Medo de reações raivosas e mau rendimento faz times se armarem contra TPM nos Jogos

José Ricardo Leite

Do UOL, em São Paulo

  • Alexandre Arruda/CBV

    Atletas da seleção brasileira celebram ponto no vôlei; time está "armado" contra a TPM

    Atletas da seleção brasileira celebram ponto no vôlei; time está "armado" contra a TPM

Dores, reclamações, maior vulnerabilidade a lesões, agressividade, humor e disposição inconstantes. Eis uma lista de alguns sintomas da TPM (tensão pré-menstrual) que podem fazer com que uma atleta tenha queda de performance em uma competição e até provocar um conflito no grupo durante um período de longa convivência.

Como o confinamento em eventos da dimensão dos Jogos Olímpicos é longo, as comissões técnicas, principalmente das modalidades coletivas, passaram a se preocupar em preparar estratégias para preservar a condição esportiva das atletas nesse contexto. 

O técnico da seleção brasileira feminina de vôlei, José Roberto Guimarães, procurou um especialista depois que, nos Jogos de Pequim-2008, teve um grupo de atletas no ciclo menstrual justamente na fase final do torneio.

"A ideia, dentro da equipe do Zé Roberto, seria tentar convencer as mulheres com algumas mudanças de projeto”, disse o ginecologista Eliano Pellini, que coordenou o projeto do vôlei que hoje tem duas médicas da área como responsáveis.

RECOMENDAÇÃO É DE COMPREENSÃO COM MULHERES EM TPM NOS JOGOS

  • Apesar do acompanhamento de médicos, é recomendado que o grupo entenda o momento de algumas mulheres que estejam no ciclo

O médico diz que o auxílio dado às atletas de alto rendimento foi no intuito de ajustar o ciclo de uma maneira que ele não atrapalhe numa fase importante do torneio. O ideal, de acordo com o especialista, é que a menstruação seja feita em uma fase preliminar da competição, para que logo depois, em uma fase final, a atleta tenha melhores sensações. Mas isso é apenas uma sugestão, já que cada atleta, após conversa com os médicos e relatos, escolhe a maneira que vai fazer.

“Hoje, pelo que discutimos na concentração, elas têm direito de escolher. Seria um absurdo [os médicos escolherem o ciclo]. Informamos que elas podem fazer a menstruação quando querem. Em um grupo de 20 ou 22 atletas, vai ter quem não menstrue, quem menstrue no começo pra chegar nas finais ativa, e quem vai querer menstruar antes da competição para só fazer isso novamente na volta ao Brasil. Deixamos livre. Cada mulher tem um estilo.”

A ginecologista Tathiana Parmigiano foi requisitada para realizar um trabalho com as seleções de basquete e judô e, recentemente, com a de futebol. Ela usa método idêntico ao do vôlei, com conversas e orientações.

“Primeiro, explicamos para as meninas a possibilidade de minimizar sintomas e planejar o ciclo. Num segundo momento, verificando aquelas que referiam prejuízo de desempenho durante determinada fase do mesmo. Não podemos assumir que todas tenham queixas. Isso é muito individual. Num terceiro momento, pude iniciar o uso de contraceptivos hormonais e, com isso, programar o ciclo de acordo com o calendário competitivo.”

Mas somente a adequação do calendário e a conversa com os médicos não resolvem. Eles recomendam paciência do restante do grupo com quem menstruar no período. E as comissões técnicas parecem vacinadas já para isso.

“Precisa existir um relacionamento de cumplicidade da comissão técnica e atleta, de entender, ser parceiro e estar juntas”, falou José Elias Proença, preparador físico da seleção feminina de vôlei. Ele conta que já teve caso de atleta “bravinha” em função do TPM, mas que todos entenderam.

"Na semifinal, uma delas entrou em TPM, mostrou agressividade, reações diferentes, mas o grupo todo sabia do histórico, e depois estava tudo bem e fomos para a final".

E é bom mesmo que todas as frentes se preparem para o período juntos, pois, caso contrário, pode sair faísca. “Imagina só uma mulher, de TPM em um jogo nervoso tomando uma bolada?”, indagou o médico Eliano Pellini.

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