Após novos desabafos e críticas, Diogo Silva fala em "entrar no sistema" e se dedicar aos estudos
José Ricardo Leite
Do UOL, em Londres (Inglaterra)
Arquivo pessoal
Atleta do taekwondo Diogo Silva tem posicionamento forte para várias questões
A segunda participação olímpica de Diogo Silva, 30, mostrou em Londres mais uma vez o lado constestador do lutador, que voltou a disparar críticas a organizações esportivas e governamentais por melhorias no esporte. Ele diz que pretende “entrar no sistema” dos que tomam as decisões para ajudar a mudar o panorama da sua modalidade.
O lutador de taekwondo já havia feito críticas ao governo e se colocado como futuro cartola do esporte mesmo antes de perder a disputa da medalha de bronze na categoria até 68 kg.
Depois, criticou a falta de posicionamento de atletas brasileiros, a omissão dos campeões e “ricos” na ajuda aos que têm condições precárias de treinamento. Reclamou que falta politização aos atletas.
Ele está há dois semestres de concluir um curso de educação física. E pretende depois iniciar um curso de gestão esportiva. Quer profissionais e especialização de qualidade para poder ingressar na área de comando.
“Tenho uma cultura dentro da minha vida de que basta ter vontade, disciplina, honestidade e não desistir de forma alguma, que a gente consegue”, falou.
“Vou ter que estudar nas melhores universidades, me especializar com os melhores gestores. Sei que vai ser um preço altíssimo, como sempre foi na minha vida, e entrar dentro do sistema. Tem que entrar dentro do sistema. Porque, se não, é impossível.”
O lutador de taekwondo já havia feito críticas ao governo e se colocado como futuro cartola do esporte. "Tem inúmeras mudanças que precisam ser feitas. Isso não é só uma questão do COB e das Confederações, é uma questão de governo federal”, opinou. “Pretendo estudar gestão esportiva para melhorar essa situação um dia".
Diogo não soube dizer se vai continuar se dedicando ao esporte logo após as Olimpíadas ou ao estudo. Deixou em aberto seu futuro. "Eu tenho que retornar para o Brasil sem medalha. É como voltar a passar pelo inferno de novo que passei pra estar aqui. Não sei se tenho peito pra isso de novo. Tenho que rever conceitos e ver se estarei disposto a passar por isso."
HISTÓRICO DE DESABAFOS
Críticas e desabafos não são novidades em sua carreira. Logo após ganhar medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio, a primeira do Brasil em competição em casa, ele detonou a federação de seu esporte e disse que treinava com dinheiro do bolso.
DIOGO VOLTA A BATER NA TRAVE E FICA SEM MEDALHA
O brasileiro Diogo Silva voltou a bater na trave na tentativa de conquistar sua primeira medalha olímpica. Nesta quinta-feira, ele levou um golpe na cabeça no último segundo, foi derrotado pelo norte-americano Terrence Jennings por 8 a 5 na disputa do bronze da categoria até 68 kg do taekwondo nos Jogos Olímpicos de Londres e deixou a competição de mãos vazias.
“No início do ano gastei R$ 5.000 do meu próprio bolso para treinar e não dei um carro para minha mãe. Às vezes esse dinheiro [da federação] vinha apenas a cada três meses. No período do Pan eles decidiram parar de atrasar um pouco. Às vezes, quando eu treinava em outros países, via que chegavam malas [das federações] para os outros atletas. E eu me perguntava por que com a gente não era assim”, falou naquela oportunidade.
Em janeiro deste ano, em entrevista ao UOL Esporte, ele chegou a pedir a troca do presidente do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), Carlos Arthur Nuzman.
“Não podemos ter 20 anos com o Nuzman, precisamos de uma reformulação sobre isso. Mesmo nós, atletas, se competimos durante muitos anos, acabamos tendo um conforto. Há essa necessidade de reformulação. O Brasil passa por isso, tem troca de presidente, por que não trocar em outras instituições? Os atletas já reclamam sobre isso”, falou.
“O [Cesar] Cielo, por exemplo, reclama sobre isso, treina nos Estados Unidos, porque não tem estrutura na natação. O Ministério do Esporte, o Comitê Olímpico Brasileiro, as instituições mais poderosas já passaram da hora de ter essa visão, de só jogar dinheiro. Jogar R$ 1 milhão aqui, R$ 1 milhão ali não funciona mais”, continuou.
O atleta ainda emite posições firmes sobre engajamento racial e religião. “A causa negra é o meu dia a dia, é pegar ônibus. É sair de casa e ver como a gente está atrasado perto de outras nações. O que causa tanta violência é o desequilíbrio social”, falou ao UOL Esporte em janeiro.
"Sim, tenho [religião]. A religião dá equilíbrio às pessoas, oferece uma visão diferenciada. Eu escolhi uma religião que sofre muito preconceito, mas que está aberta a todas as outras, que tem a missão de tentar promover união e paz. Existem outras que estão na época da inquisição, mas a que eu escolhi é mais flexível. É o espiritismo.
Diogo ficou conhecido nos Jogos Olímpicos de Atenas-2004, depois de fazer o gesto característico do grupo norte-americano Panteras Negras após deixar escapar a medalha de bronze. Na ocasião, ele também fez duras críticas a políticos, empresários e dirigentes.