O Comitê Organizador dos Jogos de 2016 convocou uma coletiva, nesta sexta-feira, para falar sobre o mini show que representará a passagem do bastão para o Rio de Janeiro na cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Londres. Só que a presença da imprensa estrangeira mudou o tom do encontro, fez o tema João Havelange vir à tona e criou um certo mal estar com a insistência dos cartolas brasileiros em ignorar a condenação do ex-presidente da Fifa.

A coletiva de imprensa aconteceu no centro de imprensa em Londres, dentro do Parque Olímpicos, e contou com a presença de Daniela Thomas e Cao Hamburguer, diretores da cerimônia que exaltará o Brasil no próximo domingo. Só que antes deles entrarem em cena para a apresentação das atrações, a própria organização fez sua menção a João Havelange.

O Comitê exibiu no telão o mesmo vídeo de apresentação de 2016 do evento da semana passada, na Casa Brasil, que marcou a contagem de quatro anos para o início da competição. Nele, quatro crianças apresentam as instalações esportivas e dão uma amostra do projeto de mobilidade urbana de 2016. No fim, elas encerram mostrando o estádio João Havelange, o Engenhão, que será palco das competições de atletismo.

A citação não passou em branco. Quando os jornalistas foram autorizados a fazer perguntas, somente as duas primeiras tiveram a cerimônia de encerramento como tema principal. Na terceira, um repórter estrangeiro perguntou a Leonardo Gryner, CEO do Comitê Organizador, como seria se Usain Bolt tivesse de defender seus títulos olímpicos no estádio que leva o nome do dirigente, condenado pela Justiça suíça por ter recebido propina de uma parceira da Fifa nos anos 1990.

“Nós estamos orgulhosos de todos os nossos esportistas, do presente e do passado”, disse Gryner. O jornalista insistiu: “Inclusive de João Havelange e Ricardo Teixeira?”. “Não creio que Ricardo Teixeira tenha sido um esportista”, emendou Gryner, que ainda ouviu seu interlocutor insistir na questão sobre Havelange, garoto-propaganda da candidatura do Rio a sede nos Jogos de 2016.

“Vou repetir o que já disse anteriormente. Nós estamos muito orgulhosos do que Havelange fez pelo esporte do Brasil e do mundo. Até onde eu sei, ele já pagou à Justiça pelo que ele fez”, disse o dirigente, visivelmente desconfortável. Na sequência, ele ouviu de um outro jornalista uma questão sobre o mesmo tema.

“Nós nos sentimos confortáveis com um estádio com o nome dele”, resumiu Gryner. Daí em diante, os temas políticos dominaram o encontro. O CEO de 2016 teve de responder sobre as dificuldades da organização, as lições de Londres e até sobre o desempenho esportivo da delegação brasileira, tema da alçada do COB. Enquanto isso, Daniela Thomas e Cao Hamburguer aguardavam perguntas sobre a festa que não viriam mais.

No fim, a reportagem do UOL Esporte questionou Gryner se a insistência no tema Havelange não era um exemplo de que a associação com o ex-cartola pode ser danosa à imagem dos Jogos. Ele negou. “Não acho que nomear um estádio vai sujar a imagem dos Jogos. Até porque o Comitê Organizador não dá nomes a estádios. Neste caso, quem tem o poder de mudar é a cidade do Rio de Janeiro, mas eu reforço que não vejo problema”, concluiu.