Repórter do UOL fura esquema de segurança e entra com camisetas políticas na Olimpíada

Rodrigo Bertolotto

Do UOL, em Londres

  • VOLUNTÁRIO OLÍMPICO/UOL

    Repórter do UOL exibe camiseta com menção política no parque aquático em Londres

    Repórter do UOL exibe camiseta com menção política no parque aquático em Londres

O comitê organizador de Londres -2012 já tinha avisado: não serão toleradas as camisetas com marcas rivais aos patrocinadores dos Jogos nem as que tenham conteúdo político dentro dos ambientes olímpicos de competição.

  • Voluntário olímpico/UOL

    Repórter do UOL aparece com camiseta ligada à política também no local de competições do boxe

Os principais alvos eram a fábrica de refrigerantes Pepsi (concorrente da bebida sem álcool oficial Coca-Cola) e as batidas estampas do guerrilheiro Ernesto “Che” Guevara. 

Mas a reportagem do UOL Esporte entrou em eventos com camisetas proibidas sem problemas em dois dias diferentes. E ainda recebeu elogios dos seguranças e dos voluntários, que estão nos locais das disputas justamente para controlar a circulação de visitantes com algo proibido.

“Cara, que legal essa camiseta. Onde você comprou?”, entusiasmou-se um voluntário logo ao lado das máquinas de raio-x na entrada da torcida para o Excel, local de competição, por exemplo, do boxe e do judô. 

Dentro das arenas, o repórter ainda pediu para dois voluntários tirarem fotos dele com as camisetas e nenhum deles atentou para o conteúdo político delas.

No Aquatic Centre, o ginásio da natação, desfilei com uma estampa do filósofo alemão Karl Marx com a seguinte frase escrita abaixo “I Told You So” (em português, “eu te disse”) em clara referência à atual crise do capitalismo na Europa e nos EUA. Marx poderia ser considerado o “bisavó” de Che Guevara, afinal, suas ideias no século 19 influenciaram todas as revoluções comunistas no mundo do século 20, inclusive a cubana.

Já no complexo de arenas Excel, transitei com uma camiseta que reproduzia o gesto dos atletas norte-americanos negros contra a política racial do país na Olimpíada da Cidade do México em 1968. No lugar da cabeça deles, estavam capacetes dos “storm troopers”, os soldados do mal na série cinematográfica “Guerra nas Estrelas”. E embaixo estava a inscrição “Empire Games”.

A estampa mostra o gesto político mais forte que um atleta já fez em toda a história olímpica. Os velocistas Tommie Smith e John Carlos, ouro e bronze nos 200 metros do atletismo de 1968, ergueram os punhos no pódio para mostrar apoio aos movimentos negros nos EUA. Resultado imediato: perderam suas medalhas e foram expulsos da Vila Olímpica por decisão do COI e seu “espírito olímpico”.

Pois, em Londres-2012, mostrar essa imagem em ambiente olímpico não traz nenhuma expulsão. Outra proibição que não funcionou foi a das máquinas fotográficas com objetivas grandes para os visitantes, principalmente porque hoje em dia muitas câmeras digitais têm zoom profundo para se aproximar dos atletas e das disputas.

As vuvuzelas, populares depois da Copa do Mundo de 2010 na África do Sul, também foram banidas, mas em alguns locais de competição os decibéis chegam bem alto com ou sem elas. Aliás, as buzinas também não podem entrar por lá.

“A Coca-Cola colocou muitos milhões de dólares para patrocinar a Olimpíada e não quer ver as pessoas usando camisetas da Pepsi pelas arquibancadas. Acho importante proteger nossos parceiros comerciais”, argumentou Sebastian Coe, presidente do comitê organizador e ex-fundista olímpico.

O maior exemplo de “propaganda pirata” em grandes eventos foi a cervejaria holandesa Bavaria ter vestido boa parte da torcida laranja com seu logo na Copa do Mundo de futebol de 2006 na Alemanha, que era patrocinada pela multinacional norte-americana Budweiser.

Com o título “lord” após suas façanhas em Moscou-1980, Coe foi parlamentar pelo Partido Conservador. Ele é próximo do primeiro-ministro britânico, David Cameron, e ganha projeção política com a organização dos Jogos até aqui. Ou seja, só pode fazer política quem tem o poder dentro da “família olímpica”.

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