Jade diz ter a "ginástica no sangue" e, aos 20 anos, se vê "mais mulher" para Londres-2012

Felipe Rocha

Do UOL, em Londres

  • Kazuhiro Nogi/AFP

    Jade Barbosa em ação; ginasta brasileira será a grande esperança de medalha do Brasil em Londres

    Jade Barbosa em ação; ginasta brasileira será a grande esperança de medalha do Brasil em Londres

Jade Barbosa chegou ao Pré-Olímpico de Londres apontada como a principal esperança da seleção brasileira na difícil missão de conquistar uma vaga na Olimpíada. A equipe atingiu o objetivo, mas sem o protagonismo que se esperava da ginasta carioca.

Após a vaga coletiva garantida, porém, Jade não decepcionou e terminou a final individual do salto com a medalha de ouro. A menina, que já era a maior estrela brasileira na ginástica em Pequim-2008, cresceu e está "mais mulher, mais madura".

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Aos 20 anos, Jade diz estar empolgada com a chance de voltar a representar o Brasil numa Olimpíada. Para quem superou as dores no punho direito após uma necrose no osso capitato, que chegaram a ameaçar a continuidade da carreira da ginasta, a responsabilidade de ser considerada a maior esperança do Brasil nos Jogos Olímpicos não é um problema.

Jade aproveitou o dia de folga na competição, deixou o uniforme de treinamento de lado e, com um elegante sobretudo preto para se proteger do inverno europeu, concedeu uma entrevista ao UOL Esporte na arena North Greenwich, o palco da ginástica artística em Londres-2012. 

UOL Esporte: Quem a ajudou a superar o momento de maior dificuldade na carreira, com as incertezas e dores causadas pela lesão no punho?

Jade Barbosa: Na verdade, eu acho que o princípio de tudo é ter uma família. Essa sempre foi a minha maior base na hora das dificuldades. A família sempre vai te apoiar e tenho sorte de ter tido esse apoio, meu pai foi uma pessoa muito importante durante esse período. E teve também a questão da terapia: comecei a fazer e isso foi fundamental para manter a cabeça boa e saber da minha condição de ser uma ginasta que ama o que faz. Outra coisa importante foi o meu treinador ter tido toda a paciência do mundo comigo, entender que eu tinha potencial e saber esperar e ajudar.

AS PRINCIPAIS CONQUISTAS        DE JADE BARBOSA

Mundial de Stuttgart-2007 Bronze no individual geral
Mundial de Roterdã-2010 Bronze no salto
Pan-Americano do Rio-2007 Ouro no salto e prata por equipes

UOL Esporte: Diziam que sua carreira estava comprometida, que você não teria mais condição física de competir. Isso de alguma forma deu força, motivou na volta por cima?

Jade Barbosa: O mais importante sempre foi o amor que sinto pelo esporte, a vontade que sinto e a necessidade que tenho de fazer ginástica. Isso não passa de uma hora pra outra, nada pode tirar esse sentimento de você. Não é uma crítica, uma declaração maldosa ou uma lesão que vai tirar isso de você. Quem tem ginástica no sangue, como eu tenho, precisa estar lá, faz de tudo para estar lá. Foi pensando nisso que superei e vou superar tudo, sempre.

UOL Esporte: Ainda sente alguma dor?

Jade Barbosa: A dor está sempre com o atleta, não tem jeito. Todo atleta convive com dor o tempo todo. A questão é que você tem que aprender a conviver com ela. Já que todo dia tenho dor, aprendi a não sofrer e entender que, se quiser fazer ginástica, vai ter que ser assim. Eu vi que se, eu tinha de ser uma ginasta com nível de ganhar medalhas, precisaria superar todos os problemas, inclusive as dores, e superei.

UOL Esporte: Na vida pessoal, como está o seu momento?

Eu era uma criança em Pequim [na Olimpíada-2008]. Hoje sou mais mulher, mais madura. Vou entrar na competição mais experiente. Acho que isso pode fazer a diferença

Jade Barbosa: Estou bem feliz, vivo um momento especial na minha vida. Estou empolgada com a Olimpíada, vou treinar muito para chegar bem nela. O outro lado é que precisei trancar a faculdade de design lá no Rio para ter toda a dedicação nos treinos. Mas faz parte, né?

UOL Esporte: O fato de ser novamente a maior esperança da ginástica feminina numa Olimpíada atrapalha? A pressão incomoda?

Jade Barbosa: Eu não sei, acho que depende do quanto você se preparou para aquilo e o quanto você treinou para uma competição. Não é assim "ah, vai lá que todo o peso está em cima de você", essa carga eu não acho justa e não concordo com quem coloca toda a pressão em cima de um atleta. Eu mesma coloco pressão no meu desempenho porque confio no meu potencial e quero sempre o melhor. Mas acho que é assim com todo mundo.

UOL Esporte: Sente que tem chance de medalha Na Olimpíada de Londres?

Jade Barbosa: Primeiro, eu fico feliz porque mais uma vez eu tenho a chance de disputar uma medalha em Olimpíada. Isso é muito bom. Vou tentar essa medalha, sonho com ela e o que posso dizer é que vou me preparar muito para conquistá-la.

Não me importo mais com a fama de chorona. Eu caí da trave naquele dia, normal, erros acontecem. Chorei porque meu jeito é assim. Eu choro quando sinto vontade

UOL Esporte: Você já era a maior estrela do Brasil em Pequim-2008, mesmo tendo apenas 16 anos...

Jade Barbosa: Realmente, eu era uma criança em Pequim. Hoje sou mais mulher, mais madura. O que isso vai mudar? Sinceramente, eu não sei. Talvez a minha maneira de pensar, vou entrar na competição bem mais experiente. Acho que isso pode fazer a diferença.

UOL Esporte: No Pré-Olímpico, você ganhou o ouro no salto, mas acabou cometendo falhas na trave. Qual o balanço que faz da competição?

Jade Barbosa: Muito positivo, porque conquistamos o maior objetivo [classificar a equipe completa para a Olimpíada]. Volto muito feliz para o Brasil, isso que importa.

UOL Esporte: Você chorou após as quedas na trave. Acha que vai deixar a fama de chorona pra trás algum dia? 

Jade Barbosa: Acho que cada um tem uma maneira de se expressar, eu não me importo mais com a fama de chorona. Até porque hoje em dia eu sei lidar bem melhor com as coisas, então não tenho por que me preocupar com essa fama. Você viu, eu caí da trave naquele dia e tipo: normal, é o meu trabalho, erros acontecem. Chorei porque meu jeito é assim, mas não tem nada demais. Eu choro quando sinto vontade.

UOL Esporte: Em quem você se inspira para ter uma carreira vitoriosa no esporte?

Jade Barbosa: Gosto muito do Bernardinho [treinador da seleção masculina de vôlei] pela maneira que ele trabalha, é sempre muito correto. Ele é duro, mas ao mesmo tempo é muito amigo. Eu gosto muito dele, admiro a competência e o sucesso que ele tem.

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