Atletas feridos em bombardeios sonham com medalhas para o Reino Unido na Paraolimpíada
Do UOL, em São Paulo
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Phil Cole/Getty Images
Nick Beighton troca suas próteses para um treino de remo preparatório para a Paraolimpíada
Embora a maioria dos atletas que disputarão a Paraolímpiada de Londres a partir desta quinta-feira tenham sido vítimas de acidentes automobilísticos ou doenças congênitas, aumenta a cada edição dos Jogos o número de esportistas que entraram nesta seara por conta de atentados e bombardeios. A própria delegação anfitriã conta com casos desse tipo. São atletas que, inclusive, almejam voos maiores e até medalhas.
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Jon-Allan Butterworth era um técnico em armas a serviço de seu país em uma base no Iraque quando, há cinco anos, a região foi bombardeada e o jovem precisou ter seu braço esquerdo amputado. O fato de ser um militar facilitou financeiramente sua recuperação, já que o governo arcou com grande parte das despesas. Em três semanas, ele recebera uma prótese e foi fortemente estimulado a usá-la.
“Foi muito difícil no começo, muito doloroso, mas funcionou”, declarou Butterworth ao jornal The Sun. “Eu tive que me acostumar com a prótese antes mesmo de me acostumar que eu não tinha mais o braço. Então hoje, eu me sinto completamente nu quando estou sem ela. Uso o tempo todo”.
Butterworth foi logo em seguida apresentado ao ciclismo adaptado e se identificou com a modalidade. Em Londres, disputará cinco provas diferentes, sendo franco candidato ao ouro em pelo menos duas nas quais é campeão e recordista mundial.
Se Butterworth ficou ferido no Iraque, a tragédia na vida de Nicholas Beighton aconteceu no Afeganistão, quando ele perdeu suas duas pernas em um bombardeio. Assim como seu compatriota do ciclismo, ele não teve tempo para lamentar: rapidamente foi motivado a encontrar no esporte uma nova forma de viver.
“Foi tudo muito devagar no começo. Eu treinava só uma hora por semana e fazia alguns exercícios por conta própria”, conta Beighton, que aderiu ao remo. “Eu comecei a melhorar, mas aí tive que passar por uma cirurgia no intestino, ainda por causa do acidente no Afeganistão. Depois disso, comecei a treinar com mais regularidade. Logo eu já estava treinando diariamente e malhando com frequência”.
Beighton tem apenas três anos de experiência, mas ele e a parceira Samantha Scowen são candidatos ao ouro na prova de duplas mistas. “Foram anos incríveis. Algo muito bom aconteceu a partir de algo horrível. Eu sabia que eu não poderia morrer lá, eu não me permitiria. Eu sabia que eu tinha muito mais para fazer, mais a oferecer para o meu país”.
Derek Derenalagi, do lançamento do disco, não chega à Paraolimpíada com o mesmo favoritismo de seus colegas, mas tem a seu favor o simples fato de sobreviver após ser declarado morto durante a guerra do Afeganistão em 2007.
“Eu fui colocado em um saco para cadáveres e já estavam me preparando para me mandar para casa quando perceberam que eu ainda estava vivo”, conta ele. “Eu tive a chance de ter uma nova vida e inspirar os outros e jurei que era isso que eu ia fazer”.