Neymar oscila, e Bolt é ação preferencial na bolsa de aposta de Londres-2012

Rodrigo Bertolotto*

Do UOL, em Londres (Inglaterra)

  • Rodrigo Bertolotto/UOL

    Casa de apostas recém-aberta em Londres tenta atrair quem gosta de jogar com resultados esportivos

    Casa de apostas recém-aberta em Londres tenta atrair quem gosta de jogar com resultados esportivos

Ingleses apostam em quase tudo, e não poderia ser diferente nas Olimpíadas. Neymar, por exemplo, liderou o ranking dos candidatos a artilheiro do site Betfair antes dos Jogos começarem, caiu para quarto e agora voltou ao topo. Já Leandro Damião começou em quinto e é agora o vice-líder entre os apostadores.

Já o velocista jamaicano Usain Bolt está no topo das preferências desde sempre. O problema é que, com seu vasto favoritismo para os 200 metros, paga-se pouco para quem aposta em sua vitória. É preciso colocar 15 libras em jogo para ter um lucro de apenas uma libra (R$ 3) se o homem mais rápido do mundo chegar primeiro.

  • Rodrigo Bertolotto/UOL

    Vitrine de casa de apostas diz que Olimpíada também tem vez por lá

Na Inglaterra, as casas de apostas nos últimos anos viraram uma mania que se espalhou por vários outros países da Europa. Em cada bairro, há pelo menos cinco ou seis delas, concorrendo entre si e criando produtos novos. Por isso, as Olimpíadas em Londres caíram como uma luva para quem encara o esporte como uma bolsa de valores e os atletas e times como ações.

A situação de Neymar é sintomática. Muita gente apostou nele porque os relatórios passados para os apostadores apontavam que ele era a grande figura do Brasil, com o bônus de ser o cobrador oficial de pênaltis e faltas da seleção. Já Damião vinha em baixa por ter feito só um gol em dez jogos da seleção antes das Olimpíadas.

O atacante do Internacional-RS, porém, despontou nos campos ingleses, marcou seis tentos e virou agora uma barbada para levar a artilharia olímpica. Neymar, autor de três gols nos Jogos de Londres, teria que fazer quatro gols contra o México na final para superá-lo.

 E ele diz nas entrevistas que não está muito interessado nisso.“Quando dou um passe fico tão feliz quanto faço um gol e quero que meu companheiro [Leandro Damião] seja o artilheiro”, afirmou em entrevista. Já Hulk e Alexandre Pato começaram bem na jogatina, mas suas cotações caíram junto com seus desempenhos em campo.

Os organizadores dos Jogos Olímpicos de Londres montaram uma unidade de inteligência dedicada a investigar grupos de apostadores. O grupo de especialistas monitora padrões de apostas suspeitos e fica atento para possíveis propinas pagas a atletas, como forma de manipular resultados.

"Não se pode subestimar a ameaça que isso representa, porque no momento em que os espectadores começam a sentir que o que estão vendo não é uma disputa de verdade, aí é que os espectadores param de comparecer e tudo desmorona", disse o ministro britânico dos Esportes Hugh Robertson.

"A previsão é que nos próximos dois ou três anos, nós teremos um novo tipo de escândalo de apostas esportivas. O que a gente espera que não seja nas Olimpíadas", completou Robertson.

O ministro protagonizou até um episódio engraçado no assunto. Ele apostou com sua colega da Austrália que os anfitriões iam ter mais medalhas que os visitantes no remo e ganhou. A ministra australiana, Kate Lundy, teve de atravessar os 2.000 metros das raios de Eton Dorney remando para pagar a aposta – com suor e sem dinheiro.

O governo britânico estuda mudar uma lei de privacidade de dados de 2005 sobre apostas para permitir que a polícia e diferentes agências compartilhem dados e evitem fraudes. Também foi criado um e-mail para receber denúncias do público.

O escândalo mais recente de manipulação de resultados na Inglaterra aconteceu no críquete. Em novembro de 2011, três jogadores da seleção do Paquistão foram condenados por agirem sob o comando de apostadores durante uma partida contra a Inglaterra no ano anterior.

Em Londres-2012, houve exemplos de equipes fazendo “corpo mole” nas primeiras fases de competição para caírem numa chave mais fácil para chegar às medalhas. Foi o caso do badminton, modalidade na qual quatro duplas foram eliminadas da competição por entregarem a partida. O público e os dirigentes ficaram revoltados com chinesas e indonésias competindo para ver quem mandava mais saques na rede. Porém,  não houve nenhuma mudança nas apostas nelas para despertar a suspeita do grupo antifraude.

A reportagem do UOL foi a três casas de apostas para verificar o clima olímpico por lá. As apostas em cavalos dominavam o ambiente, seja com nas listagens presas nas paredes, seja no painel de monitores de TV.

Na loja da William Hill, a narração do turfe parecia um mantra para os apostadores que bebericam café e coca-cola enquanto jogam com a sorte. Uma TV mostrava o jóqueis competindo, na outra os velejadores olímpicos. Havia roletas eletrônicas e até boletos da loteria da vizinha Irlanda.

Por lá, as apostas olímpicas são em combos de barbadas. Para apostar no futebol, por exemplo, você escolhe que Brasil vai vencer o masculino, e os EUA levam o feminino. Se as duas coisas se realizarem, para cada libra em jogo o apostador leva oito.

As pessoas têm que colocar seu dinheiro em Bolt para os 100m e 200m  do atletismo, mas só levando o prêmio de nove libras para cada quatro em jogo se os EUA ficarem com ouro no basquete masculino e feminino. Outros combos misturam estrelas olímpicas britânicas, como a nadadora Rebbeca Adlington, o ciclista Chris Hoy e o velejador Bem Aisle. Se um falhar, toda aposta cai por terra. Hoy e Aisle fizeram suas partes, mas Adlington ficou com o bronze.

A reportagem do UOL tentou a sorte em outra casa, a Coral. Apostando contra todos os prognósticos, o boleto para o vitorioso nos 200 metros do atletismo desta quinta não foi para Bolt. A aposta foi em seu conterrâneo Yohan Blake, que sempre está em sua escolta nas provas. “Sem chance. Essa era muito fácil. Acho que você gosta de perder dinheiro”, foi o comentário da jamaicana Sissy Dawson, balconista da loja ao receber as duas libras que podem se transformar em nove se o campeão tropeçar ou se contundir. O futuro ainda não foi escrito, e as casas de apostas vivem disso.

*Colaborou Carlos Padeiro, em Londres

  • Rodrigo Bertolotto/UOL

    Boletos das apostas olímpicas com as cotações de cada partida e cada jogador

UOL Cursos Online

Todos os cursos