Chatice e teimosia de marido convencem sogros, seduzem Murer e põem saltadora na briga pelo ouro

José Ricardo Leite

Do UOL, em São Paulo

  • Roberta Nomura/UOL Esporte

    Fabiana Murer exibe medalha conquistada em Daegu ao lado do técnico/marido Elson Miranda

    Fabiana Murer exibe medalha conquistada em Daegu ao lado do técnico/marido Elson Miranda

Se não deu certo de um jeito, tem que dar de outro. E para isso, a maneira é cobrar e insistir, até com braveza, e brigar até conseguir. Com um jeito questionador e de não aceitar o “não”, Elson Miranda tenta conduzir a campeã mundial Fabiana Murer ao ouro olímpico em Londres.

O jeito pacífico e discreto, com poucos gestos espalhafatosos, não demonstra à primeira vista o estilo “chato” do técnico para conseguir o que quer. Ele foi um competidor do salto com vara sem grandes resultados expressivos, mas acabou conseguindo isso como mentor de sua pupila e mulher.

Desde os tempos de atleta, a “chatice” era usada para conseguir as coisas na base da insistência. “Como atleta, lembro quando ocorriam as provas internacionais no Brasil, e ele brigava com os organizadores para definir a marca que iria começar a prova. Os atletas estrangeiros queriam começar com 5,4 m e ele queria começar baixo, 4,8 m, para melhorar a marca dele. E os estrangeiros não queriam que começasse baixo para não entrarem frios. E ele brigava com os organizadores e falava ´deixa eu saltar´. Desde então ele brigava pelo que queria. Ele sempre foi um brigador pelas condições, para ter varas compatíveis, competidores compatíveis”, falou Sérgio Coutinho Nogueira, empresário de sua equipe. “Ele é bravo. Ele é de cobrar o cara e perder a paciência”, ressaltou.


Mas o treinador mostra um lado sensível e batalhador também para ajudar seus comandados.

“Ele é um cara muito inteligente, dá duras fortes. Mas depois já conversa normal. Ele não tem rancor. É um cara justo e que está sempre lutando pelos atletas. Faz o que tiver que fazer para melhorar . Muitas vezes ele tira dinheiro do próprio bolso pra ajudar atleta com aluguel, moradia”, falou Edson Bindilatti, ex-atleta de Elson e que agora faz parte de sua comissão técnica.

Mas, se como competidor não conseguiu resultados expressivos para o Brasil, de algum outro jeito tinha que fazer que outros conseguissem. Decidiu ser técnico. Foi estudar nos Estados Unidos, depois na Polônia. Mas a técnica considerada a melhor era a ucraniana, que tinha Serguei Bubka como maior nome da história.

Sem avisar, viajou até a Europa e foi bater na porta da casa do ex-técnico de Bubka,Vitaly Petrov. Deu sorte de achá-lo em casa.  Ignorou o fato de o Brasil não ter tradição na modalidade e perguntou por quanto Vitaly aceitaria para ir ao país desenvolver o esporte. Conseguiu.

Fabiana começou a treinar ginástica artística até se arriscar na equipe de atletismo Elson, em Campinas. Apostando em seu olhar clínico e para evitar qualquer tipo de desistência da atleta que depois seria sua futura mulher, falou para os pais que ela seria campeã brasileira um dia. E não parou por aí.

“Ele me falou que um dia iria conseguir fazer ela ser campeã brasileira. E, depois, me falou que faria ela seria campeã mundial. Comecei a duvidar. Quando ele falou que ela já seria campeã brasileira eu já tinha duvidado”, lembrou Wanderlei Murer, pai de Fabiana e sogro de Elson.

Para fazer com que ela fosse campeã mundial, teria que superar a russa Yelena Isinbayeva, bicampeã olímpica e mundial e considerada imbatível no esporte. A própria Fabiana chegou a “jogar a toalha” em relação a bater a rival e esboçou um desânimo para competir.

Mas a chatice de Elson fez com que a pupila não desanimasse. “Às vezes batia uma certa frustração e eu pensava ´por que eu continuo treinando? por que competir se vou ser no máximo segunda?´ Eu achava que era impossível ganhar da Yelena, e ele falava ´vai trenando que uma hora ela vai dar uma bobeira e você tem que estar preparada para aproveitar o momento´. E foi o que aconteceu, ela decaiu, os resultados dela decaíram e eu consegui ser campeã mundial duas vezes com ela na prova”, falou Fabiana.

O estilo insistente de Elson ajudou para que o casal mantivesse firmemente a ideia de não expor o relacionamento entre ambos. Já foram perguntados diversas vezes sobre o início da relação, mas sempre dizem que querem preservar isso internamente e temem confundir a relação pessoal com a profissional.

A discrição sempre foi usada, até para “esconder” o casamento entre ambos, em São Paulo, no ano passado.

“Eles não queriam misturar as coisas. Demoraram pra divulgar, e tinha jornal e revistas que ficavam em cima. Fizeram grande festa de casamento, [as pessoas da imprensa] ficavam em cima. Mas eles queriam privacidade no casamento deles. Queriam paz e sossego para curtir mesmo”, falou Neusa Murer, mãe da Fabiana.

“Ele não faz nada pra aparecer. A divulgação do casamento foi a mais discreta possível. Só sabia quem era do meio”, falou Bindilatti.

Mas o jeito perseverante e insistente de Elson, além de conquistar Fabiana, também rendeu a aprovação de sua família em todos os sentidos.

Demos apoio porque conhecíamos o Elson, era boa pessoa e frequentava a nossa casa. Ele almoçava em casa. Era praticamente da família, ele era uma boa pessoa. Era importante que ele fizesse ela feliz”, falou a mãe.

“Ele é amigão. E gosta de um bom vinho que é uma beleza”, falou o pai.

Fabiana Murer
Fabiana Murer

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