para almejar um pódio, além de se superar, terá de contar com um dia ruim das favoritas. A cubana Yarisley Silva, algoz de Fabiana no Pan de Guadalajara, e que já derrotou a brasileira duas vezes neste ano, tem foco nos Jogos Olímpicos e promete comer pelas beiradas, com chances de melhorar sua marca, como fez no Pan-Americano do ano passado. Se as favoritas vacilarem, pode voltar com uma medalha. E não posso deixar de fora a atleta da casa, Holly Bleasdale, que com a torcida a favor também figura entre as atletas que correm por fora. Bleasdale é a detentora da 3ª melhor marca indoor do ano, com 4,87 m, e pode se empolgar com a vibração da torcida,  transformando um sonho distante em realidade.

E Fabiana Murer? Com todas essas concorrentes mais do que competentes, e, dentre elas, um fenômeno na prova, quais são as reais chances da brasileira? Já disse e repito: chances de ouro. A Fabiana vai para o ouro. Sua preparação está voltada pra isso. Assim como fez Isinbayeva, ela não competiu muito neste ano, se preparando para os Jogos de Londres. Murer é experiente, atual campeã mundial, e abdicou de saltar bem no Pan para ser campeã do mundo – uma escolha perfeita. Cito essa passagem, para mostrar que seu treinador, Elson Miranda, e o consultor da Confederação Brasileira de Atletismo, Vitaly Petrov, sabem muito bem o que fazem, e mais uma vez, neste ano, sua preparação está sendo muito bem conduzida.

Não considerá-la favorita é menosprezar todo seu talento, todas suas conquistas e todo trabalho técnico por trás dos seus feitos. Ela merece esse favoritismo, ao lado das outras excepcionais atletas. Claro que decepções podem ocorrer, mas isso vale pra todas as outras competidoras, inclusive para fenômenos como Isinbayeva. Ou alguém se esqueceu da queima de largada de Usain Bolt no mundial do ano passado? As variáveis do salto com vara são tantas (corrida na marca, posição do poste, vento, chuva, condição da vara, estado emocional, movimento no salto, projeção, entre outros), que um pequeno detalhe pode fazer a diferença entre ter ou não sucesso.

Palpite de quem vence? Deixo para as famosas casas de apostas de Londres e para o leitor. Me reservo aos comentários e à torcida para uma excelente prova, de preferência com a vitória da brasileira.

Neste sábado, às 6h20, ocorre a qualificação do salto com vara feminino. Na segunda-feira, 6 de agosto, às 15h, acontece a final.

Rui Barboza Neto

É bacharel em Esporte pela Escola de Ed. Física e Esporte da USP e treinador de atletismo e preparador físico da Associação a Hebraica de São Paulo. É comentarista do UOL nas provas de salto com vara e em altura.

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