Há exatamente 50 anos, a Jamaica conseguia sua independência após quase três séculos como colônia britânica. Mas, no último domingo, um grandalhão despojado e carismático de 1,96 m fez novamente história e levou os ainda súditos da Coroa a reverenciarem um filho da antiga colônia.

Quando foi anunciado seu nome no telão para a final dos 100 m rasos no estádio Olímpico de Londres, Usain Bolt bem que poderia estar com as cores azul, vermelha e branca do Reino Unido, tamanha a adoração do público por ele.

O jamaicano foi ovacionado como um britânico que recebia uma medalha no local. A intensidade que se ouvia não era tão menor do que os gritos destinados para atletas do "Team GB", como chamam a equipe do Reino Unido.

Não prevalecia a velha máxima da torcida contra o maior e mais forte. Os torcedores do Reino Unido e outros espalhados pelas arquibancada queriam ver história.

Bolt usou seu estilo despojado para interagir antes mesmo de dar a largada. Enquanto o placar pedia silêncio para o público antes de ser liberada a saída dos atletas, ele piscou para a câmera e colocou o dedo indicador em frente à boca, como se fosse necessário que só seu pedido pudesse parar o frisson para que a prova começasse em silêncio.

O público acompanhou os telões, entendeu e parou. Mas foi só ser apertado o gatilho que a gritaria voltou não apenas nos 9s63 seguintes, mas também após o final da prova. “Usain, Usain, Usain”, gritava o público em delírio, junto de um show de flases.

Mesmo com o final da prova, os torcedores não foram embora enquanto o jamaicano não deu a volta olímpica. Ao mesmo tempo, o som do estádio tocava a música eletrônica “One more time”, da dupla Daft Punk.

A comemoração do jamaicano até roubava espaço da competição de lançamento de martelo, que continuava enquanto o jamaicano dava sua volta. Mas o telão era só Bolt.

O velocista ainda foi paparicado pelo mascote dos Jogos, Wenlock, que deu a ele um boneco seu enquanto o jamaicano comemorava sua história.

“Pode dizer que sou o melhor. Acabei de mostrar isso ao mundo", falou o velocista logo após o final da prova.

Nem mesmo Michael Phelps foi tão ovacionado no Parque Aquático quando conseguiu seus recordes de medalhas nesta Olimpíada. Com carisma longe do de Bolt, o americano não provocou tanta euforia no centro aquático. O sentimento era mais de respeito e reverência, mas boa parte dos fãs até torciam contra.

Questionado sobre a comparação com o americano, o jamaicano saiu pela tangente. "Michael Phelps é uma lenda. Ele é ótimo", falou.

Ainda deixou um recado para como crescer no esporte de alto rendimento. "Curta sempre tudo o que você faz, que isso vai sair muito melhor."

Ao final da prova, crianças vestidas com trajes e bandeiras do Reino Unido imitavam o tradicional gesto do rêlampago feito pelo velocista jamaicano. Um reverência ao, pelo menos por um dia, rei de Londres.